Paulo Cafôfo instala Conselho Social para portugueses na Venezuela

O secretário Paulo Cafôfo na primeira reunião do Conselho Social para a Venezuela. Foto divulgação

Mundo Lusíada com Lusa

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas instalou, na sexta-feira, o Conselho Social para a Venezuela, iniciativa que procura facilitar a resposta de Lisboa na atenção à comunidade e que espera seja replicada noutros países.

“Achei, como secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que era o momento de criarmos um Conselho Social. A pergunta que se coloca é porquê criar um Conselho Social? Porque, além das medidas que nós implementamos, e aqui relembro que temos recentemente um adido social aqui na Venezuela, precisamos de congregar esforços”, explicou à Lusa Paulo Cafôfo.

“Há as medidas do Governo e há uma sociedade civil, um grupo de pessoas, de associações, de centros, que no seu dia a dia também têm um aspeto de solidariedade que importa aqui a realçar”, acrescentou.

O responsável referiu ainda “os cônsules honorários, a rede consular, o Consulado-Geral de Caracas e o de Valência”, bem como “os conselheiros da diáspora madeirense aqui da Venezuela e é por isso que todas estas pessoas precisam de trabalhar em equipa e em rede”.

“Por isso, esse Conselho Social vai ter uma missão de reforçar apoios, mas também de agilizar esses apoios, identificando necessidades, propondo medidas e implementando também no terreno ações que venham a ser decididas”, frisou o secretário de Estado português, à margem da instalação do Conselho Social, com a presença de representantes de instituições luso-venezuelanas e diplomatas.

Para Cafôfo, “é uma partilha de experiências, mas acima de tudo, a definição de uma ação concreta que possa rentabilizar ainda mais aquilo que cada um faz”.

“E este Conselho Social é o primeiro a ser criado no âmbito da diáspora portuguesa e acredito que possa ser replicado em outras partes do mundo, em outros países, onde a ação social e intervenção social por parte do Governo possa fazer a diferença nestas comunidades”, explicou.

Questionado sobre a crise na Venezuela, o político frisou que existir uma realidade que não se pode esconder: “A Venezuela atravessa uma crise econômica. Às vezes com ciclos, momentos melhores, momentos piores, mas é verdade que a tendência tem sido nos últimos anos uma situação econômica que tem afetado a vida das pessoas e dos portugueses e das portuguesas que vivem aqui neste país”.

“E, portanto, eu não vou estar aqui no campeonato de discussão se a Venezuela está melhor ou pior. Aquilo que sei é que há portugueses que têm necessidades e que precisam da cooperação e de uma ação concreta por parte do Governo, e que o Governo possa também aqui fomentar a coesão e a solidariedade de toda esta comunidade”, disse.

O secretário de Estado frisou ainda que “o foco é ajudar” quem precisa: “A ajuda do Governo português não desresponsabiliza a ação do Governo da Venezuela, porque obviamente estamos em território venezuelano e o Governo da Venezuela também tem responsabilidades”.

Paulo Cafôfo iniciou sexta-feira uma visita de sete dias à Venezuela, na qual se faz acompanhar pelo secretário de Estado da Segurança Social, Gabriel Bastos.

Durante a visita, que incluiu contatos com a comunidade portuguesa e lusodescendente, Paulo Cafôfo faz uma avaliação dos apoios sociais prestados a portugueses em cinco regiões da Venezuela.

Questionado sobre eventuais contactos com as autoridades venezuelanas, explicou que “há aqui um trabalho que é feito sistematicamente por parte do senhor embaixador de Portugal na Venezuela. Ele tem tido essa interação com as autoridades”.

Enxurradas

Neste dia 04, o SECP anunciou que Portugal vai pedir às autoridades venezuelanas uma reestruturação e flexibilização dos créditos atribuídos a cidadãos portugueses afetados pelas enxurradas de outubro de 2022 que mataram pelo menos 50 pessoas, entre elas três lusitanos.

O anúncio foi feito por Paulo Cafôfo, após uma reunião com dezenas de portugueses que viram as suas propriedades afetadas e à qual a imprensa não teve acesso.

“Esta visita a Las Tejerías acaba por ser uma visita muito emocionante, porque eu estive aqui logo após a catástrofe, falei com as pessoas, estive com a vice-presidente do Governo [Delcy Rodríguez] e com uma série de ministros e é novamente uma emoção reencontrar estas pessoas que tive a oportunidade de lhes dar um abraço de conforto desde a primeira hora”, começou por explicar o secretário de Estado à Lusa.

“E cá estou novamente, particularmente para voltar a falar com elas e fazermos um ponto de situação relativamente à evolução de toda a situação”, sublinhou Cafôfo.

“O Governo português aqui tem limitações, porque estamos no Estado soberano, em que não podemos interferir na governação e nas opções do Governo da Venezuela”, admitiu o secretário de Estado.

“Mas, tenho que aqui dizer que estamos a acompanhar a situação, que estamos gratos por aquilo que já foi feito pelo Governo da Venezuela. Nomeadamente toda a parte imediatamente a seguir a enxurrada, de limpeza, de maquinaria que esteve a desobstruir as zonas que foram afetadas”, acrescentou.

“Por essa razão, fizemos aqui um balanço relativamente a tudo aquilo que foi feito” (…), mas, apesar deste nosso agrado pela intervenção do Governo da Venezuela, há aqui situações que merecem da nossa parte uma intervenção, nomeadamente através da nossa embaixada de Portugal em Caracas”, afirmou.

O secretário de Estado mencionou “situações em que as pessoas requereram linhas de crédito dadas pelo Governo [venezuelano], mas cujas condições de financiamento obviamente não são vantajosas e inviabilizam o uso dessas mesmas verbas das linhas de crédito”.

“Aquilo que faremos é, com informação clara, precisa e com toda a transparência, requerer a reestruturação, a revisão, uma maior flexibilização também dos critérios da atribuição dessas linhas de crédito”, explicou o governante.

“Esta é uma questão assumida numa reunião com estes cidadãos portugueses. Outra questão é a situação de propriedades que, sendo consideradas em linhas de água ou em zonas de risco, que possa haver uma compensação justa da sua expropriação”, frisou.

“Estas são duas das questões que aqui nos foram expostas e temos esse dever, um dever até moral, de defender estes nossos cidadãos perante o Governo e as autoridades da Venezuela”, acrescentou.

Em outubro de 2022, pelo menos 50 pessoas morreram num aluimento de terras em Las Tejerías, no centro da Venezuela, entre eles três cidadãos portugueses.

Durante três semanas as chuvas causaram deslizamento de terra e inundações em metade dos 24 estados da Venezuela, onde milhares de pessoas perderam parcial ou totalmente as suas casas e outras propriedades.

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