Por Odair Sene – No final do mês de outubro, a Lusa publicou declarações do cardeal José Policarpo, sobre o tamanho da dívida portuguesa, o qual afirmou em Setúbal, que Portugal, em caso de incumprimento, só teria dinheiro para um mês e meio e acusou a oposição de não apresentar soluções.
“Parece que ninguém sabe que Portugal está numa crise e dá a ideia que todos reagem como se o estado pudesse satisfazer as suas reivindicações”, disse o patriarca emérito de Lisboa, mostrando-se convicto de que o governo não tem condições para satisfazer as reivindicações dos sindicatos e partidos da oposição.
“Não encontrei ninguém das oposições – todas elas – que apresentasse soluções. E se falhasse este mecanismo da economia liberal [apoio financeiro no âmbito do pedido de resgate], Portugal só teria dinheiro para mês e meio”, frisou, acrescentando que, nesse cenário, “não haveria dinheiro para pagar salários e pensões”.
O cardeal José Policarpo falava a cerca de duas centenas de pessoas na Conferência “Caridade é a fé em ação”, promovida pelo Secretariado da Ação Social e Caritativa da Diocese de Setúbal, integrada nas celebrações do Ano da Fé.
“Se todos pusessem em primeiro lugar o bem comum e fizessem qualquer coisa que ajudasse a resolver o problema, estou convencido de que isto nos custava metade do preço e do sofrimento”, disse, acrescentando que, “estamos todos a pagar os erros cometidos com a especulação financeira em prejuízo das economias ocidentais”.
Porém (históricamente), os países nas piores condições financeiras costumam manter uma cultura de esbanjamento de recursos públicos sem lá muito pudor do que pensam as mídias internas, do que falam as mídias externas, seus opositores, seus tribunais, quanto menos seus cidadãos. Sem mudar essa cultura, o povo continuará a sustentar com sua pobreza, as mordomias políticas do sistema.
Há de se concordar com a ideia de que, a razão pela qual os países do norte da Europa estão a ficar cansados de subsidiar os países do Sul é tão simples como uma análise e a certa conclusão da estrutura montada pela e para a máquina pública seguir a funcionar em pleno vapor.
Sobre a estrutura política portuguesa:
PORTUGAL É O PAÍS DA EUROPA EM QUE, SIMULTANEAMENTE, SE VERIFICAM OS SALÁRIOS MAIS ALTOS A NÍVEL DE GESTORES/ADMINISTRADORES E O SALÁRIO MÍNIMO MAIS BAIXO PARA OS CIDADÃOS.
E a máquina pública:
GOVERNO PORTUGUÊS
– 3 Governos (continente e ilhas)
– 333 deputados (continente e ilhas)
– 308 presidentes de câmaras
– 4259 presidentes de junta de freguesia
– 1770 vereadores camarários
– 30.000 carros
– 40.000 (?) fundações e associações
– 500 assessores em Belém
– 1284 serviços e institutos públicos
Para que a Assembleia da República Portuguesa tenha um número de deputados “per capita” equivalentes à Alemanha, teria que reduzir o seu número em mais de 50%.
É um grande contraste com a atual condição econômica que vive o país. E dificulta ações de secretarias, ministérios, embaixadas e consulados, que tentam a todo modo trazer investimentos externos através da emigração. Logicamente os grandes empresários da diáspora têm uma visão do que passa na máquina pública.
Portanto, ao final, cabe uma resposta para o cardeal José Policarpo: aqui está uma solução:
Analise-se a estrutura política alemã e veja como lá está a funcionar. Depois estude-se a estrutura, bem maior, de Portugal.
Fica a pergunta: O POVO PORTUGUÊS NÃO TEM CAPACIDADE PARA CRIAR RIQUEZA SUFICIENTE PARA ALIMENTAR TAMANHA ESTRUTURA – OU (ainda) TEM?