Da Redação
Com Lusa
A Câmara Municipal de Paris concedeu esta quinta-feira o título de Cidadão Honorário ao ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, em reconhecimento pelo seu compromisso de reduzir as desigualdades sociais e econômicas no país sul-americano.
O ex-líder brasileiro, de 73 anos, que governou o país entre 2003 e 2011, cumpre pena de prisão de oito anos e dez meses por corrupção e lavagem de dinheiro.
A edilidade parisiense disse que, com a sua ação de apoio aos desfavorecidos, Lula ajudou a tirar da extrema pobreza e a aceder a direitos e serviços essenciais cerca de 30 milhões de brasileiros. O comunicado acrescentou ainda que o antigo chefe de Estado se destacou “pela sua política voluntária de combater a discriminação racial, particularmente marcada no Brasil”.
A concessão da cidadania de honra foi aprovada pelo Conselho de Paris, órgão plenário do consistório da capital francesa, em consonância com a defesa dos direitos humanos e o livre exercício de cargos públicos.
O Ministério Público Federal (MPF) pediu na sexta-feira à Justiça para que Lula da Silva passe para o regime semiaberto, para cumprir o resto da sua pena, pelo que poderá deixar a cadeia durante o dia para poder trabalhar.
Lula, de 73 anos, está preso desde 7 de abril de 2018 numa cela especial da Polícia Federal no Paraná. Na segunda-feira passada, completou um sexto da sua sentença de oito anos e 10 meses por corrupção, o que lhe dá direito a mudar para o regime semiaberto ou mesmo domiciliário.
Contudo, para o histórico líder do Partidos dos Trabalhadores (PT) sair da prisão sem ter a alegada inocência restabelecida não faz parte dos seus planos.
Luiz Inácio Lula da Silva disse na segunda-feira, numa carta, que se recusa a sair da prisão e progredir para regime semiaberto, afirmando que não aceita “barganhar” (troca desonesta) os seus direitos e liberdade.
“Ao povo brasileiro: não troco a minha dignidade pela minha liberdade. (…) Quero que saibam que não aceito barganhar os meus direitos e a minha liberdade. Já demonstrei que são falsas as acusações que me fizeram. São eles e não eu que estão presos às mentiras que contaram ao Brasil e ao mundo”, afirmou Lula, numa carta redigida manualmente e publicada nas redes sociais do ex-chefe de Estado.
“Tudo o que os procuradores da Lava Jato [operação contra a corrupção e responsável pela prisão de Lula] realmente deveriam fazer é pedir desculpas ao povo brasileiro, aos milhões de desempregados e à minha família, pelo mal que fizeram à democracia, à justiça e ao país”, concluiu Lula da Silva na carta.
Lançada em 2014, a Lava Jato, maior operação contra a corrupção no Brasil, trouxe a público um gigantesco esquema de corrupção de empresas públicas, implicando dezenas de altos responsáveis políticos e econômicos, e levou à prisão de muitos deles, como Lula da Silva.
No último mês, o presidente francês e o atual presidente brasileiro Jair Bolsonaro trocam farpas, após as notícias de aumento de queimadas na região da Amazônia. Acusando Jair Bolsonaro de ter mentido sobre os seus compromissos com o meio ambiente, Paris anunciou que se opõe ao tratado UE-Mercosul, assinado este ano. Em resposta, Bolsonaro disse que lamentava ter sido chamado de mentiroso pelo Presidente Macron.
“Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até p/ fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema. O Governo brasileiro segue aberto ao diálogo, com base em dados objetivos e no respeito mútuo. A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI”, escreveu Bolsonaro na altura.