É absurda a condição vivida pela população palestina da Faixa de Gaza hoje. O mais recente conflito entre israelenses e palestinos começou em meados de junho, quando três adolescentes israelenses foram sequestrados e mortos. Israel acusou o Hamas pelo fato, além de apontar também o grupo como responsável por esconder militantes e armas em locais residenciais em Gaza, além de regularmente atirar foguetes sobre o território israelense. Como o Hamas não aceita a existência do Estado de Israel, o governo do país enxerga o grupo como inimigo terrorista – e baseado no ‘radicalismo islâmico’ – e não vê outra solução a não ser fazer a intervenção militar de maneira ‘rigorosa’. Diálogo, desta forma, é muito difícil. E o massacre, assim, está decretado.
Há uma desproporção brutal quanto ao poder de fogo entre ambos os lados, embora o governo israelense afirme que se esforça para minimizar os ‘efeitos colaterais’ nas intervenções ao emitir sinais de alerta para moradores e ‘antecipar ataques grandes com bombas pequenas’, segundo afirmam as agencias internacionais de notícias. No geral, os palestinos sentem a presença israelense sobre Gaza de forma abusiva e a situação humanitária é insustentável. Os moradores dependem de Israel para ter eletricidade, água, meios de comunicação e até moeda para compras diárias.
O Hamas é o maior dos vários grupos islâmicos militantes palestinos. Seu nome representa uma sigla em árabe para Movimento de Resistência Islâmica. Despontou com o início da primeira revolta palestina contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, em 1987, denominada Intifada. Tem dois objetivos expressos: trazer bem-estar ao povo local e combater a existência do Estado de Israel, missão conduzida por seu braço armado, as brigadas Al-Qassam, o que os coloca como terroristas, na interpretação de Israel, EUA, Canadá, União Européia e Japão. O Hamas também tem problemas de relacionamento com outro grupo palestino, o Fatah. Este controla a Cisjordânia e aceita a criação de dois Estados – Israel e Palestina – na região. Para o Hamas, a área onde hoje está Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia deveria ser, toda, Estado Palestino.
A chamada Autoridade Palestina, desenvolvida desde os anos 1980, é formada principalmente por nacionalistas palestinos seculares que acreditam em um acordo de pacificação entre os lados. Yasser Arafat, morto em 2004, foi uma de suas grandes lideranças. Desde 2007 as desconfianças entre a direção do Fatah e do Hamas geraram forte crise. E Israel e seus aliados têm, assim, combustível para fazer os ataques em represália às agressões pelos terroristas. Especialmente quando liderados por gente mais conservadora, caso do atual primeiro ministro Benjamim Netanyahu, do partido Likud. A Faixa de Gaza, palco do cenário infernal destes dias, foi tomada por Israel em 1967 na chamada Guerra dos Seis Dias e entregue aos palestinos em 2005, apesar de suas fronteiras e territórios aéreos e marítimos serem controlados na prática pelos israelenses. Há oito anos acontece um bloqueio econômico de bens essenciais e, fora isso, houve a suspensão do pagamento de 43 mil funcionários públicos locais.
Desde abril de 2014 Hamas e Fatah buscavam se reorganizar. Em junho foi, inclusive, criado um governo de união entre as partes. Neste momento, Israel não aceitou o pacto entre os grupos palestinos e rompeu as conversações de paz. Assim, o seqüestro dos três rapazes deu um belo motivo para nova intervenção militar repressiva. No dia 30 de julho, quarta feira, a ONU e os EUA condenaram um bombardeio que Israel realizou e atingiu uma escola. Foi interpretado como “séria violação aos direitos internacionais”. O Vaticano também falou em “violação dos direitos humanos”. Até ali, desde o início da atual ofensiva, Israel lançou 3.289 ataques contra Gaza. Eram 1.330 palestinos mortos e 7.300 feridos oficiais. Eram 50 israelenses mortos até então. Três quartos dos mortos palestinos são civis, segundo a ONU. E uma perspectiva de fim é muito inviável. Como se poderá ensinar a paz para todas estas crianças da região que nascem em meio a um banho de sangue de tais proporções?
Apenas para lembrar, uma vez que no geral a imprensa destaca os conflitos entre Israel e os palestinos há menos de 50 anos, que as raízes estão, na verdade, no final da II Guerra Mundial quando o Estado de Israel foi criado oficialmente, em 1948, pela novata ONU (1945), dentro de um anseio antigo dos judeus em terem seu território nacional, potencializado pelas perseguições e pelo crime nazista do Holocausto. Assim, em meio a debates tensos, a despeito da forte oposição dos árabes naquela época, a Assembléia Geral das Nações Unidas, sob a presidência do embaixador brasileiro, o gaúcho Oswaldo Aranha, com votos incluindo EUA e URSS, aprovou em 29 de novembro de 1947 a partilha da Palestina – administrada então pela Inglaterra – em dois Estados, um judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união econômica e aduaneira. Uma área de aproximadamente 20 mil km2. A Palestina seria dividida em oito partes: três pertenceriam ao Estado judeu, três ao Estado árabe, a cidade de Jaffa deveria formar um enclave árabe dentro do território judeu e a oitava parte, Jerusalém, cidade sagrada para as três grandes religiões monoteístas, teria administração de um conselho tutelar da ONU. A região contava com uma população de 1,3 milhão de árabes e cerca de 600 mil judeus. O futuro Estado judeu corresponderia, então, a 55% do território. Ao Estado árabe caberiam 45% da área. Os povos árabes não toleraram o raciocínio e as decisões. Decepcionados e com sentimento de terem sido prejudicados nos ‘bastidores’, partiram para o ataque. Israel defendeu-se e avançou pelos territórios dos palestinos, expandindo bases. Nunca mais a região teve sossego. E nada indica, até o momento, que vai ter um dia. São Paulo, 31 de julho de 2014.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo.