É um tema polêmico. Muita gente ainda não acredita que o ser humano teria responsabilidade efetiva pelas mudanças climáticas. Dizem que as alterações fazem parte de um processo natural, que se encaminha ao longo de milhões de anos em contínua trajetória, como as ‘eras glaciais’ e suas ultrapassagens. Além disso, seria difícil quantificar dados sobre o todo planeta, incluindo sua evolução física. Mas, outro lado diz que não. A coisa não é bem assim. De fato, há mudanças que a própria natureza executa com o tempo, porém, as transformações que vivenciamos no clima têm sim a ação humana como fator determinante, apostando nos dados colhidos de forma ampla. E, semana passada, mais uma prova a favor deste último grupo foi posta a publico. O IPCC, sigla em inglês para Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, divulgou dia 26 último um novo relatório que aumenta o grau de certeza dos cientistas em relação à responsabilidade do homem no aquecimento global. Foi o chamado “Sumário para os Formuladores de Políticas”. E ele não traz notícias tranquilizadoras.
O trabalho refere-se à primeira parte de um conjunto de dados que servirá de base para as negociações climáticas internacionais. A última versão saiu em 2007, quando o estudo rendeu o Prêmio Nobel da Paz ao grupo de especialistas. O primeiro capítulo, de um total de três, aborda “A Base das Ciências Físicas”. As demais etapas serão publicadas em 2014. O documento apresentado em Estocolmo, na Suécia, dentro da conferência científica realizada ao longo da semana, mostrou que há mais de 95% de chance – hipótese ‘extremamente provável’ – de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau – a edição anterior do Painel, que constantemente revê os estudos, falava em mais de 90%. Diz o Sumário que “a atmosfera e o oceano se aqueceram, a quantidade de neve e gelo diminuiu, o nível do mar subiu, e as concentrações de gases-estufa aumentaram”. O nível dos oceanos aumentou 19 cm entre 1901 e 2010 e as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram para “níveis sem precedentes em pelo menos nos últimos 800 mil anos”.
No final deste século, a temperatura média da superfície terrestre ‘provavelmente’ vai exceder um aumento médio de 1,5°C até 2100, em relação à média de 1850 a 1900, período da Revolução Industrial já avançada – supondo seu início ainda no século XVIII. Isso vale para todos os cenários considerados, exceto o mais otimista no qual emissões de gases estufa sofrem cortes drásticos, atingindo um pico daqui a dez anos e caindo para zero 50 anos depois. Em um cenário intermediário, no qual as emissões dobram até 2060 e recuam a um nível maior que o atual antes de 2100, a temperatura provavelmente excederá um aumento de 2°C, limite considerado perigoso por cientistas.
O novo relatório diz, então, pelo termo usado ‘provavelmente’ que há ao menos 66% de chance de a temperatura global aumentar pelo menos 2ºC até 2100 em comparação aos níveis anteriores a Revolução Industrial, caso a queima de combustíveis fósseis continue no ritmo atual e não sejam aplicadas quaisquer políticas climáticas já existentes. O relatório também afirma com ‘alta confiabilidade’ que o aquecimento dos oceanos domina o aumento da energia armazenada no sistema climático. Mais de 90% da energia acumulada pela Terra desde 1971 foi armazenada nos mares, diz o texto. Desta forma, o aumento do nível do mar entre 1900 e 2012 foi de 19 cm e, mesmo com uma queda brusca de emissões – cenário otimista -, esse número pode quase triplicar, em razão de os oceanos já terem absorvido bastante temperatura.
Enfim, caros parceiros desta nave espacial chamada Terra, podemos terminar com um aquecimento modesto, coisa de 1 grau, contudo, podemos acabar despertando forças violentas, porque a natureza é bem mais poderosa que os atrevidos seres humanos. Não custa lembrar, e quem curte um pouco de astronomia sabe, Vênus, um planeta do tamanho da Terra, nosso vizinho no espaço numa órbita um pouco mais próxima do Sol, por conta de um efeito estufa impulsivo, acabou por se tornar um inferno escaldante, com temperaturas superiores a 450 graus Celsius. A lição do cosmos nos ensina, assim, que a coisa pode ficar muito pior do que sugerem as sugestões mais calamitosas do IPCC. Governos e sociedades civis precisam acordar para este fato e ajudar a equilibrar as ações na direção da preservação do planeta, para que não percamos o único abrigo conhecido no universo para nossas formas de vida.
Para concluir, é interessante lembrar que já em 20 de agosto passado ocorreu o esgotamento anual do fornecimento de recursos pelo planeta ao homem, conforme a estimativa da ONG Global Footprint Network, que pesquisa há dez anos a relação consumismo x natureza, calculando o “Dia da Sobrecarga”. Se a humanidade se comprometesse a consumir a cada ano só os recursos naturais que pudessem ser repostos pelo planeta no mesmo período, em 2013 a Terra estaria encerrando suas atividades em 20 de agosto. Neste ano, o esgotamento ocorreu mais cedo do que em 2012 – 22 de agosto –, e a piora tem sido persistente, cada vez mais antecipando o esforço contábil da Mãe Natureza ‘no vermelho’. Fica a reflexão para cada um fazer pessoalmente e tomar sua iniciativa de ação. Individual e influenciando o coletivo ao seu redor. São Paulo, 03 de outubro de 2013.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.