Por Humberto Pinho da Silva
A dedicação, a lealdade, e a gratidão, que os cachorros têm a quem se dedica a eles, é sobejamente conhecida.
Todos conhecemos ou pelo menos escutamos, cenas comoventes, e provas exemplares de amor.
O cão não é apenas animal de estimação, presta, desde tempos imemoriais, valiosos serviços. É o único ser, que consegue apenas viver de amor.
Os restantes animais têm, que retribuir com trabalho. Ao cachorro, não.
A dedicação, o entusiasmo que demonstram ao verem o dono; o instinto de protegerem quem cuida e lhes dispensa carinho, garante-lhes vida folgada.
Ao ler a biografia do compositor Mozart, fiquei impressionadíssimo com a dedicação do seu cão Pimperl; o único, que indiferente à violenta intempérie, que desabara sobre Viena, acompanhou-o até ao cemitério de São Marxer, atrás do carro que transportava o compositor.
Até à igreja de Santo Esteves, três ou quatro amigos, provavelmente admiradores do talento genial de Mozart – ou seria compaixão? – Seguiram o féretro, depois, só o cachorro – o amigo sincero que tinha, – acompanhou o funeral; e mergulhado em profunda tristeza, assistiu ao sepultamento, em vala comum.
Dizem, não há confirmação, que a esposa, Constanze Weber, não acompanhou o marido, por se encontrar muito comovida. Decorridos dias, foi ao cemitério certificar-se onde haviam enterrado Mozart.
Disseram-lhe que não sabiam, porque fora atirado para a vala comum: Porém, um coveiro, esclareceu-a, que dias depois, apareceu morto, devido ao frio e à fome, cachorro, no local onde enterraram Mozart, mas tinham-no lançado ao lixo.
Esta informação, digna de registo, nunca foi devidamente confirmada. Biógrafos do compositor, consideram-na fantasia – fazendo parte da lenda urdida à volta de Mozart e do dedicado cão.
A desgraça e a fuga de amigos, deve-se, em parte, à inveja do compositor António Solleri, receoso de ser ofuscado, e perder o prestígio que gozava em Viena.
De concreto quase nada se conhece. – Esquecidos os êxitos de Mozart, as noites de glória, os louvores de reis e rainhas, a condecoração do Papa Clemente XIV, e a admiração de muitos compositores e músicos do seu tempo, Mozart passou a ser um desconhecido…
Uns, dizem que faleceu junto da esposa; outros, que ela estava em Paris, e que a família vivendo em Salzburgo – cidade natal do compositor, – não pode estar presente no funeral, realizado por amigo.
Ao certo, conhece-se que apenas o cachorro o acompanhou à última morada.
Ao ouvir-se a “Flauta Mágica”,”As Bodas de Fígaro” ou “ Don Giovanni”, é bom lembrar que o verdadeiro amigo do genial Mozart, foi o seu cão: indiferente à miséria, à chuva, à tempestade desabrida, que caía, acompanhou o dono até ao cemitério… e ai morreu de amor e saudade.
Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal