O retorno de Abílio Diniz

Por Reginaldo Gonçalves

 

Inacreditável, mas a longa novela da gestão do grupo Pão de Açúcar, finalmente, acabou. As inúmeras e longas disputas relacionadas ao controle do grupo e a árdua luta do empresário Abílio Diniz, que pretendia ficar no poder do conglomerado, acabaram sendo frustradas pelo poderoso Casino.

Em 2000, o empresário iniciou um novo processo de reengenharia da Companhia Brasileira de Distribuição e assumiu a liderança no ranking das maiores redes de varejo do País. O grupo encerrou aquele ano com 416 lojas em onze estados brasileiros, com o empresário – também um esportista convicto – lutando incansavelmente para continuar no comando.

As estratégias de Abílio Diniz foram as mais variadas, inclusive envolvendo a rede Casas Bahia, de Samuel Klein, em uma operação arriscada de fusão com outro grupo, o Ponto Frio.

Consolidada a operação, e sendo uma estratégia importante para o varejo, as várias e incansáveis discussões com a família Klein com relação ao desenho formatado e a partilha dos ganhos, que em primeiro momento pareceram ser vantajosos, acabaram sendo criticadas pelos executivos do grupo Casas Bahia que sentiram-se ludibriados.

A discussão e a busca de alternativas na manutenção de Abílio Diniz não é recente.  No passado, quando o Pão de Açúcar passou por dificuldades, a “solução” foi uma “salvadora oferta do grupo francês”: a aquisição de ações que dariam o poder de comando.

Entretanto, pelo acordo efetuado houve a assinatura de um tratado de acionistas que previa a gestão do grupo pelos próximos dez anos por Abílio Diniz e, posteriormente, pelo Grupo Casino.

Na outra ponta, uma das formas de tentar efetuar a busca pela manutenção do poder foi a fusão do Ponto Frio com as Casas Bahia e, posteriormente, a busca de união com outro gigante francês, o grupo Carrefour. A ideia era que um negócio mais amplo poderia permitir, dependendo da forma que fosse traçada, as estratégias da manutenção de Abílio no poder.

Esse fato chamou a atenção de Jean-Charles Naouri, presidente do Conselho do Grupo Casino, empresário experiente, que percebeu as manobras que estavam sendo orquestradas e, naturalmente, poderiam atrapalhar os planos do Casino em direção ao poder total do Pão de Açúcar.

Diversas situações foram elencadas entre as partes,  inclusive no foro íntimo das relações, pois, perder o poder não é uma questão cômoda para aqueles que estão vinculados aos negócios.

A busca de um Juízo Arbitral Internacional foi uma das ameaças do grupo francês que não abriu mão dos seus direitos até pela desconfiança e desgaste causados por Abílio Diniz nas estratégias envolvidas.

Em nova carta marcada, e tendo como premissa ainda uma alternativa de elevar o número de ações ordinárias, Diniz buscou a mudança das ações preferenciais em ordinárias justificando a participação no novo mercado da BOVESPA. A ideia era que, se houvesse essa alternativa, a família Diniz poderia continuar no poder, fato esse que não foi aceito pelo Casino.

Recentemente Abílio recebeu a proposta de assumir o Conselho de Administração da BR Foods por meio do apoio de diversos fundos de pensão. Isso gerou novas críticas por parte do grupo Casino em virtude da possibilidade de haver conflito de interesse.

O empresário brasileiro, mesmo distante das decisões estratégicas, estava bastante contrariado, principalmente após a redução dos gastos pessoais (transporte, segurança) assumidos pela empresa que causaram uma situação ainda pior, que culminou na decisão de sair do Pão de Açúcar. E ponto final na novela!

Como gestor e estrategista não restam dúvidas que Abilio Diniz conseguiu erguer um império que tinha sérios problemas familiares e que, com parcerias e habilidade, acabou conquistando alternativas seguras de manutenção do patrimônio empreendido. Hoje, o investidor Abílio Diniz tem uma nova oportunidade na BR Foods SA. Investidores apostam todas as suas fichas neste homem que vai comandar uma expansão internacional da maior empresa de alimentos do país e aumentar suas margens de lucro.

Abílio Diniz, aos 76 anos, certamente ainda tem muita disposição para ajudar a empresa de comida pronta e iogurtes a cortar custos e melhorar a eficiência.

 

Por Reginaldo Gonçalves
Coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina – FASM

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