Da Redação
Timor-Leste está usando a pandemia de Covid-19 “como uma oportunidade para corrigir fraquezas estruturais”. A declaração é do presidente do país, Francisco Guterres Lú-Olo.
Num discurso pré-gravado, o chefe de Estado destacou o Plano de Resposta à Covid-19 do secretário-geral e várias iniciativas para aliviar o peso da dívida e o financiamento para o desenvolvimento.
Timor-Leste confirmou seu primeiro caso de Covid-19 em 21 de março. Até o momento, já houve 27 notificações, mas nenhuma precisou de cuidados intensivos.
Francisco Guterres Lú-Olo destacou o apoio da comunidade internacional, e da Organização Mundial da Saúde, OMS, para conter o vírus.
“As fronteiras foram fechadas, foram criadas unidades de quarentena e isolamento e formadas equipas para sensibilizar o nosso povo. O Estabelecimento de um Centro Integrado de Gestão de Crise permitiu assim o trabalho coordenado entre todos os setores envolvidos neste combate.”
O presidente disse que cooperando com o governo timorense para estabelecer “um Plano de Recuperação econômica centrado nas pessoas, que vai reativar a economia nacional, com medidas a curto, médio e longo prazo.”
O presidente referiu depois a ameaça da mudança climática, dizendo que “o desrespeito pela natureza provocou alterações climáticas com impacto negativo para a humanidade.”
“A destruição de ecossistemas e da biodiversidade está ligada às novas doenças de que a Covid-19 é um exemplo. Assim, Timor-Leste acredita que o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas e os Objetivos para o desenvolvimento Sustentável consubstanciam meios e questões incontornáveis no caminho para a reconstrução dos nossos países.”
Guterres Lú-Olo destacou iniciativas como a “Um cidadão, uma árvore”. A Presidência atribui, todos os anos, o prêmio Sergio Vieira de Mello a essas propostas. Em 2019, a distinção foi para uma ONG que refloresta manguezais.
Timor-Leste também construiu uma unidade de processamento e tratamento de plástico que irá produzir tijolos para construir casas, reduzindo assim a polução de lixo plástico.
São Tomé
São Tomé e Príncipe foi o segundo país de língua portuguesa a assumir a tribuna do debate geral de líderes internacionais, nesta quinta-feira, nas Nações Unidas.
Em um discurso pré-gravado para a Assembleia Geral, o presidente são-tomense elogiou o tema da 75ª. Sessão da Casa dizendo que o multilateralismo é o melhor caminho para mitigar os efeitos da crise econômico-financeira que a Covid-19 impôs ao mundo.
Evaristo do Espírito Santo Carvalho afirmou que a solidariedade internacional pode ajudar o mundo a vencer a pandemia e a combater a pobreza, para ele o maior flagelo da humanidade.
O presidente citou outros fatores como conflitos armados, exploração destravada de recursos naturais, desertificação, deslocamento de populações e outros desafios.
Para o líder do país lusófono, a cooperação das nações com a ONU ajuda a promover inclusão e o desenvolvimento sustentável. Carvalho acredita, no entanto, que o mundo ainda tem muito trabalho a fazer nessa área.
Ao mencionar os conflitos na África, Evaristo Carvalho disse que está “preocupado e apreensivo” com a invasão de militantes islâmicos à província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique.
Ele pediu à comunidade internacional um compromisso maior para lutar contra as ações terroristas nessa região de Moçambique.
O chefe de Estado são-tomense citou ainda a violência no Sudão do Sul, na República Centro-Africana, Líbia, o leste da República Democrática do Congo, a região do Sahel, e os ataques dos grupos terroristas islâmicos Boko Haram no centro e no oeste da África e Al-Shabab no leste do continente.
Evaristo Carvalho citou ainda o Saara Ocidental, que considera uma preocupação crescente e que demanda maior envolvimento para uma solução. O presidente são-tomense pediu a retomada das negociações para a região.
Ao citar o conflito israelense-palestino e a guerra na Síria e no Iêmen, o líder africano disse que é preciso criar o diálogo e promover a paz duradoura. Ele também defendeu o fim do embargo dos Estados Unidos a Cuba.
Ao falar sobre os efeitos arrasadores da pandemia sobre a economia de São Tomé e Príncipe, que depende fortemente do setor de turismo, o presidente do país disse esperar que a comunidade internacional se una para derrotar a doença.
O país africano de língua portuguesa afirmou que a ONU, aos chegar aos 75 anos, precisa refletir sobre a realidade atual para continuar seu trabalho de manter a paz e a segurança internacionais e de levar desenvolvimento sustentável ao mundo. Ele citou ainda desafios à humanidade como combater a pobreza, a mudança climática e à pirataria do mar.
Conflitos em Bissau
Nesta quinta-feira, o último país de língua portuguesa a falar à Assembleia Geral foi a Guiné-Bissau.
O presidente Umaro Sissoco Embaló, que se dirigiu aos líderes internacionais em francês, começou lamentando a perda de vidas pela pandemia da Covid-19 em todo o mundo.
O líder guineense agradeceu aos profissionais da saúde por combater a pandemia na linha de frente. Para ele, todos os países devem cooperar para reforçar os sistemas de saúde e o alcance de uma vacina e tratamento universais e acessíveis.
Ao mencionar o aniversário de 75 anos das Nações Unidas, Sissoco Embaló disse que é preciso apoiar a ONU a combater os desafios globais da atualidade e de renovar o compromisso com o multilateralismo.
Para ele, esta é a única forma de avançar com a agenda humanitária tendo em conta os vulneráveis e promovendo igualdade de gênero e o bem-estar para todos, como estabelece a Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável.
O presidente da Guiné-Bissau lembrou que falava à Assembleia Geral no dia de aniversário da independência do país de Portugal. Ele disse que o rompimento dos laços com a antiga metrópole ocorreu com muita “honra e sacrifício”.
A Guiné-Bissau foi a primeira das cinco ex-colônias africanas a se tornar independente. Para Sissoco Embaló, nesses 46 anos de história soberana, o país viveu momentos difíceis na busca de seu próprio caminho de estabilidade e desenvolvimento. Ele afirmou que o apoio da comunidade internacional, especialmente da ONU, e de organismos regionais e sub-regionais foi fundamental para acabar com os conflitos no país.
Ao destacar que o fim do mandato do Escritório da ONU no País, Uniogbis, se aproxima, Sissoco Embaló disse que a assistência contínua da comunidade internacional em articulação e coordenação com as autoridades guineenses é indispensável para que a Guiné conclua o processo de reformas necessárias ao desenvolvimento.
Sissoco Embaló disse que uma outra área de preocupação é a mudança climática e os efeitos sobre pequenos países-Ilha. O governo elaborou estratégias nacionais de mitigação.
O presidente da Guiné-Bissau diz que a igualdade de gênero é um tema de grande importância para o país, e que as mulheres são o motor de mudança positiva, e as melhores mediadoras de conflitos e pacificação.