Partidos IL e Chega defendem demissão do ministro João Gomes Cravinho

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho (C), durante a audição na Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República, Lisboa, 31 de outubro de 2022. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

Nesta quinta-feira, a IL defendeu que o ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, “tem de sair do Governo”, considerando que “teve todas as oportunidades para clarificar” a sua relação com o ex-governante Marco Capitão Ferreira.

Marco Capitão Ferreira demitiu-se de secretário de Estado da Defesa no início de julho, no dia em que foi constituído arguido no âmbito da operação ‘Tempestade Perfeita’, suspeito dos crimes de corrupção e participação econômica em negócio, e alvo de buscas, que também ocorreram nas instalações da Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional.

“Sendo verdade todos os fatos que estão relatados, em detalhe, nesta reportagem [da Visão] não há de todo condições para João Gomes Cravinho continuar como ministro dos Negócios Estrangeiros do atual Governo, porque já não é uma questão de responsabilidade política, é também uma questão da dignidade do Estado português”, disse, em declarações aos jornalistas no parlamento, o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva.

Agora que foram divulgados mais “episódios relativamente àquilo que é o envolvimento de Marco Capitão Ferreira e a relação com o ministro João Gomes Cravinho”, o liberal considerou que Portugal não pode ter a “representar o Estado uma pessoa que tem suspeitas como aquelas que estão em torno de quando era ministro da Defesa”.

“Há uma relação muito próxima entre Marco Capitão Ferreira e João Gomes Cravinho. Não podemos ter uma pessoa envolvida neste enredo a representar o Estado português por esse mundo fora. Não há condições. João Gomes Cravinho tem de sair do Governo”, insistiu.

Segundo Rodrigo Saraiva, “João Gomes Cravinho teve todas as oportunidades para clarificar a sua relação com Marco Capitão Ferreira”.

“Esta comissão informal, esta comissão fantasma, como o próprio Capitão Ferreira a designa, esteve reunida com João Gomes Cravinho no dia 5 de Abril [de 2019]. Portanto, João Gomes Cravinho não pode refugiar-se nessa desculpa de que ‘aí não me perguntaram’”, acrescentou ainda.

Segundo a edição da Visão de hoje, entre fevereiro e março de 2019, Marco Capitão Ferreira assessorou a Direção-Geral de Recursos e Defesa Nacional no contrato relativo aos helicópteros EH-101 ao mesmo tempo que trabalhou para o gabinete do então ministro da Defesa, integrado numa alegada “comissão fantasma” que tinha como objetivo realizar um estudo.

Chega

Também o Chega voltou a defender a demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo titular da Defesa Nacional, alegando que Cravinho “mentiu ao parlamento” sobre o ex-secretário de Estado Marco Capitão Ferreira.

“O que sabemos hoje é que João Cravinho mentiu e voltou a mentir na audição que teve no parlamento. A consequência parece-me evidente, que João Cravinho não tem nenhumas condições para se manter como ministro dos Negócios Estrangeiros porque enquanto ministro da Defesa falhou, mas também porque enquanto atual governante continua a mentir aos portugueses e mentiu ao parlamento”, defendeu o líder do Chega num vídeo divulgado à comunicação social.

João Gomes Cravinho foi ouvido no parlamento na sexta-feira, conjuntamente com a atual ministra da Defesa, devido às polêmicas que envolvem Marco Capitão Ferreira, e não referiu que o ex-secretário de Estado tenha trabalhado diretamente consigo naquela altura.

“Estas notícias hoje conhecidas trazem-nos a certeza de que João Cravinho continua a esconder o essencial da relação que mantinha enquanto ministro da Defesa com Marco Capitão Ferreira”, considerou o presidente do Chega, acusando o ministro de uma “contínua mentira em que se enlaçou para procurar esconder os factos quer do país, quer da imprensa, quer dos partidos da oposição”.

André Ventura apontou que “só há duas soluções: ou João Cravinho sai pelo próprio pé, procurando assegurar uma última réstia de dignidade, ou o senhor primeiro-ministro tem que o demitir”, defendendo que “não há outra saída” porque “é o prestígio e a qualidade das instituições que está verdadeiramente em causa”.

“A idoneidade de alguém para ser ministro é, acima de tudo, dizer a verdade aos portugueses e ao parlamento ao qual responde. Tudo isso foi violado gravemente pelo ministro Cravinho e não há outra consequência que não seja a demissão que possa ser aceitável para nós”, insistiu.

Apontando que “a colaboração de Marco Capitão Ferreira com João Cravinho já vinha de trás”, o líder do Chega afirmou que “já teria existido um grupo de trabalho que, na clandestinidade e de forma absolutamente informal, trabalhava para João Cravinho”.

“Significa que João Cravinho desde o início teve noção e consciência e quis deliberadamente manter Marco Capitação Ferreira no âmbito de todas as assessorias e negócios agora considerados mais suspeitos pelas autoridades e denunciados pela imprensa”, acusou.

Marco Capitão Ferreira tomou posse como secretário de Estado da Defesa Nacional em março de 2022, desde o início do atual Governo, e antes foi presidente do conselho de administração da idD Portugal Defence, a ‘holding’ que gere as participações públicas nas empresas da Defesa – cargo que assumiu em 2020 e para o qual foi nomeado por Gomes Cravinho.

PSD

Já o líder parlamentar do PSD considerou que o ministro está “muito fragilizado” e acusou-o de ter omitido “informação relevante” ao parlamento, considerando que o primeiro-ministro tem que explicar se mantém a confiança no governante.

“O que aqui é importante é que o primeiro-ministro venha esclarecer o que se passou e venha dizer se mantém a confiança política no seu ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar de ele estar muito fragilizado e ainda por cima, sendo ministro e ministro de uma área de soberania, é para nós bastante grave”, disse, em declarações à agência Lusa Joaquim Miranda Sarmento.

Segundo o social-democrata, “o PSD não costuma pedir a demissão de ministros porque a formação do Governo é uma competência do senhor primeiro-ministro”.

“O senhor primeiro-ministro é que tem que vir explicar se mantém a confiança no seu ministro dos Negócios Estrangeiros e se acha normal ter um ministro, ainda para mais numa área de soberania, visado em tantos casos e com tantas situações por esclarecer”, enfatizou.

Miranda Sarmento afirmou que João Gomes Cravinho, “na qualidade anterior de ministro da Defesa, tem já várias situações que o fragilizam muito do ponto de vista político”, dando como exemplos as obras do Hospital Militar e os casos envolvendo o ex-secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira.

Na audição no parlamento, na passada sexta-feira, o antigo ministro da Defesa e atual ministro dos Negócios Estrangeiros assegurou que não indicou Marco Capitão Ferreira para a polêmica assessoria prestada à Direção-Geral de Recursos da Defesa, remetendo a responsabilidade para o antigo responsável Alberto Coelho.

“Antecipando já alguma questão neste sentido, acrescento que não houve, em nenhum momento, qualquer indicação da minha parte a esse respeito, até porque não me competia interferir no funcionamento interno da DGRDN [Direção-geral de Recursos da Defesa]”, afirmou João Gomes Cravinho.

Em causa está um contrato de assessoria no âmbito da renegociação dos contratos de manutenção dos helicópteros EH-101, assinado entre a DGRDN e Marco Capitão Ferreira no valor 61,5 mil euros e que foi executado em quatro dias.

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