Oportunidades do turismo

A França sempre mostrou resistência à influência cultural de outros povos. Esse espírito é bem ilustrado pelos esforços do personagem Asterix, criação de Uderzo e Goscinny, em defender a Gália da dominação romana. Mas nem os gauleses esperavam por essa: o cabaré parisiense Lido já está servindo comida indiana e a loja de departamento Printemps só contrata vendedores que, além do francês e do inglês, dominem pelo menos um terceiro idioma – preferencialmente português, russo, chinês ou árabe. A transformação foi motivada única e exclusivamente pelo aumento no fluxo de turistas de nações emergentes como as BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Ou seja, mesmo ocupando o topo dos destinos mais procurados, com seus 78 milhões de visitantes estrangeiros, segundo dados da Organização Mundial de Turismo, a França se desdobra para recepcionar cada vez mais – e melhor – os novos turistas.

O Brasil, porém, está longe de ocupar as primeiras colocações do ranking. Na verdade, segundo o ranking de 2007, o último que abarca mais do que 10 posições, o País amarga o 42º lugar. Isso traz à tona duas questões. A primeira: as empresas brasileiras do setor estão preparadas para receber a enxurrada de turistas que serão atraídos pelos dois mais importantes eventos esportivos do mundo, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016? A segunda: os profissionais que estão em formação, hoje, terão competência para atender esse público multicultural?

Infelizmente, a resposta mais provável para ambas será um pesaroso “não”. Claro que há cidades como São Paulo e Rio de Janeiro que já contam com organizações transnacionais operando em seus territórios, o que termina por criar uma rede de atendimento já adaptada para receber visitantes de outros países. Mas essa não é uma realidade nacional. Mais do que pessoas fluentes em idiomas pouco utilizados – e aqui nos encaminhamos para a segunda pergunta – temos a necessidade de criar verdadeiros diplomatas empresariais, bandeira essa defendida por Marcos Troyjo, economista e conselheiro do CIEE. Esses são profissionais que conhecem as particularidades de cada povo, não cometem gafes e ainda criam oportunidades visando ao perfil desse consumidor diferenciado. Por exemplo: você sabia que os russos ficam ofendidos se os produtos que lhes são oferecidos não estiverem entre os mais caros?

Luiz Gonzaga Bertelli
Presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE, da Academia Paulista de História – APH e diretor da Fiesp.

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