Países africanos defendem produção local de vacinas para evitar atrasos

Da Redação com Lusa

O Ruanda, a África do Sul e o Senegal estão entre os países da África subsaariana que mais têm defendido a construção de fábricas de vacinas e medicamentos para evitar as atuais dificuldades de distribuição.

“A única maneira de garantir uma distribuição equitativa de vacinas é produzir mais do que as que são necessárias; enquanto África estiver dependente de outras regiões para ter acesso a vacinas, vamos estar sempre no fim da fila de cada vez que há escassez”, disse o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, citado pela agência de informação financeira Bloomberg.

Enquanto as nações mais desenvolvidas estão bastante avançadas no processo de distribuição de vacinas, a maioria dos países africanos estão praticamente sem stock e conseguiram apenas dar o equivalente a 2% das vacinas a nível mundial, segundo os dados do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.

No continente, há menos de dez produtores de vacinas, em países como o Egito, Marrocos, Tunísia, Senegal e África do Sul, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, e na maior parte destas fábricas o trabalho é empacotar e etiquetar, e não propriamente fabricar as vacinas, o que faz com que o continente esteja mal preparado para fazer e administrar vacinas em tempos de crise.

A suspensão das patentes relativas às vacinas para a covid-19 já vinha a ser defendida há várias semanas por alguns países, mas conheceu um importante desenvolvimento na semana passada, quando os Estados Unidos mudaram de posição e começaram a defender junto da Organização Mundial de Saúde a suspensão desta exclusividade de venda que serve para compensar os custo de investigação.

Quase uma centena de países, liderados pela Índia e pela África do Sul, pediram a suspensão das patentes e a partilha dos procedimentos de criação da vacina, mas outros países e as farmacêuticas opuseram-se.

A campanha “é compreensível tendo em conta a experiência passada e presente de esperar na fila para receber medicamentos e vacinas que salvam vidas”, disse a diretora-geral da OMC, a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, acrescentando que os membros da Organização “devem aumentar a produção das vacinas agora e também procurar resultados pragmáticos” sobre a proteção dos direitos de propriedade intelectual.

Para o presidente da Iniciativa Africa de Produção de Vacinas, “a pandemia de covid-19 é uma grande oportunidade para fomentar as várias conversas e propostas sobre a produção de vacinas e transformá-las num guia de ação”.

Segundo William Ampofo, o aumento da produção de vacinas em África vai facilitar a imunização das doenças infantis e controlar os surtos de doenças altamente infecciosas”.

Números

África registrou desde sábado mais 248 óbitos associados à covid-19, elevando o total para 124.209 desde o início da pandemia, e mais 7.262 novas infecções, superadas pelos mais de 12 mil recuperados, segundo os dados oficiais mais recentes.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número total de infetados nos 55 Estados-membros da organização é de 4.627.266 e o de recuperados da doença nas últimas 24 horas é de 12.573, para um total de 4.179.431 desde o início da pandemia.

A África Austral mantém-se como a região mais afetada, com 1.987.867 infetados pelo coronavírus SARS-CoV-2 e 62.566 mortos associados à doença covid-19. Nesta região, a África do Sul, o país mais atingido pela covid-19 no continente, contabiliza 1.594.817 casos e 54.724 mortes.

O Norte de África é a segunda zona mais atingida, com 1.392.431 infetados e 41.147 vítimas mortais.

A África Oriental regista 617.827 infeções e 11.743 mortos, enquanto na África Ocidental o número de infecções é de 463.615 e o de mortes é de 6.121. Na África Central, os casos de infecção ascendem a 165.526 e há 2.632 óbitos registrados.

O Egito, que é o segundo país africano com mais vítimas mortais, a seguir à África do Sul, regista 13.845 mortes e 236.272 infetados, seguindo-se a Tunísia, com 11.350 mortes e 319.512 casos de infeção. Marrocos contabiliza 513.628 casos de infeção e 9.064 mortes associadas à covid-19.

Entre os países mais afetados estão também a Etiópia, com 3.871 vítimas mortais e 262.217 infeções, e a Argélia, com 3.321 mortos e 123.692 infetados (o mesmo número de sábado).

Em relação aos países de língua oficial portuguesa, Moçambique registra 821 mortes e 70.166 casos, seguindo-se Angola (630 óbitos e 28.477 casos de infeção), Cabo Verde (232 mortos e 26.111 casos), Guiné Equatorial (112 óbitos e 7.694 casos), Guiné-Bissau (67 mortos e 3.739 casos) e São Tomé e Príncipe (35 mortos e 2.314 casos).

O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro de 2020, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 3.284.783 mortos no mundo, resultantes de mais de 157,5 milhões de casos de infecção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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