Partidos: No 25 Abril, BE pede país governado pela Constituição e cita situação do Brasil

Mundo Lusíada
Com Lusa

A deputada do BE Isabel Pires defendeu neste 25 de Abril que na “geração dos filhos de Abril” são “todos Serviço Nacional de Saúde”, pedindo um país governado pela Constituição “e não para as contas de uma folha de Excel”.

No discurso da sessão solene comemorativa do 44.º aniversário do 25 de Abril, no parlamento, Isabel Pires começou por chamar a atenção para a existência de presos políticos “aqui ao lado”, lamentando a falta de “uma solução política para a Catalunha”, uma vez que a “monarquia espanhola está a esmagar as mais elementares garantias de um Estado de Direito”.

A deputada do BE pediu “um país governado pela ideia da sua Constituição, a Constituição de Abril, e não para as contas de uma folha de excel”. “Porque as contas que importa acertar não se atingem pela lente dos tratados orçamentais, mas com uma economia que funcione para todos e não apenas para uns poucos”, concretizou.

Além da questão dos presos políticos da Catalunha, a parlamentar bloquista não esqueceu a situação no Brasil, avisando que se podem “matar um homem ou uma mulher, mas nunca as suas ideias”, em referência a vereadora assassinada no Rio de Janeiro.

“Se os democratas brasileiros chamam por nós, resta-nos uma resposta: país de Abril, presente! Não vos viramos as costas. Nenhum golpe antidemocrático passará sem a nossa denúncia”, garantiu.

Tudo o que falta fazer, continuou Isabel Pires, “da educação à habitação, da justiça ao trabalho” é preciso “colocar na agenda política”.

“Caberá tudo isto num orçamento? Não, mas certamente passa por ele. Será que agrada ao Eurogrupo? Provavelmente não, mas Abril nunca rimou com Eurogrupo”, disse, com o presidente desta entidade e ministro das Finanças, Mário Centeno, sentado na bancada do Governo.

A deputada do BE disse não querer “um regresso ao passado, porque isso é a precariedade do presente”, nem “um país fechado” uma vez que “para isso já basta a União Europeia”.

“Quero um país aberto à Europa e ao mundo. Que se solidariza com os povos e as suas lutas emancipatórias, que acolhe os que fogem da guerra, da fome, e da miséria. Que protege os seus dos achaques dos mercados financeiros e da predação e arrogância das multinacionais”, defendeu.

Para Isabel Pires, “a Serviço Nacional de Saúde é dos maiores manifestos à liberdade e à igualdade da sociedade portuguesa”, uma vez que “acolhe e trata da mesma forma ricos e pobres, empregados e desempregados, refugiados ou membros do Governo”.

“Em pouco mais de quatro décadas projetou o país de elevadas taxas de mortalidade infantil para os melhores indicadores de saúde mundial”, elogiou, rejeitando a caricatura do SNS que “o transforma num alçapão para negócios privados”.

PSD pede combate à corrupção
A deputada do PSD Margarida Balseiro Lopes elegeu o combate à corrupção e a transparência no sistema político como prioridades, num discurso em que sublinhou que a liberdade “é de todos”, cumprimentando os dirigentes dos cinco principais partidos.

A recém-eleita líder da JSD, de 28 anos, lamentou que a política portuguesa esteja cada vez mais fragmentada e com divisões entre “o povo e, eles, os políticos”.

“A atividade parlamentar não é um campeonato, onde os nossos ganham ou perdem, e as vitórias de uns são as derrotas de outros. A atividade parlamentar tem de exigir que as pessoas ganhem, que o país ganhe: porque demasiadas vezes, para que os partidos ganhem, são as pessoas que perdem”, afirmou.

Considerando que há assuntos em que os políticos não ouvem suficientemente o que o povo reclama, Balseiro Lopes apontou como o mais central “o combate à corrupção e a defesa do Estado e do erário público da captura por interesses particulares”.

“Temos de ter a coragem para reformar o sistema político, introduzindo transparência para que sejam conhecidos todos os interesses em causa em todas as decisões tomadas pelos poderes públicos. A transparência tem de ser a regra do funcionamento democrático”, defendeu.

Salientando que “o exemplo vem de cima”, a deputada defendeu que “a opacidade só serve os prevaricadores, os menos sérios, os corruptos” e promove a generalização de que os políticos “são todos iguais”.

Margarida Balseiro Lopes defendeu que a liberdade conquistada no 25 de Abril deve ser reconquistada todos os dias e “é de todos”, dirigindo depois uma palavra aos cinco líderes dos partidos com assento parlamentar.

“Nós, os mais novos, temos tido, desde que nascemos, acesso a oportunidades que as gerações anteriores apenas puderam sonhar. Somos, por isso, o produto de um Portugal sonhado”, disse, alertando que nem por isso os atuais jovens prescindem de defender essa liberdade.

CDS-PP: “Abril falhou” nos incêndios
Já a deputada do CDS-PP Ana Rita Bessa lembrou os incêndios de 2017, defendendo que “Abril falhou em junho e em outubro”, quando o Estado democrático “não soube proteger nem socorrer” comunidades que ficaram sozinhas.

“Democracia é dar garantias a todos, porque todos valemos o mesmo, vivamos numa cidade cosmopolita ou numa aldeia do interior. A nossa Liberdade, como portugueses, só é verdadeira se o for para todos, se existir para todos. A verdade é que 44 anos depois, Abril falhou em Junho e em Outubro”, defendeu Ana Rita Bessa.

Na intervenção, o CDS defendeu que os incêndios que vitimaram mortalmente mais de 100 pessoas em 2017 mostraram que o “Estado democrático falhou às pessoas que não soube proteger nem socorrer, às comunidades que ficaram sozinhas a combater os incêndios, às famílias que ficaram isoladas no centro do país”.

Ana Rita Bessa iniciou o seu discurso com uma nota pessoal, lembrando o avô de esquerda que sofreu as “agruras destinadas a quem era do contra”, com quem foi educada, na lisboeta zona de São Bento.

A deputada reuniu também muitas das ideias que o CDS, o único partido a votar contra a Constituição de 1976, costuma evocar nas comemorações da revolução dos cravos, designadamente a de não existem “proprietários do 25 de Abril”.

PS evoca luta das mulheres
A deputada socialista Elza Pais evocou a história de “luta e resistência” de muitas mulheres portuguesas pela democracia, liberdade e igualdade, num discurso em que elogiou o combate do Governo contra as fraturas sociais. Elza Pais também é presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas.

Para a dirigente, celebrar o 25 de Abril “é recordar vidas de luta e resistência, é recordar as mulheres que viveram pela liberdade, tantas vezes esquecidas pela história, mas que estiverem sempre lá em momentos únicos e decisivos”.

“Discursaram, aderiram a causas, correram riscos, foram condenadas, sofreram incompreensões, injúrias e agressões, mas lutaram sempre, sempre, pela emancipação, pela educação e pela liberdade. Celebrar Abril é manter bem viva a memória e os legados de Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher portuguesa, pioneira na Europa, a conquistar o direito ao voto”, disse, numa intervenção em que também evocou o legado de personalidades como Maria Lamas, Maria de Jesus Barroso e Maria de Lurdes Pintasilgo.

“É importante que as jovens e os jovens saibam o que andámos para aqui chegar. Saibam as batalhas duras, de resistência, das nossas mães e dos nossos pais, onde, muitas vezes, se jogava, tudo ou nada”, referiu Elza Pais, antes de homenagear “os capitães de Abril, de Salgueiro Maia a Vasco Lourenço”.

Na sua intervenção, a antiga secretária de Estado da Igualdade dos executivos liderados por José Sócrates falou também sobre avanços civilizacionais ocorridos já na presente legislatura com a garantia de “igual dignidade legal à hétero e à homoparentalidade”.

“Foi agora, neste mês Abril, que aprovamos nesta casa, com convergências diversas de vontades, leis civilizacionais contra o sofrimento humano – leis que irão quebrar o teto de vidro que impede as mulheres de chegarem aos lugares topo, de poder, onde realmente se decide”, declarou, numa alusão à proposta do Governo para o reforço da paridade nos cargos do Estado.

Elza Pais aproveitou então para observar que as mulheres são pioneiras na ciência e na matemática, são artistas, escritoras e cineastas. E ainda sobre a recente vaga de emigração no período de resgate financeiro de Portugal e da falta de oportunidades profissionais para os mais jovens.

Um grupo de deputados do PS cantou a Grândola Vila Morena, canção-senha do 25 de Abril, no hemiciclo da Assembleia da República, após a sessão comemorativa dos 44 anos da Revolução dos Cravos.

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