OIT ouve relatos de jovens portugueses desempregados

Agência confirma que cada vez mais desempregados admitem opção de deixar o país; em maio, estatísticas da UE indicavam que quatro em cada 10 jovens do país estariam sem trabalhar.

 

Da Redação
Com Rádio ONU em Nova Iorque

Logo_DesempregoA Organização Internacional do Trabalho, OIT, recorreu ao testemunho de jovens portugueses para ilustrar a tendência da queda global do acesso do grupo ao emprego, comparado às gerações anteriores.

Nos países desenvolvidos, incluindo a União Europeia, a taxa de desemprego jovem não deve chegar a menos de 17% antes de 2016, conforme projeções recentes citadas pela agência.

Deixar o País

Após ter perdido o seu posto de trabalho, e sem perspectivas de adquirir um outro, Ana Morgado é um exemplo dos milhares de jovens que enfrentam o desafio, apesar de ter tido uma boa preparação acadêmica. A candidata é formada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, uma das 500 melhores do mundo.

“As pessoas estão cada vez mais amargas, mais desconfiadas e mais revoltadas. Sinceramente, às vezes dou comigo à mesa com amigos a pensar ‘quando a malta se passar, quando nos chatearmos a sério o que vai acontecer'”, explicou.

A OIT aponta uma tendência dos jovens mais qualificados desistirem de procurar trabalho no país, e partir em busca de oportunidades para trabalhar no exterior. A opção é tomada por milhares de afetados pela crise do desemprego, mesmo estando entre os melhores e mais brilhantes.

É o caso de Eduardo Freitas, com o mestrado em Engenharia Biomédica. Desempregado há nove meses, pensa em deixar Portugal pelo insucesso na busca de emprego.

“Em Portugal foi muito criada a expectativa de que só as pessoas que tivessem o ensino superior, poderiam ser alguém, ter a vida facilitada ou poder evoluir na carreira. Acho que, agora, tudo isso desapareceu”, disse.

O dilema de Eduardo e Ana está no fato de poucas empresas estarem abertas para contratar os mais graduados pelas competências que estes adquiriram nas universidades.

Apesar de ambos terem mostrado disponíveis a ser treinados em novas habilidades, ou mesmo em aceitar um emprego muito aquém das suas qualificações, vivem momentos duvidosos.

“Acho que tem a ver com o fato de ser mais qualificada para algum trabalhos e de precisar de mais educação para os outros, que eu não sei muito bem onde é que estão ainda, se realmente existem, é um mercado de trabalho que flui na verdade, ou são apenas uma ilusão”, frisou.

Por agora, Ana conta com subsídios estatais para sobreviver, antes que os possa perder e voltar a depender dos pais. Eduardo, que teve de voltar a contar com a ajuda dos seus, está a pensar nos próximos passos.

“Ainda estarei mais algum tempo em Portugal à procura de alguma  oportunidade que surja. Se não surgir vou fazer o mesmo que milhares de portugueses estão a fazer neste momento, que é emigrar por uma oportunidade no exterior”, declarou.

Aos políticos, a OIT sugere que sejam tomadas medidas para lidar com os perigos colocados pelo desemprego a longo prazo, tanto para os jovens como para a sociedade em geral.

A agência lembra que o desemprego crônico e o subemprego não são apenas danosos à autoestima e às competências, mas podem minar os futuros salários e as perspectivas de emprego por décadas.

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