O vento que separa também pode aproximar

Litoral Santista. Foto Mundo Lusíada

Por Ronaldo Andrade

Pelo mar chegaram os portugueses a Santos: porto de imigrantes provenientes de vários países, com o povo lusitano o município criou a ligação mais estreita, tendo sido fundado em 1546 pelas mãos do fidalgo Braz Cubas, nascido na cidade do Porto. O tempo, mais que a passagem da existência, registrou na identidade santista a herança portuguesa, percebida de tal maneira na arquitetura, cultura, gastronomia, história e principalmente em nossa gente, riqueza maior de um país – no caso, de dois.

São três as hipóteses consideradas para a escolha do nome da cidade, todas com origens lusitanas: fundação do hospital de Todos os Santos da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, em 1543; o porto santista – localizado no lagamar de Enguaguaçu – seria geograficamente semelhante com o porto de Santos (um dos portos de Lisboa, no rio Tejo); por fim, o navegador português João Dias de Solis, que teria descoberto e batizado em 28 de dezembro de 1515 com o nome de ‘Rio dos Santos Inocentes’ o rio que seria a entrada do porto de Santos (no calendário cristão é o Dia dos Santos Inocentes).

Santos também é conhecida por ser a ‘Terra da Caridade e Liberdade’, que acolheu pessoas de todos os cantos do mundo (com ênfase para a Santa Casa de Misericórdia) e pela luta dos Irmãos Andradas, nomeadamente o ‘Patriarca da Independência’, José Bonifácio de Andrada e Silva, que teve importante papel para Independência do Brasil, em 1822. Ele manteve fortes laços com Portugal, por meio de estudos e de cátedra na Universidade de Coimbra, e por ter assumido cargos no governo português, sendo um dos santistas mais ilustres da História, quiçá o maior.

Santos Futebol Clube: glória futebolística onde jogou o melhor jogador de futebol de todos os tempos, Pelé, que conta com um museu no Centro Histórico em sua homenagem. O primeiro título mundial do time – verdadeiro bicampeão mundial – foi em 1962 contra o Benfica de Eusébio, no Estádio da Luz, com a vitória por 5×2 – o segundo título veio no ano seguinte, contra a equipe do Milan (Itália), 1×0 na partida decisiva, disputada no Maracanã, no Rio de Janeiro. Em 2016, o tradicional clube português foi o convidado de honra do Santos para a comemoração do centenário da Vila Belmiro, estádio santista – placar de 1×1.

De grande tradição cafeeira, um excelente passeio na cidade é bater um papo e colocar a conversa em dia na Bolsa Oficial de Café, admirando a bela arquitetura e painéis do pintor Benedicto Calixto – incluindo o imponente painel que retrata a elevação de Santos à categoria de Vila – degustando doces e salgados e tomando uma ‘bica’ ou um ‘café cheio’ de diversos aromas e sabores.

O bondinho que circula no Centro Histórico nos remete aos eléctricos portugueses, ao atravessar as ruas e mostrar casas, prédios e monumentos que contam o labor e a realização dos imigrantes lusitanos – ilhéus e do continente – que aportaram na cidade e a ajudaram a prosperar com dedicação e trabalho, abençoados por Nossa Senhora de Fátima e por Nossa Senhora do Monte Serrat, padroeira do município.

As praias santistas, bonitas para serem apreciadas de dia e à noite, são emolduradas pelos belos jardins que nos convidam a sentir a natureza, esticando o passeio em visita ao Orquidário, abundante em fauna e flora, e o Aquário Municipal, que possui diversidade de espécies que nos remete ao mar tão estimado aos portugueses, de extensa história na navegação e que possibilitou propagar sua cultura a outros povos.

Algumas conexões se estabelecem com tamanha força que o amor, linguagem universal, dá cabo por si só; temos, porém, a riqueza da Língua Portuguesa, bela e detentora de esplendor que nos chegou pelo oceano, com desembarque no maior Porto da América Latina, que recebe cargas, navios, tripulantes e palavras de braços e corações abertos.

Lá, como cá, os olhares se cruzam; o Atlântico é apenas o caminho entre os dois povos que, respeitadas as diferenças, se assemelham e se situam mais próximos que a geografia permite, possibilitando o encontro dessas nações que, tal qual um casal de namorados após longa ausência, alegram-se com o saudoso beijo por tantas vezes sonhado.

Por Ronaldo Andrade

Jornalista, fotógrafo e escritor. Servidor público. Pós-graduado em Política e Relações Internacionais (Fundação Escola e Sociologia de São Paulo / SP) e em Gestão Pública Municipal (Universidade Federal Fluminense / RJ).
Correspondente do Jornal Mundo Lusíada na Baixada Santista desde 2007.

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