Da Redação
Com Rádio ONU
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados, Acnur, saudou em 21 de abril o plano de ação de 10 pontos divulgado pela União Europeia, com o objetivo de resolver a crise de migrantes no Mar Mediterrâneo. Mas a agência das Nações Unidas lembrou que salvar vidas no mar deve ser prioridade. Em Genebra, o representante do Acnur, Volker Turk, falou à Rádio ONU sobre a proposta.
Turk explicou que o plano dos ministros europeus é um “bom começo”, porque menciona reassentamento de migrantes e apoio à Itália e à Grécia. Mas ele ressaltou ser preciso conhecer os compromissos mais concretos, como alternativa legal à migração.
Entre as medidas anunciadas de vigilância e salvamento está o aumento dos recursos financeiros do Frontex, órgão que administra Tritão, que socorre barcos que cruzam continente africano para Europa, e um aumento da área coberta por esta operação.
O Acnur atualizou os números sobre a tragédia ocorrida no fim de semana, quando um barco que saiu da Líbia naufragou: 850 pessoas estavam a bordo e apenas 28 sobreviveram.
Pelo menos 350 eritreus estavam na embarcação, além de cidadãos da Síria, Somália, Serra Leoa, Senegal, Mali, Gambia, Costa do Marfim e Etiópia. Segundo a agência da ONU, mais de 800 pessoas morreram afogadas, sendo o pior incidente já ocorrido no Mediterrâneo.
Um jovem de Bangladesh foi levado de helicóptero à Sicília e os outros 27 sobreviventes chegaram na segunda-feira à noite a Catania, cidade também na Sicília.
De acordo com funcionários no Acnur em Catania, os sobreviventes estavam nervosos e cansados e receberam cuidados médicos, água e comida. Há relatos de que crianças estavam no barco que afundou, mas nenhuma foi encontrada até o momento.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, destacou que muitos menores que encaram essas jornadas de barco “são expostos a abusos, exploração e até morte”, uma violação da Convenção sobre os Direitos da Criança.
O Unicef pede que qualquer ação para conter os migrantes no Mediterrâneo leve em conta o bem estar das crianças, que precisam receber cuidados em locais seguros e ter acesso à educação, saúde e serviços sociais.
A agência da ONU defende também reforço das operações de busca e de resgate, combate aos traficantes de seres humanos e soluções para as raízes da migração, como conflitos, pobreza e discriminação.
Também esta terça-feira, a Organização Internacional para Migrações, OIM, informou que desde janeiro, mais de 1,7 mil pessoas podem ter morrido afogadas no Mar Mediterrâneo, número 30 vezes maior do que o total de fatalidades do mesmo período do ano passado.
No dia 20, a Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, havia afirmado em Luxemburgo que “a UE [União Europeia] não tem mais desculpas” e os Estados-Membros devem acertar “uma verdadeira política migratória” para evitar novas tragédias no Mediterrâneo.
De acordo com Mogherini, que preside a reunião de chefes de diplomacia, trata-se de “um dever moral”, sendo a própria credibilidade da UE que está em jogo, pois o projeto europeu sempre se centrou “na proteção dos direitos humanos, da dignidade e na defesa da vida”. Para ela, a Europa deve ser “consistente” e não permitir que mais tragédias ocorram em um mar que também é seu.
Também Koji Sekimizu se pronunciou essa semana dizendo que o número de migrantes que atravessam o Mediterrâneo pode aumentar este ano para meio milhão se nada for feito contra as pessoas que os traficam, alertou o secretário-geral da agência marítima da ONU.
Mais de 170.000 migrantes atravessaram o Mediterrâneo em 2014, 3.000 dos quais morreram no mar, segundo Sekizimu. “Se não fizermos nada, penso que este ano veremos meio milhão de migrantes atravessar o Mediterrâneo e, potencialmente, 10.000 morrerem”, alertou o responsável.