Peças valiosas da Biblioteca Municipal redescobertas após chuvas em Petrópolis

Dentre os achados, foi encontrado um mapa do século XVIII, mais precisamente de 1757. À época, o Brasil ainda era colônia de Portugal. A cartografia traz informações sobre as movimentações da Coroa Portuguesa e da Espanha

Da Redação

A equipe que trabalha no salvamento e conservação do acervo da Biblioteca Municipal Gabriela Mistral tem descoberto peças valiosas em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Mapas e livros históricos para o Brasil, incluindo relações com outros países, foram redescobertos no andar térreo, após as ações de limpeza emergenciais feitas devido às chuvas.

“O acervo da nossa biblioteca é riquíssimo. Após resgatarmos os materiais da inundação no andar térreo, estamos trabalhando na limpeza, conservação curativa e iniciando os trabalhos de restauração. Na reorganização do acervo, acabamos realizando descobertas que estavam fora do catálogo. Em breve, tudo isso estará novamente à disposição do público”, explicou a presidenta do Instituto Municipal de Cultura, Diana Iliescu.

A Biblioteca Gabriela Mistral é considerada a terceira maior e mais importante do Estado do Rio de Janeiro, com um acervo de 150 mil volumes. Boa parte destas obras não foi atingida, já que ficava nos andares mais altos. No entanto, 8 mil exemplares que ficavam no térreo foram impactados pela inundação, que chegou a 1,60 m de altura.

“Esse trabalho de resgate começou no dia 19 de fevereiro. É gratificante poder receber a ajuda de colaboradores que entenderam a importância da Biblioteca para a sociedade, e também as instituições parceiras, como Arquivo Nacional, o Museu Imperial, a Fiocruz, o Conselho Regional de Biblioteconomia da 7ª Região e a Aperj (Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro), que estiveram presentes aqui dando apoio e contribuindo com orientações”, afirmou a gerente da Biblioteca, Lorena de Oliveira Cristiano, lembrando também de doações de instituições e voluntários.

Disputas de terra

Dentre os achados, foi encontrado um mapa do século XVIII, mais precisamente de 1757. À época, o Brasil ainda era colônia de Portugal. A cartografia traz informações sobre as movimentações da Coroa Portuguesa e da Espanha nas chamadas Guerras Guaraníticas, quando povos da etnia Guarani lutaram pelas terras próximas ao Rio Uruguai.

Essa e outras peças – como uma coleção de documentos que mostram a disputa entre Portugal e Inglaterra pela Guiana Inglesa – encantaram o historiador e professor universitário Felipe Monteiro, um dos colaboradores no trabalho de salvamento das obras.

“Soube da enchente e imaginei que o acervo geral tivesse sido atingido. O que me surpreendeu foi o acervo incomum que encontramos aqui para uma biblioteca municipal. Para mim, que sou historiador e já trabalhei com arquivos em vários lugares do país, foi surpreendente e muito gratificante poder salvar essas obras, algumas muito valiosas”, explicou.

Uma suspeita é que, tanto o mapa das Guerras Guaraníticas quanto a coleção da Guiana Inglesa, tenham sido em algum momento parte da propriedade do Barão do Rio Branco, que foi um importante diplomata brasileiro, com casa em Petrópolis. Mas ainda são necessárias investigações para descobrir corretamente a origem do material. Além dos materiais citados, já foram encontradas outras obras, como um mapa do Continente Europeu em alemão.

Trabalhos continuam

Em uma sala reservada, as equipes limpam e secam os livros, com cuidados como luvas e máscaras, já que algumas obras foram contaminadas por agentes biológicos, como fungos. Assim como o historiador, outros apaixonados pela biblioteca se colocaram à disposição para ajudar.

“Me coloquei à disposição com a minha experiência, pois isso é um patrimônio da cidade e da história do nosso país. Muitas pessoas precisam dessa biblioteca para estudo. É um grande prazer estar aqui fazendo esse trabalho”, afirmou o conservador de documentos Maurício Mendonça, que tem ampla experiência em cultura e preservação de patrimônio.

A importância da Biblioteca também ultrapassa gerações. Desde que foi fundada, em 1871, tem servido de fonte de pesquisa a diversos estudantes. Foi o caso da tecnóloga em papel e tela, Margarete Mattos, que também atua na força-tarefa. “Vim imediatamente, pois eu e minha filha utilizamos a biblioteca. Foi imediata minha adesão”, disse.

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