Por Arnaldo Niskier
Das quase 200 universidades brasileiras, nenhuma delas até agora fez 100 anos. Em compensação, em Portugal, de onde recebemos tanta influência cultural, o ano de 2011 reserva uma dupla comemoração: o centenário das Universidades de Lisboa e do Porto.
Estivemos nesta última e conversamos com o seu reitor, professor José Carlos Marques dos Santos, na companhia agradável do acadêmico Arnaldo Saraiva.
Soubemos que na Universidade do Porto estudam cerca de 1.000 brasileiros, especialmente nos cursos de Letras e Engenharia. Por isso mesmo, discutimos a possibilidade de assinar um convênio cultural com a Academia Brasileira de Letras, visando a três objetivos: a) iniciar estudos para a elaboração do Vocabulário Técnico previsto no Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa; b) intercâmbio permanente de professores e especialistas, notadamente em Língua Portuguesa; c) projetar a construção de uma biblioteca brasileira na cidade do Porto, que poderia ganhar o nome do poeta João Cabral de Melo Neto, que serviu como Cônsul, naquela cidade, durante dois anos.
É impressionante a história da Universidade do Porto. Foi criada por decreto de 22 de março de 1911, ao mesmo tempo que a Universidade de Lisboa, com um preâmbulo revelador: “Um dos primeiros deveres do Estado democrático é assegurar a todos os cidadãos, sem distinção de fortuna, a possibilidade de se elevarem aos mais altos graus de cultura…” Portanto, desde a origem teve a missão de democratizar a cultura. O seu primeiro reitor, eleito, foi o dr. Francisco Gomes Teixeira.
Hoje com cerca de 20 mil alunos e mais de 2 mil professores, a Universidade do Porto conta com 12 escolas superiores (Ciências, Farmácia, Economia, Letras, Engenharia, Educação etc) e extensas atividades culturais, como o cultivo, por exemplo, do teatro clássico e da música. A mulher tem importância especial na sua comunidade universitária.
A instituição é dotada de belos edifícios, laboratórios, museus e bibliotecas, além de preciosas coleções de quadros. Com isso faz jus aos desejos dos seus criadores. Tem destaque especial na pesquisa,utilizando-se de uma intensa criatividade, que vem desde o seu início. Ressente-se, no entanto, de maiores fontes de financiamento, embora talento não falte, até em áreas complexas, como Oncologia, Biologia Molecular e Celular.
Uma das características modernas da Universidade do Porto é a abertura para o exterior, o que se faz em diferentes áreas da Fundação Gomes Teixeira, que promove o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e econômico do país.
Segundo nos declarou o seu atual reitor, Marques dos Santos, a Universidade do Porto tem os olhos voltados para o futuro. Além do crescimento físico, existe a preocupação dominante com a qualidade, para o que se tornou indispensável criar e manter um eficiente sistema de avaliação, à semelhança do que ocorre hoje no Brasil.
Desenvolvimento e avaliação passaram a ser elementos-chave desse processo, em que toda a Universidade do Porto, agora centenária, encontra-se empenhada.
Arnaldo Niskier
Professor e membro da Academia Brasileira de Letras, é presidente do CIEE/Rio.