Da Redação
Com Lusa
Em Lisboa, o deputado único do Pessoas-Animais-Natureza (PAN) classificou a posição do histórico militante socialista Manuel Alegre sobre eventuais limitações à tauromaquia e à caça como “infeliz e irresponsável”, típica de alguém que “está fechado à mudança”.
“Esta é de fato uma posição infeliz e irresponsável por parte de Manuel Alegre, que compara o debate que se faz relativamente à evolução civilizacional que se opera em Portugal, que visa o fim da tauromaquia, com a eleição de um não democrata”, disse à Lusa André Silva.
Em um artigo, o ex-candidato presidencial e poeta Alegre dirigiu-se sobre esta temática ao primeiro-ministro, António Costa, numa carta aberta publicada no jornal Público, afirmando que “Portugal, apesar das dificuldades, é hoje uma boa exceção, numa Europa e num mundo marcados por um processo de desconsolidação da democracia e pela emergência de várias formas de populismo”.
“Os partidos tradicionais estão em decadência, alguns em vias de desaparecimento. E a revolta popular contra o sistema já não está do lado da esquerda, passou para a direita, estimulada e manipulada pela hegemonia do poder financeiro global”, lê-se na missiva do escritor, interpretada por André Silva como uma referência à eleição do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Para o PAN, trata-se de “uma reação já conhecida, normal de alguém que se recusa a ler a sociedade e os valores do século XXI, de quem está fechado à mudança”.
“Quando queremos alterar mentalidades e temos de dar informação, isso provoca desconforto em quem sempre pensou da mesma forma, tem padrões culturais sedimentados e não está aberto à mudança”, considerou André Silva.
No texto, Manuel Alegre reafirma o apoio à atual “solução governativa” até porque “o PS está no poder”, mas confessa sentir a “liberdade pessoal ameaçada”.
“Não por causa do que se passa no Mundo. Mas porque o diabo esconde-se nos detalhes. Está no fundamentalismo do politicamente correto, na tentação de interferir nos gostos e comportamentos das pessoas, no protagonismo de alguns deputados e governantes que ninguém mandatou para reordenarem ou desordenarem a nossa civilização”, continuou.
Para Alegre, “o deputado do PAN foi legitimamente eleito, com pouco votos, mas foi” e “tem o direito de defender as suas opiniões”, porém “não pode virar o país do avesso, com a cumplicidade dos fundamentalistas de outros partidos (com a honrosa exceção do PCP) e o calculismo dos que pensam que, em certas circunstâncias, o voto dele pode ser útil para a maioria”, como “uma espécie de um novo deputado ‘limiano’, salvo o devido respeito”, o qual, “um só, traz milhares de portugueses inquietos”.
“Manuel Alegre nasceu e cresceu numa altura em que, de facto, a competição entre seres humanos e não humanos, a utilização de animais para entretenimento, fazia parte do padrão civilizacional, dos valores culturais portugueses. Mas, hoje, não mais a sociedade portuguesa aceita que nos divirtamos à custa de maltratar e matar animais. É isto que está em causa e que Manuel Alegre não entende. Muito me espanta que uma figura que sempre esteve ligado ao humanismo não tenha a capacidade de estender esta empatia a outros seres, neste caso animais, que têm sensibilidade e sofrem atrozmente”, afirmou André Silva.
Na carta, Alegre pede a Costa que intervenha diretamente “a favor de valores essenciais do PS – o pluralismo, a tolerância, o respeito pela opinião do outro” -, designadamente “pela descida de 6% do IVA para todos os espetáculos, sem discriminar a tauromaquia, já que os prejudicados serão os mais pobres, os trabalhadores que tornam possível este espetáculo” e que “se oponha à proposta do PAN para alterar a Lei 92/95, que vem comprometer várias atividades do mundo da caça”.
“Um segundo comentário a algo que Manuel Alegre disse que não é verdade, que haveria uma norma inscrita no Orçamento do Estado que visava alterar a lei da caça. A norma visa pôr fim ao tiro ao voo, que nada tem a ver com atividade cinegética e é considerada prática desportiva e consiste na libertação de aves, criadas em cativeiro para o efeito, para servirem de alvo. Quem acertar em mais aves e matar mais animais é quem ganha. Estamos a falar de uma prática absolutamente fútil e cruel”, disse o deputado do PAN.
André Silva adiantou como exemplos a legislação que proibiu a luta entre cães ou a caça à baleia e, mais recentemente, a utilização de animais nos circos, casos de “heranças culturais e manifestações tradicionais que foram caindo ao longo dos tempos porque os padrões civilizacionais se alteram”.