Da Redação
Com Lusa
O ex-Presidente de Cabo Verde Pedro Pires (2001/11) pediu à CPLP que apoie projetos que visam a preservação da memória histórica dos países africanos lusófonos, nomeadamente à Fundação Amílcar Cabral (FAC), a que preside.
Pedro Pires, em visita a Portugal, falava à agência Lusa após uma reunião de trabalho de cerca de uma hora com a secretária-executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Maria do Carmo Silveira, que considerou a ideia extraordinária e garantiu o apoio à iniciativa.
“Discutimos coisas ligadas à memória, à História, ver o que podemos fazer conjuntamente e em que é que a CPLP poderá ser útil nesta matéria. Ver as possibilidades de colaboração e do eventual apoio da CPLP às iniciativas da fundação”, salientou Pedro Pires, o promotor da instituição, criada em 2012.
Instado a ser mais concreto, Pedro Pires, que também foi primeiro-ministro cabo-verdiano entre 1975 e 1991 e recebeu o Prêmio Mo Ibrahim de boa governação em 2011, limitou-se a responder: “a memória, as memórias”.
Também à Lusa, Maria do Carmo Silveira especificou o pedido de Pedro Pires, salientando que o presidente da FAC trouxe “algumas ideias que parecem extraordinariamente importantes” para a criação de uma memória em torno de algumas personalidades da CPLP e, no caso concreto, de Amílcar Cabral.
“Solicitou o apoio da CPLP para a candidatura da inscrição das memórias de Amílcar Cabral num programa mundial de preservação as memórias da UNESCO. É uma ideia extraordinária que a CPLP deve abraçar e vamos ajudar a seguir os procedimentos normais para o efeito”, afirmou.
Maria do Carmo Silveira destacou que a organização lusófona já ajudou, no passado, na promoção de projetos com características semelhantes, destacando o caso da candidatura de Mbanza Congo (Angola) a Patrimônio Mundial.
A responsável da CPLP lembrou a importância da ideia de Pedro Pires, que abre muitas portas também para a criação de “memórias cruzadas” da comunidade lusófona, dando como exemplos o antigo Campo de Contração do Tarrafal de Santiago (Cabo Verde) e as roças em São Tomé e Príncipe.
“É o caso do Tarrafal, que foi um ponto de encontro de personalidades de vários países da CPLP [nacionalistas angolanos, cabo-verdianos e guineenses] que aí estiveram detidos muito tempo [1961/1974]. Falamos também das roças de São Tomé [e Príncipe], que são também um ponto de encontro das histórias dos nossos países”, disse.
“As roças foram propriedades de portugueses, geridas por portugueses, seguindo os modelos das fazendas brasileiras, para onde iam trabalhar «contratados» vindos de Cabo Verde, Angola e Moçambique. A história dos nossos países cruza-se também aí”, realçou Maria do Carmo Silveira.
A secretária-executiva da CPLP adiantou que estes exemplos são apenas dois dos muitos que têm de ser divulgados, sobretudo junto das novas gerações.
“A preocupação é com a preservação da memória. São ideias fabulosas que certamente a CPLP irá abraçar”, concluiu.