Os homenageados deste ano. A comunidade esteve reunida para uma celebração que vem sendo “esquecida tanto em Portugal quanto no Brasil”. Confira Galeria de Imagens >>
Por Odair Sene
O vereador de São Paulo Toninho Paiva, que anualmente preside a Sessão Solene em homenagem à Comunidade Portuguesa, voltou a realizar o evento no dia 24 de abril, quando recebeu representantes da comunidade, autoridades, como o cônsul Paulo Lourenço, líderes associativos, como vários presidentes de associações e porta bandeiras representando praticamente todas as casas e o grupos folclóricos de São Paulo.
No entanto a falta de interesse no assunto, da imprensa local de São Paulo e a falta de civilidade tanto em Portugal quanto no Brasil, ganharam destaque nos discursos do proponente da Sessão, Toninho Paiva e também do ex-presidente do Conselho, Antonio de Almeida e Silva.
Toninho Paiva preside solenidade há 15 anos
Ao Mundo Lusíada, Toninho Paiva disse que faz essa solenidade há cerca de 15 anos, dizendo ser “um dever” por ser um descendente de portugueses. Porém a tônica do seu discurso foi a crítica à imprensa local, a imprensa brasileira, que não dá uma nota sobre o descobrimento do Brasil, a data está caindo em esquecimento, mesmo tendo várias solenidades acontecendo na comunidade portuguesa, como esta na Câmara Municipal e com muita gente engajada.
“É uma falta de consideração para com os portugueses que trouxeram para cá o idioma, a religião, a gastronomia, muita coisa que tem no Brasil hoje tem por conta dos portugueses, isso há 518 anos. Com todas as dificuldades que tinham aqui, os portugueses chegaram e fizeram tudo no Brasil, e no entanto a imprensa continua totalmente fora, não dando a menor atenção”, disse Toninho Paiva que levou este posicionamento para sua mensagem na solenidade.
O vereador, que é o responsável pela propositura da solenidade, disse que não pode aceitar “de maneira nenhuma” que a data caia no esquecimento, “não tanto para nós, mas para a geração que vem aí, que possam participar e cantar o Hino Nacional e cantar o Hino também de Portugal porque somos irmãos e nós ficamos tristes com isso”, referiu salientando que Portugal superou suas dificuldades econômicas, deu a volta por cima e hoje os brasileiros estão redescobrindo Portugal como um grande país, os jovens querem ir para lá, e Portugal também soube vencer seus obstáculos.
Magno falou pela primeira vez como presidente do Conselho
Manuel Magno Alves, o presidente recém-eleito do Conselho da Comunidade, participando pela primeira vez como o representante das entidades disse: “nós temos sempre que festejar as nossas datas nacionais, temos que festejar sempre as datas cívicas, para não deixarmos morrer nossas raízes. O Conselho da Comunidade é uma instituição que vai cada dia mais fazer com que se fortaleçam as casas regionais para que elas fortaleçam essas comemorações, como é o dia de hoje, Dia do Descobrimento, Dia da Comunidade Luso-Brasileira”, disse ele que procurou falar em sua mensagem sobre o descobrimento, e também sobre os valorosos portugueses (mais novos – os emigrantes) que cruzaram os mares e aqui se estabeleceram fazendo progredir as cidades e regiões, são os portugueses mais novos no Brasil que tiveram e continuam a desempenhar um papel valoroso.
Para melhorar a representatividade do Conselho, foi apresentado um “planejamento estratégico” logo na primeira reunião e uma das metas será melhorar o congraçamento de casas regionais e instituições, e fazer com que a imprensa local olhe um pouco para as nossas datas, porque, conforme Magno, a imprensa luso-brasileira já faz isso, “mas a imprensa brasileira não tem o mínimo interesse”, diz o presidente do Conselho.
Cônsul Geral fez discurso de despedida
O Cônsul Geral Paulo Lourenço fez um discurso de despedida, já que deve deixar o cargo no próximo mês de agosto. Ele próprio disse estar falando pela última vez como Cônsul Geral em São Paulo (nesta solenidade) após seis anos à frente do principal, senão um dos mais importantes Consulados instalados no Brasil.
Em sua “última intervenção” falou bastante sobre as relações bilaterais, que nunca estiveram tão bem entre as duas nações, e defendeu que essas datas cívicas precisam continuar a ser comemoradas, dizendo mesmo ser “fundamental” que isso prossiga.
“Nós temos que experimentar de novo o significado histórico desta data, é preciso transformar essas comemorações em uma reaproximação, em uma redescoberta entre os países”, falou, dizendo que tem muitas coisas que ligam Portugal e o Brasil, relações comerciais, culturais, políticas e econômicas, e acrescentou que “a Comunidade Luso-Brasileira de São Paulo é um elo determinante nessa cadeia entre os dois países, porque nunca tivemos tantos brasileiros indo para Portugal, nunca tivemos tantos brasileiros indo estudar em Portugal, que é o terceiro país – depois dos Estados Unidos e Canadá – de destino para filhos de brasileiros”, disse valorizando o volume de investimento em Portugal, sendo um momento forte e intenso para fazer dessa data (descobrimento do Brasil) uma forma de alavancar o sentido do redescobrimento pelos brasileiros, que estão comprando muitos imóveis no país europeu.
Na sequência de sua mensagem, afirmou que, “enquanto Cônsul Geral, durante seis anos procurei sempre estar presente nesta data, eu penso que esta comunidade tem vida, tem um passado, mas tem um papel também a desempenhar, é um orgulho estar aqui presente diante de vós e acompanhar essa data que faz tanto mais sentido”, e disse ainda achar importante manter o “sentido de transformação e de renovação”, manter a presença sempre ativa em São Paulo e saber aproveitar bem este momento cívico.
Antonio de Almeida e Silva criticou “falta de civilidade”
O ex-presidente do Conselho, Antonio de Almeida e Silva, enalteceu o evento (que participou por tantos anos como presidente), mas este ano aproveitou para criticar de forma muito veemente a falta de civilidade por parte dos órgãos oficiais, governamentais e até associativos tanto em Portugal quanto no Brasil.
Em seu discurso o ex-presidente disse ser “lamentável” porque é uma data que merecia que ambos os países se manifestassem de uma maneira mais importante nesta comemoração, “porque essa data comemora a integração, o carinho, o respeito entre dois povos, que tem uma história comum, uma integração inegável, incontestável. É uma pena que uma data deverá perder a sua força no tempo”, disse lembrando que no Rio de Janeiro já não se comemora mais essa data, e em São Paulo continua sendo a única comunidade que ainda se comemora, elogiando a comunidade do Grande ABC na cidade de Santo André, que mantém por mais de 30 anos a parceria junto a Câmara Municipal para a Sessão Solene que ainda acontece na cidade.
Ainda durante a solenidade teve uma parte cultural apresentada, com interpretação de fados na voz de Adélia Pedrosa acompanhada dos músicos Alexandre Matis e Marcos Sabo. Logo após se deu início às muitas homenagens com a entrega dos diplomas para um grupo de pessoas ligadas à nossa comunidade e que foram escolhidas para serem reverenciadas este ano.