Da Redação com Lusa
Oito cantoras vão levar ao Centro Cultural de Belém, na próxima quarta-feira, “a civilização lusófona que [as] liga”, no concerto “Mulheres da Lusofonia”, disse Ana Laíns, uma das intérpretes, à agência Lusa.
Ana Laíns está, aliás, na origem desta ideia, disse à Lusa a brasileira Fafá de Belém, outra das intérpretes.
“Isto começou quando a Ana [Laíns] me convidou para participar [em 2018] nas Festas do Mar e conheci-a, pessoalmente, e também a [guineense] Karyna Gomes, que me apareceu como se fosse uma entidade”, disse Fafá de Belém, referindo que a ideia começou logo a germinar.
“A ideia é cantar a voz da mulher na língua portuguesa”, declarou Fafá de Belém.
Além de Ana Laíns, Fafá de Belém e Karyna Gomes, o projeto conta com Anabela Aya (Angola), Anastácia Carvalho (São Tomé e Príncipe), Lura (Cabo Verde), Piki Pereira (Timor-Leste) e Selma Uamusse (Moçambique).
Cada uma das cantoras interpreta dois temas do seu repertório, e vão também “homenagear, de alguma forma, mulheres que foram muito importantes na expansão da língua portuguesa, como Amália Rodrigues e Cesária Évora”.
Assim, “todas juntas, interpretamos dois temas, ‘Tanto Mar, de Chico Buarque e esse hino à mulher empoderada, que luta pela sua própria vida, ‘Maria, Maria’, de Milton Nascimento”, disse Ana Laíns que assume a curadoria e produção executiva do espetáculo, apoiado, entre outras entidades, pela Fundação Guimarães Rosa, do Brasil.
As cantoras serão acompanhadas por um ensemble composto por Paulo Loureiro (piano e orquestrações), Rolando Semedo (baixo), Carlos Lopes (acordeão), João Ferreira (percussão), Ana Filipa Serrão e José Pereira (violinos), Joana Cipriano (viola d’arco) e Catarina Gonçalves (violoncelo).
“A nossa meta é continuar, atravessar os mares”, disse Fafá de Belém que projeta que este seja “um espetáculo de carreira e seja apresentado noutros palcos portugueses, mas também africanos e brasileiros, onde as músicas africanas são pouco conhecidas”, disse a cantora brasileira, referindo o “fator pedagógico” deste concerto, em “esclarecer o povo brasileiro sobre a sua própria origem”.
Ana Laíns, por seu turno, adiantou à Lusa que “há conversações a decorrer com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para levar este conceito, este projeto, a todos os países da lusofonia”.
Laíns reconheceu que apresentar o espetáculo em Timor-Leste “é o maior desafio”.
Do projeto consta a timorense Piki Pereira, atualmente a residir no Reino Unido, e que não faz carreira profissional na música, mas o “espetáculo equitativo”, é “uma possibilidade de mostrarmos os nossos projetos”.
Nesta digressão há a vontade de uma maior aposta nos palcos do Brasil, país onde, embora presente, muito generalizada e assimilada, é “pouco conhecida, ainda, a influência das músicas africanas”, disse Fafá, que acrescentou: “Eu sou uma branca ninada por amas pretas, nós fomos embalados pelos negros vindos de África.”
“A primeira leva de escravos que chegou a Belém do Pará veio da Guiné-Bissau”, disse Fafá, referindo-se à sua terra natal.
O espetáculo, com entrada gratuita, surge no âmbito das comemorações do mês da Língua Portuguesa, o mês de maio, e é financiado pelo Fundo Especial da CPLP.