Foi um jogo parelho onde, bem observado, temos que admitir que ambos os times estiveram à altura um do outro e, pelas circunstâncias no decorrer da partida, a vitória caberia bem a qualquer um dos dois. Entretanto, embora pareça um paradoxo, diga-se que o empate não seria justo haja vista as oportunidades de gol criadas pelas duas Seleções, onde a realidade é que Portugal até poderia ter alcançado o saldo de gols necessários para a qualificação para as oitavas se o Cristiano Ronaldo estivesse em dia mais feliz e se o goleiro africano, o Dauda, não estivesse tão inspirado com defesas milagrosas e, por fim, se não tivesse havido compadrio no jogo Estados Unidos x Alemanha, onde claramente houve acomodação por parte dos alemães, não lutando com o objetivo de ampliar o placar visto que com o 0 x 1 a favor, estavam com o 1º lugar garantido e os americanos com o 2º e, consequentemente, ambos estavam classificados, para alegria de ambos os técnicos Jürgen Klinsmann e Joachim Löw, respectivamente, sendo bem significativo o fato de que ambos são alemães e amigos de longa data. Mas essa expressão “se” é sempre de uso complicado visto apenas significar meras hipóteses e, quando ele prevalece, … ora bolas!
Entretanto, desta vez, a “Seleção das Quinas” mostrou ser um time mais equilibrado tática e emocionalmente e, sobretudo, mais solidário, demonstrando personalidade e um espírito de luta notórios, o que lhe faltou por demais nos dois jogos precedentes. Obviamente que se conclui que não foi neste jogo que a Seleção Portuguesa perdeu a oportunidade de passar à fase imediata neste Mundial, mas sim no jogo com os Estados Unidos, onde, sendo um time notoriamente superior tecnicamente, foi evidente a ausência desses mesmos predicados que, afinal de contas, eram basicamente resultantes de equívocos do Paulo Bento na escalação do time, apesar de dispor do CR7 como um trunfo excepcional, porém muito mal aproveitado pelos seus companheiros, motivando-lhe um inconformismo e uma frustração claramente estampados em seu rosto. E, assim, “o ouro foi entregue ao bandido”. E o tempo não volta para trás.
Em linhas gerais, analisando na íntegra a participação de PORTUGAL no Mundial 2014, existem alguns atenuantes para o insucesso ocorrido, como sejam o de ter ficado reduzido a 10 jogadores em campo a partir dos 37 minutos do 1º tempo e todo o 2º tempo do jogo contra a Alemanha em face da expulsão do Pepe, o que botou por água abaixo qualquer possibilidade de reação do time, acrescentando-se um outro complicador fundamental que foi a perda de um total de 7 jogadores por lesão, ocorrida nos dois primeiros jogos, que tiveram de retornar a Portugal sem que tenham sido trocados, haja vista o fato de que o Regulamento da FIFA só permite o pedido de troca de jogadores convocados até 24h antes da estreia das Seleções no Mundial, pelo que, dos 23 selecionados, restaram apenas 16, ficando Paulo Bento com reduzidas opções para a escalação do time. Essa experiência desagradável deveria ser motivo para a FIFA rever tal restrição, atentando-se que o exemplo está em que Portugal até correria o risco de chegar num ponto em que nem sequer teria os 11 para entrar em campo, caso tivesse de continuar na competição, o que revela um verdadeiro contrassenso.
Como análise final, não há muito a dizer, a não ser que, para o futuro próximo, deverá haver uma mudança radical nos critérios ora utilizados pela Federação Portuguesa de Futebol e pelo seu staff técnico, proporcionando à Seleção Nacional a necessária força e alto nível de qualidade no que concerne ao material humano que a comporá, a espelho das de 1966 e 2006 que foram efetivamente “grandes”, haja vista que, além do mais, dispunham de um comando de alto nível, como sejam, o Otto Glória e o Luiz Felipe Scolari (“Felipão”), respectivamente, pelo que os bons resultados vieram em função de um fator fundamental, a qualidade. Portanto, para tal, que se considere como titulares absolutos o William Carvalho pela sua juventude aliada a uma performance do mais alto nível e Cristiano Ronaldo pelo que é e ainda será por um bom tempo. De resto há que se rever tudo e selecionar aqueles que, de fato, sejam os melhores do momento, haja vista que – sendo Portugal um país pequeno em termos de dimensões físicas, o é também em termos demográficos visto ter apenas em torno de 10 milhões de habitantes –, não há qualidade em quantidade, ficando, portanto, restritas as opções de escolha.
Encerrando, temos que aceitar compreensivelmente o retorno precoce à “Santa Terrinha”, numa viagem de regresso que decerto não será nada animada, haja vista que a “renovação das esperanças” acabou por virar fumaça, porém com o honroso mérito do alívio da consciência de que, pelo menos, fizeram “uma despedida com dignidade”. … Bye bye Brasil!!!
Por Gaspar Nunes
Rio de Janeiro, 26/06/2014