Mundo Lusíada com Lusa
O Governo português vai decretar luto nacional no dia do funeral da atriz Eunice Muñoz, que morreu neste dia 15 em Lisboa aos 93 anos, anunciou o Ministério da Cultura.
“O Governo, em articulação com o Presidente da República, vai decretar luto nacional no dia do funeral de Eunice Muñoz”, afirmou à Lusa fonte do Ministério da Cultura.
As cerimônias fúnebres de Eunice Muñoz decorrem na Basílica da Estrela, em Lisboa, na segunda e na terça-feira, seguindo depois o funeral para o Cemitério do Alto de S. João, onde o corpo será cremado.
O presidente português recordou a atriz em nota divulgada pela presidência. “Portugal está de luto. Nós habituámo-nos à ideia de que a Eunice Muñoz era eterna. Fisicamente não é. Resistiu a uma, duas, três, quatro crises de saúde. Mas é eterna no nosso espírito, não a esquecemos” declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
“Marcou a nossa vida durante décadas e décadas e, portanto, eu queria, em nome todos os Portugueses, agradecer-lhe uma vida dedicada ao teatro, mas também ao cinema, à televisão, à cultura em Portugal, isto é, dedicada aos Portugueses. Não a esquecemos, nunca a esqueceremos, estará sempre no nosso coração” concluiu presidente.
O ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, destacou a relação próxima e íntima dos portugueses com a atriz e o “enorme aplauso” que recebeu em vida e que assegurou que será mantido.
“Neste momento devemos-lhe o mesmo aplauso que sempre lhe oferecemos, um aplauso de certa forma eterno”, declarou o ministro à agência Lusa, considerando um “privilégio para Portugal e para os portugueses” ter uma atriz como Eunice Muñoz.
“Tinha um talento quase natural e um dom único para a representação e, por isso mesmo, para nós todos, a vida da Eunice Muñoz confunde-se com os palcos e com o teatro, é uma espécie de relação íntima que todos fomos desenvolvendo com a mulher doce e afável”, disse o governante.
Pedro Adão e Silva destacou também a carreira longa e de enorme proximidade e de intimidade da atriz: “É como se todos a conhecessem e talvez essa seja também uma marca distintiva. Não é só o dom que tinha de facto e o talento como atriz, é também essa proximidade e essa intimidade”.
Eunice Muñoz morreu nesta sexta-feira no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, segundo o filho da atriz, tendo completado em novembro 80 anos de carreira.
Em abril do ano passado, Eunice Muñoz foi condecorada pelo Presidente Marcelo Rebelo com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, cerca de três anos depois de ter recebido a Grã-Cruz da Ordem de Mérito.
Também o primeiro-ministro homenageou a atriz portuguesa:
Eunice Muñoz marcou de forma definitiva o teatro português, trabalhando com os mais importantes encenadores e companhias, sem nunca deixar de se renovar, de se reinventar, de conquistar gerações sucessivas. pic.twitter.com/Gh9tBTrM9B
— António Costa (@antoniocostapm) April 15, 2022
Teatro Nacional
O nome de Eunice Muñoz “ecoa em cada espaço” do Teatro Nacional D. Maria II, escreve a instituição que acolheu a estreia da atriz, há 80 anos, numa longa mensagem publicada na página oficial da rede social Facebook.
“As palavras que não queríamos escrever. O dia que não queríamos que chegasse. Eunice Muñoz partiu. Hoje é o dia zero. Porque há um antes e um depois de Eunice, não só no Teatro Nacional D. Maria II, como também no teatro português”, prossegue a mensagem, acompanhada de várias fotografias da atriz, no papel de diferentes personagens, no palco da instituição.
Na página do teatro que criou uma rede com o seu nome – Rede Eunice – para levar a sua programação às mais afastadas e distintas cidades do país, Eunice Muñoz regressa de novo como em algumas das suas principais personagens, como Zerlina, de Hermann Broch, Fedra, de Racine, Mãe Coragem, de Brecht, e como Eunice Muñoz, ela mesma, aplaudida no final de “Passa por Mim no Rossio”, o musical de que foi uma das principais intérpretes, exatamente no D. Maria, em 1991.
“Eunice Muñoz tinha apenas 13 anos quando pisou, pela primeira vez, o palco do Rossio”, recorda o teatro. “Mas, incrivelmente, a sua carreira já havia começado anos antes quando aos cinco anos começa a encarar o público na pequena companhia teatral ambulante da sua família, Troupe Carmo, da qual faziam também parte os seus avós e as suas tias. Na sua participação, costumava cantar alguns êxitos dos anos 30”.
“Alguns anos mais tarde, em 1941, acontece o momento que marca a vida profissional de Eunice Muñoz e que dá início à impressionante contagem dos seus 80 anos de carreira: consegue o primeiro papel no teatro profissional e estreia-se a 28 de novembro desse ano, em ‘Vendaval’, de Virgínia Vitorino, com encenação de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, na maior e mais prestigiada companhia daqueles tempos”, destaca o D. Maria.
Segundo o teatro nacional, “começava, a partir desse momento, uma das mais intensas e prolíficas carreiras da história do teatro português. No teatro, no cinema e também na televisão, do drama à comédia, Eunice Muñoz deu vida a dezenas de personagens, foi dirigida e contracenou com todos os grandes nomes, pisou os principais palcos de teatro, foi reconhecida pelos seus pares, aclamada pelo público, premiada com inúmeros galardões e agraciada com as mais altas distinções”.
“Oitenta anos de carreira não cabem em palavras. No Teatro Nacional D. Maria II, o seu nome ecoa em cada espaço. Eunice Muñoz deixa uma miríade de memórias. Hoje, relembramos com especial emoção o dia 28 de novembro passado, em que se assinalaram os 80 anos da sua carreira, e em que se despediu dos palcos, acompanhada da sua neta Lídia Muñoz”, lê-se na mensagem, sobre o seu desempenho em a “A margem do tempo”, do alemão Franz Xaver Kroetz, o derradeiro trabalho da atriz em palco.
Eunice Muñoz, que também deixa o seu legado “através de iniciativas como a Rede Eunice Ageas, projeto de digressão nacional que ‘amadrinhou'”, para que o teatro chegue “a locais onde a sua oferta é escassa ou irregular (…), deixa-nos o seu tempo, o exemplo da sua vida e o seu talento, que é já farol para as futuras gerações de artistas”, prossegue o Nacional.
Também o diretor artístico do Teatro da Trindade, Diogo Infante, considerou Eunice Muñoz a “maior atriz portuguesa de todos os tempos”, manifestando-se “desolado” com a sua morte hoje aos 93 anos.
“O seu lugar há muito que está reservado nos anais da história. A maior atriz portuguesa de todos os tempos”, salientou o ator, num texto publicado em rede social Facebook.