O Vigor do Empreendedorismo

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

O mundo global da competitividade apresenta-se-nos hoje como uma inevitabilidade, da qual temos de saber tirar o melhor proveito, no sentido de, pelo menos, atenuar os efeitos de uma crise profunda, que teima em manter-se e atingir com invulgar gravidade, os mais fracos, os mais carenciados, aqueles que, praticamente, não têm quem os defenda, pese embora e, justiça seja feita, a uma ou outra organização, a um ou outro político, verdadeiramente preocupados com este caos económico, financeiro e mercantil.

O ser humano, querendo, possui recursos abundantes para, através do empreendedorismo, resolver esta situação dramática, em que uma parte significativa da sociedade mundial está a viver no limiar da pobreza, portanto, a situação económica, os défices, e outras anomalias financeiras, não se vencem com austeridade sobre austeridade, impostos sobre impostos, redução de salários previamente contratualizados, cortes nas pensões e reformas, acordadas há décadas com um Estado que se presumia “pessoa coletiva de bem”.

Hoje, primeiro quarto do século XXI, o combate ao desemprego, à pobreza, à fome e à exclusão, qualquer que esta seja, está no poder de compra dos cidadãos, mas para isso é necessário que aufiram salários e pensões compatíveis com um adequado nível de consumo, em qualidade e quantidade, porque, “sem poder de compra, pouco ou nada se pode adquirir” (verdade de Monsieur de La Palice).

Empreender, produzir, consumir, reinvestir e modernizar são conceitos-chave que urge desenvolver no plano prático. É claro que o empreendedor também precisa do apoio do Estado, sob diversos aspetos: orientação administrativo-burocrática, acesso ao capital em condições favoráveis ao negócio, como o próprio investidor igualmente carece, na medida do possível, de conhecimentos e experiências.

Ao analisarmos o papel do empreendedor, não será difícil concordar com o seguinte conceito: «As empresas nunca precisaram tanto de verdadeiros empreendedores quanto nos dias atuais. Cada funcionário deve ter atitudes e comportamentos de dono do negócio, e as empresas de sucesso são aquelas que têm em seus quadros esses verdadeiros empreendedores.» (MARINS, 2005:64).

Uma sociedade pobre, e/ou a caminho da penúria, leva a consumos mínimos de bens e serviços, que por sua vez afetam o escoamento dos produtos fabricados pelas empresas e pelos diversos setores de atividade económica, entra-se na tal “espiral recessiva” ou, se quisermos utilizar uma outra imagem, ainda mais compreensível, ruma-se para a pauperização das pessoas, da comunidade, dos países.

Portanto, os incentivos aos investidores, devem constar do conjunto de medidas que visem restituir direitos adquiridos dos cidadãos e, entretanto, imoralmente, retirados. Mas os empreendedores precisam de diversos instrumentos e, em qualquer organização, os recursos humanos de alta qualidade são essenciais: «A grande verdade que não pode ser ocultada de quem pense com objetividade e inteligência, é que, para terem condições de competir no mercado atual, com possibilidades reais de vencer, as empresas precisam de um ativo fundamental: gente talentosa. O talento é hoje o recurso mais escasso e valioso das corporações. O capital pode, cada vez mais, ser obtido com boas ideias e bons projetos.» (BERNARDI, 2003:20-21).

Em bom rigor, de entre os diversos recursos que o empreendedor deve possuir, nem sempre o capital financeiro é o mais importante sendo, todavia, necessário para se adquirirem os bens adequados ao lançamento e funcionamento do projeto, no entanto, sem haver recursos humanos acima da média, ou pelo menos, fortemente motivados, que se sintam, também eles, como se fossem os próprios investidores, não haverá sucesso da empresa.

Não há que recear esta nova posição dos funcionários, no seio da sua própria empresa. Eles, realmente, sentem-se mais responsabilizados se forem considerados partes integrantes do empresariado, ou até na qualidade de acionistas e, neste papel, como que se auto-exigem mais rigor, mais qualidade, mais produtividade, porque sabem que no final de cada exercício, poderão obter maiores lucros, além dos respetivos salários poderem ser melhorados.

Nos tempos difíceis que correm, um pouco por todo o mundo, nos domínios da economia, do emprego, do poder de compra e da assistência aos mais idosos, qualquer investimento é sempre envolvido em maior ou menor risco, todavia, uma das características do empreendedor é assumir riscos, relativamente controlados, mas que a médio e longo prazos contribuam para o retorno dos investimentos, a retirada de lucros e uma parcela para modernização, expansão e consolidação da empresa.

O empreendedor inteligente sabe que a evolução positiva e sustentada da sua empresa não depende, em grande parte, dos recursos financeiros que investiu no projeto, mas sim das pessoas que o vão acompanhar, numa equipa multidisciplinar, coesa e competente.

Hoje em dia: «Nenhuma organização revoluciona ou conquista mercados se não transformar pessoas e conduzi-las ao crescimento. Eis aí a empresa viva: aquela que se preocupa com a vida de sua atividade e daqueles que a exercem. Mesmo no futuro virtual, deverá existir um fator humano por trás das telas de computador, pois, se não houver, os relacionamentos serão tão fracos que despertarão o saudosismo das emoções.» (ROMÃO, 2000:157).

Na permanente valorização, que é necessário ter para com os recursos humanos, importa destacar o papel, cada vez mais relevante, da mulher no seio das sociedades modernas, deste século XXI, porque, sem pretender fazer uso do argumento de que realmente estão, numericamente, em maioria, a verdade é que as provas de grande capacidade de trabalho, de rápida adaptação às mais diversas profissões, algumas das quais até há bem pouco tempo, exclusivas do homem, e porque, em regra, funcionam muito bem com uma intuição extremamente peculiar, em certas situações e setores.

Acontece que o empreendedor moderno, sábio e prudente, já não pode, nem deve deixar-se influenciar por determinados preconceitos, assentes numa mentalidade arcaica, da superioridade do género, na circunstância, masculino, porque: «As mulheres assumem, de maneira cada vez mais vigorosa, o comando da liderança do mundo. Intuição, um novo sentido de poder, objetivos diferentes para o dinheiro, despojamento, equilíbrio, crenças psicossociais diferenciadas formam um leque de atributos e qualificações com enorme compatibilidade e adequação a este novo mundo (…). No marketing o amor, a intuição, a família e o papel de mãe passarão a ser fatores críticos de sucesso.» (VIANA & VELASCO, 1998:133).

Certamente que, devido aos atributos femininos, o empreendedor ficará tentado a constituir a sua equipa de colaboradores maioritariamente feminina. Trata-se, a enveredar por tal opção, de uma decisão que deverá ter em conta algumas variáveis, em função da natureza da empresa, sua missão, objetivos, público-alvo, princípios e valores a observar, designadamente, e por exemplo: forças militares e de segurança, construção civil, indústrias extrativas do tipo minas, pescas, entre outras, na medida em que a compleição física é muito importante.

Mas há setores dentro da empresa em que o empreendedor também deve estar atento, nomeadamente às projeções: local, nacional e internacional da instituição, e isto faz-se através da qualidade e preço dos produtos, cumprimento de prazos, marketing da melhor qualidade e um bom serviço e/ou profissional de relações públicas, porque assim as possibilidades de chegar ao mercado e o atendimento ao cliente saem beneficiados.

Por muito reduzida que seja, é praticamente impossível dispensar a publicidade, o que exige técnicos especialistas e depois os interventores diretos no mercado, lançando os produtos e apresentando-os aos potenciais compradores e aqui entram as Relações Públicas que: «Complementam todos os elementos, de um negócio, mas especialmente as outras funções de marketing. Boas Relações Públicas ajudarão a criar uma imagem positiva de um produto, o que por sua vez encorajará o mercado a procurá-lo (auxilia a distribuição): fará os clientes valorizá-lo (apoia o preço) e encorajá-los-á a mostrá-los aos amigos (impulsiona a promoção).» (AUSTIN, 1993:24).

 

Bibliografia

AUSTIN, Claire, (1993). As Relações Públicas com Sucesso. Tradução, Manuela Madureira. Lisboa: Editorial Presença.

BERNARDI, Maria Amália, (2003). A Melhor Empresa. Como as Organizações de Sucesso atraem e mantêm quem faz a diferença. Rio de Janeiro: Elsevier.

MARINS, Luiz, (2005). Homo Habilis. Você como empreendedor. São Paulo: Editora Gente.

ROMÃO, Cesar, (2000). Fábrica de Gente. Lições de vida e administração com capital humano. São Paulo: Mandarim.

ROMÃO, Isabel, (2000). A Igualdade de Oportunidades nas Empresas. Gerir para a Competitividade. Gerir para o Futuro. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres – Presidência do Conselho de Ministros. Coleção Bem-estar, Nº 1

VIANA, Marco Aurélio Ferreira, & VELASCO, Sérgio Duarte, (1998). Futuro: Prepara-se. Cenários e Tendências para um Mundo de Oportunidades. 3ª Edição. São Paulo: Editora Gente.

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
http://nalap.org/

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