Partidos em Portugal criticam após manifestações que “não cumpriram regras”

Arquivo: Manifestação antirracista e antifascista "Não ao racismo – concentração pacífica contra o racismo", no Porto, 6 de junho de 2020. A manifestação organizada pela Frente Unitária Antifascista (FUA) e Plataforma Antifascista Lisboa e Vale do Tejo (PALVT). FERNANDO VELUDO/LUSA
Manifestação antirracista e antifascista “Não ao racismo – concentração pacífica contra o racismo”, no Porto, 6 de junho de 2020. A manifestação foi organizada pela Frente Unitária Antifascista (FUA) e Plataforma Antifascista Lisboa e Vale do Tejo (PALVT), juntou-se ao protesto marcado “Resgatar o Futuro, Não o Lucro”. FERNANDO VELUDO/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

O presidente do CDS-PP considerou que existem “dois pesos e duas medidas” quando no fim de semana se realizaram manifestações em Portugal que “não cumpriram as regras de saúde pública” mas as empresas têm limitações devido à covid-19.

“Este fim de semana assistimos a manifestações que foram autorizadas, e que não cumpriram as regras de saúde pública e sanitárias que foram decretadas, ao mesmo tempo que os ginásios têm que obedecer escrupulosamente às regras de limitação de espaços, que os restaurantes continuam a ter que garantir que essas normas sanitárias são cumpridas, que os nossos filhos não podem ir à escola nem praticar desportos coletivos, que as escolas estão fechadas”, afirmou.

Francisco Rodrigues dos Santos comentou as manifestações antirracismo que se realizaram no fim de semana em vários pontos do país, e considerou que “o Governo começa a criar algumas divisões e fraturas na sociedade, que não são nada benéficas num período em que se esperava estabilidade e um aumento da confiança dos consumidores para que essa retoma da atividade econômica se desse”.

“E dá vontade de perguntar por que é que há portugueses de primeira e portugueses de segunda, por que é que há dois pesos e duas medidas, o que é verdadeiramente incompreensível e acaba por dividir a sociedade portuguesa numa altura em que devíamos estar unidos no combate ao covid”, criticou.

“Estes sinais contraditórios e equívocos, onde parece que uns são filhos e outros são enteados, pese embora a bondade das causas que estão a ser defendidas, não pode servir para agravar as desigualdades numa altura em que muitos portugueses estar a passar dificuldades”, salientou Francisco Rodrigues dos Santos, pedindo ao Governo que seja “firme” e “claro na mensagem que passa aos portugueses, para que todos os comportamentos responsáveis e no âmbito da saúde pública adequados a este período que estamos a viver, sejam cumpridos por todos”.

“Porque na altura em que aqueles que mandam perdem o respeito, aqueles que obedecem passam a levar as suas vidas de acordo com o seu arbítrio e a sua liberdade”, advertiu.

Apontando que “não há liberdade se não houver segurança”, Rodrigues dos Santos apelou a um combate ao racismo com “todas as forças” mas pediu uma valorização do papel as forças de segurança, “que precisam de ser respeitadas”.

“O racismo é um crime contra a nossa civilização, que nos horroriza e que tem que ser combatido. Mas ele não se combate com ataque às nossas forças de segurança e aos nossos políticas, que nos defendem em nome da nossa liberdade”, vincou o presidente do CDS, considerando que os agentes das forças de segurança “têm sido verdadeiros heróis” durante a pandemia.

Também o presidente do PSD, Rui Rio, criticou o Governo e questionou o critério para “permitir ajuntamentos” em tempos de pandemia de covid-19, na sequência das “manifestações de esquerda” durante o fim de semana.

Numa publicação na sua conta no Twitter, Rui Rio faz a pergunta e dá uma resposta em tom irônico.

“Qual será o critério para o Governo permitir ajuntamentos? Funerais, futebol, missas, discotecas, desporto em geral, não! Comícios e manifestações de esquerda, sim! Esperemos que o vírus entenda aquilo que mais ninguém consegue entender”, lê-se no ‘tweet’.

No sábado, milhares de portugueses saíram em rua em manifestações contra o racismo nalgumas cidades portugueses, em solidariedade para com outras ações do género que evocam a morte de George Floyd, um afro-americano de 46 anos que morreu em 25 de maio, em Minneapolis (EUA), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção.

Nesta manifestação, muitos usaram máscara, mas o distanciamento social imposto pela prevenção da covid-19 esteve bastante longe de ser cumprido.

No domingo, o PCP organizou um comício, em Lisboa, com lugares marcados e distância entre os militantes, muitos deles de máscara, no jardim Amália Rodrigues, no alto do parque Eduardo VII, contra a perda de direitos em tempos de pandemia.

Presidente comenta

O Presidente português disse confiar “muito” nas autoridades sanitárias a propósito das regras para as manifestações, reagindo às iniciativas ocorridas em homenagem a George Floyd.

“Eu tenho confiado muito nas autoridades sanitárias, portanto espero que as autoridades sanitárias vão definindo regras para aquilo que, em cada momento, é o exercício do direito de reunião e direito de manifestação”, disse Marcelo de Rebelo de Sousa, nos Açores.

O Presidente da República disse procurar um “equilíbrio” entre a saúde e a “abertura econômica e social”.

“Tenho procurado fazer um equilíbrio entre a preocupação de saúde, o vírus não desapareceu, a pandemia não desapareceu e a abertura econômica e social. Um regresso, como eu digo, com pequenos passos”, afirmou.

A ministra da Saúde disse que se revê no motivo do protesto contra o racismo que juntou milhares de pessoas em várias cidades do país, mas voltou a apelar ao civismo de manifestantes e organizadores, em contexto de pandemia.

“Todos nos revemos” – garantiu Marta Temido – nos motivos das manifestações que aconteceram, no sábado, em Lisboa, Porto, Braga, Coimbra e Viseu, no quadro da campanha de solidariedade mundial contra o racismo e a violência policial.

“Não estamos em estado de emergência e, portanto, o direito à manifestação existe e cabe aos organizadores dessas manifestações garantirem que as regras de saúde pública (…) são cumpridas”, frisou a ministra da Saúde, quando questionada sobre a sua opinião em relação aos protestos nas ruas, na habitual conferência de imprensa diária sobre a situação da Covid-19.

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