Da Redação
Com agencias
O escritor angolano Ondjaki, de 36 anos, venceu com o romance “Os transparentes”, o Prêmio José Saramago 2013, levando o valor de 25 mil euros. A distinção foi anunciada no mesmo dia em que foi publicado o seu novo livro, “Uma escuridão bonita”, com ilustrações de António Jorge Gonçalves, em 05 de novembro. É também o segundo galardão que o escritor recebe este ano, depois do Prêmio Fundação Nacional do Livro Infantil.
Esta é a oitava edição do galardão, instituído pela Fundação Círculo de Leitores, que distingue autores com obra editada em língua portuguesa, no último biênio, menores de 35 anos à data de publicação da obra.
O júri, presidido por Guilhermina Gomes, do Círculo de Leitores, foi constituído pela poetisa Ana Paula Tavares, Manuel Frias Martins, da Universidade de Lisboa, Maria de Santa Cruz, da Universidade de Aveiro, Nazaré Gomes dos Santos, da Universidade Autónoma de Lisboa, pelos escritores Nélida Piñon e Vasco da Graça Moura e por Pilar del Río, presidente da Fundação José Saramago.
A obra “Os transparentes” foi publicada em 2012 pela Editorial Caminho e, segundo Vasco Graça Moura, surpreende pela “maneira como a sua utilização da língua portuguesa é, não só capaz de captar com a maior naturalidade as mais diversas situações num contexto social tão diferente do nosso, mas comporta em si mesma fermentos de uma inovação que espelha com força e realismo um quotidiano vivido na sua trepidação e também funciona eficazmente ao restituí-lo no plano literário”.
A presidente da Fundação Saramago afirma que “ao lermos ‘Os transparentes’ temos a sensação de estar a ler uma literatura inaugural”. “Sabemos que não é assim, que Angola tem grandes escritores e que muitos fazem do português em África um idioma sólido, versátil e belo, e que também Ondjaki faz parte de uma poderosa constelação”, salienta Pilar del Río.
Segundo a sinopse da obra, publicada pela Caminho, no romance, “de novo aparece Luanda – a Luanda atual do pós-guerra, das especificidades do seu regime democrático, do ‘progresso’, dos grandes negócios, do ‘desenrasca’ – como pano de fundo de uma história que é um prodígio da imaginação e um retrato social de uma riqueza surpreendente”.
Paulo José Miranda, Adriana Lisboa, José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, João Tordo e Andréa del Fuego foram os nomes premiados com este galardão nas edições anteriores.
Angola justa
Para a imprensa, o escritor Ondjaki afirmou ter esperança numa Angola mais justa em que as pessoas possam expor e debater “as suas convicções ainda com mais liberdade”. “Alimento todos os dias uma esperança quase ridícula, quase utópica, de uma Angola mais justa. Enquanto espero, abraço aqueles que quando vão falar estão preparados para escutar”, disse.
Citou que o livro traz verdade, sentimento, imaginação e amor. “É uma leitura de carinho e de preocupação. É um abraço aos que não se acomodam mas antes se incomodam. É uma celebração da nossa festa interior, trazendo as makas, os mujimbos, algumas dores, alguns amores, penso que todos queremos uma Angola melhor”, declarou o escritor.
Abrindo o seu discurso de agradecimento com o verso “eu não ando sozinho”, o autor afirmou que “este livro é sobre uma Angola que existe dentro de uma Luanda” sobre a qual procurou “escrever e descrever”.
Ondjaki afirmou-se com “dúvidas e anseios em relação ao nosso momento histórico atual”, mas procura “alimentar todos os dias uma esperança”, de uma Angola mais justa. “Este prêmio não é meu. Este prêmio é de Angola”, rematou.
“Seremos um país melhor quando as pessoas puderem expor e debater as suas convicções ainda com mais liberdade e conforto. Tenho o orgulho de pertencer a um país onde os jovens pensam, refletem e chegam às suas próprias conclusões”, disse.
Ondjaki, de 36 anos, é o primeiro angolano a receber este galardão, instituído há 15 anos pela Fundação Círculo de Leitores, visando distinguir e incentivar jovens escritores de língua portuguesa.