Tenho acompanhado nas últimas semanas a operação limpeza, promovida pelo Palácio do Planalto junto a diversos ministérios. Apesar de algumas críticas sobre a continuidade, profundidade e efetividade destes atos, o sentimento geral é positivo, uma vez que, a maioria da população que paga seus impostos em dia, preferiria recebê-los em prestação de serviços à saúde, segurança, transportes e educação, ao invés de manchetes sobre escândalos, corrupções, mensalões, pagamento de propinas ou dinheiro na cueca.
Creio que nenhum cidadão brasileiro em sã consciência acredite no fim da impunidade ou das falcatruas, as quais nos acompanham desde a chegada dos portugueses em solo brasileiro, há mais de quinhentos anos. Muito há que ser feito em nosso meio jurídico e político, assim como na cultura predominante em tirar vantagem e obter concessões através de influências. Modelo esse, impregnado há séculos com os ciclos exploratórios do pau-brasil, da borracha, do ouro e da chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro.
Não obstante, as críticas à postura centralizadora, gerencial e pouco amável da presidente, têm feito com que as ações e medidas enérgicas adotadas sirvam como um norte, um direcionamento sobre as novas regras do jogo, o qual, diga-se de passagem, rolou bastante frouxo nos últimos oito anos. Seu antecessor, assim como um árbitro complacente, preferia a lei da vantagem ao invés da falta, o afago e o diálogo ao invés do cartão, o gol de mão ao invés do empate sem gols. Neste cenário, os fins acabavam por justificar os meios, como já dizia Maquiavel.
Creio que este não fosse o objetivo do criador ao eleger sua criatura, tornando a vida de seus fiéis companheiros, os quais ainda sobrevivem nesta atual gestão, mais difíceis. Como numa empresa, cabe aos subordinados e colaboradores se adaptarem aos novos tempos e regras impostas pela nova chefia, as quais estão, diga-se de passagem, muito mais rígidas nos últimos meses. Vejamos então os diferentes perfis de liderança, os quais se adéquam com perfeição aos últimos ocupantes da cadeira presidencial. Comecemos pelo modelo reinante no momento, também conhecido como autoritário.
Perfil Autoritário: toma as principais decisões para si, acarretando prejuízos e eventuais atrasos nos projetos. Tem foco nas tarefas e em seu gerenciamento, exigindo perfeição e conhecimento dos detalhes. Respeita a hierarquia e as relações de poder punindo aqueles que não o fazem. Exigente e linha dura nas cobranças, não hesita em criticar os maus resultados. Gosta de escolher os principais liderados, os quais de preferência, compartilhem as mesmas opiniões. Este tipo de líder é também conhecido como dominador ou intransigente. Qualquer semelhança com o governo atual não é mera coincidência, haja vista as recentes nomeações e desligamentos. Nelson Jobim que o diga.
Perfil Democrático: prefere compartilhar as decisões com o grupo, o qual determina os melhores caminhos a seguir. Assume um papel de orientador da equipe, colaborando e estimulando com seus exemplos e experiências. Estimula o debate e aceita opiniões contrárias as suas convicções. Deixa que o próprio grupo defina a divisão das tarefas e os membros da equipe. Não tem apego a hierarquia, procurando ser muitas vezes parte do grupo. Apesar de longe do poder a quase uma década, as ideias e posições do democrático FHC encontram ainda grande repercussão, seja na base aliada ou governista.
Perfil Liberal: oriunda do termo francês “laissez fare, laissez passer”, sinônimo do liberalismo econômico, cuja teoria apregoa que os mercados devem funcionar livremente, sem interferências. Traduzidos como “deixar fazer, deixar passar”, são aplicados em geral a estruturas nas quais as equipes são maduras e autogeridas, dominando os conhecimentos técnicos e os resultados a serem alcançados. Pouco atento a detalhes e sem conhecer a fundo os processos, o líder liberal pode deixar passar falhas e erros graves, caracterizando-se muitas vezes por uma liderança negligente. Há quem ainda acredite que o mensalão poderia se encaixar neste quesito.
Perfil Paternalista: aqui a liderança se estabelece com base em relações interpessoais, tais como pai e filho. Confortável para os subordinados, os quais podem sempre contar com o apoio do líder, cria uma disfunção ou degeneração do papel do líder, muitas vezes considerado como um grande protetor. Em estruturas paternalistas o conflito é reduzido, gerando zonas de conforto entre os liderados. É considerado um modelo ineficiente e ineficaz, uma vez que os resultados e as metas a serem perseguidas devem estar acima dos interesses individuais. O filme Lula, o filho do Brasil é a mais perfeita tradução de paternalismo, cuja encarnação do papel garantiu as últimas reeleições. Apesar do longo período de convivência entre criador e criatura, os estilos liberal e paternalista, parecem não ter conseguido contagiar o estilo de liderança da atual presidente da república.
Considerando a admiração demonstrada em cartas e eventos nos quais costuma se encontrar com FHC, creio que Dilma pretenda aprimorar seu estilo democrático, o que seria um ganho considerável, não apenas para seu desenvolvimento pessoal, mas principalmente para o país. Oito anos de estilos liberal e paternalista já foram suficientes para toda esta lambança.
Marcos Morita
Mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.