O Homem: Espiritual e Material

MARIO CRUZ/LUSA

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

É reconfortante ter a capacidade de acreditar que existe mais Mundo, para além do mundo físico, na circunstância, o universo dos planetas, astros e outros corpos celestes e, concretamente, o planeta Terra que o homem habita, desde tempos que, dificilmente, consegue localizar e quantificar objetivamente.

A possibilidade, sempre em aberto, para os que acreditam num mundo metafísico, pelo menos diferente daquele que, parcialmente, se conhece, em perspectivar uma forma de existência, sobrenatural, inefável, espiritualmente eterna, deve estimular o homem para, enquanto residente na Terra, assumir-se como um ser excecional, dotado de características únicas, superiormente privilegiado, porque algo lhe foi acrescentado, que o distingue, o eleva e dignifica, acima de quaisquer outros seres, pelo menos, tanto quanto é possível conhecer-se, no atual estádio de desenvolvimento da humanidade. O homem, na sua dimensão espiritual, continua a ser um mistério.

O homem (aqui e de ora em diante referido à humanidade, isto é, homem e mulher), um Ser inigualável, único, irrepetível, infalsificável, superior, não deve contentar-se, apenas, com as explicações científicas, técnicas e esotéricas, sobre a sua constituição e importância material, no planeta em que vive.

É possível que exista mais homem para além do homem físico, biologicamente estudado e conhecido. Há uma outra realidade que as ciências, a técnica e a maquinaria ainda não conseguiram explicar pela linguagem científica, rigorosa e objetiva. Este é o grande drama do cientista, do técnico, do especialista, do político, do religioso, enfim, de toda a humanidade.

A incerteza, o drama, a ansiedade e o mistério que envolvem o ser humano, poderão ser utilizados numa perspectiva positiva, sem receios de quaisquer fracassos, sejam estes quais forem: sociais, cognitivos, éticos, políticos, religiosos ou outros. Bem pelo contrário, há uma possibilidade de o homem eliminar este sofrimento, provocado pela ignorância acerca do sentido e destino para a sua vida, globalmente considerada, onde se completam as dimensões física e espiritual.

E se quanto à primeira, o conhecimento do seu destino e fim – morte e desaparecimento -, são relativamente conhecidos; no que à espiritualidade se refere, aqui, para os positivistas, materialistas, agnósticos, ateus, e outros descrentes, as dificuldades em refletir e aceitar alguns sinais divino-naturais são, praticamente, insuperáveis.

A desorientação: que tanto incomoda a humanidade em geral; e os cientistas e técnicos em particular, pode ser ultrapassada se se vencerem certos complexos, quanto ao valor de outros conhecimentos, sentimentos e emoções que, estes sim, o homem, ao longo da sua vida, vai vivenciando, relacionando-os, depois, com factos concretos, experimentados durante o percurso físico no Planeta, que lhe foi dado para viver.

O próprio homem, objetivo, mensurável, racionalista, quantitativamente rigoroso, concreto e material, confirma que, em algum momento da sua vida, sentiu, ou julgou sentir, sensações estranhas, cientificamente inexplicáveis, cuja origem não sabe compreender, e as consequências também não foram determinadas, com o rigor da ciência e da técnica. Ficou-lhe, apenas, a verificação da sua incapacidade, da sua impotência, para esclarecer e resolver tais situações.

O homem, superiormente iluminado, impulsionado por um outro sentimento, que lhe é exclusivo e constitui um privilégio, vence, finalmente, o drama, a angústia, o sofrimento e a incerteza quando, invocando a ajuda Divina, uma sensação de tranquilidade e de esperança o invade, e o liberta daquele desconforto. É este homem superior, gerado e criado à imagem e semelhança do seu Deus, e nos preceitos da sua religião, que se determina em função do Ente Divino que o justifica.

Aceite-se, então, como proposta de reflexão, a existência deste homem humano, que é pessoa integral, composta pelas dimensões material e espiritual que, fisicamente, está limitado, desde logo, pela própria natureza que o envolve, que não a vence em definitivo, que a aproveita conforme pode e que, destruindo-a por um lado, também por ela vai sendo destruído.

Reconhece-se, portanto, a existência deste lado fraco, efémero e mortal do homem. Congregue-se e valorize-se a dimensão espiritual do homem, na sua vida quotidiana, utilizando-se a fé, que pela via espiritual o liga a Deus, de Quem recebe todo o conforto, entusiasmo e vontade para O imitar e prosseguir na caminhada pelo infinito, pelo perpétuo, até encontrar Aquele que o compreende e colabora com toda a natureza: «Longe, portanto, de nos apartarmos do que a fé nos ensina, propomos uma doutrina mais bela, mais grandiosa, mais lógica e racional, que nos dá, por outra parte, uma ideia mais exacta dos atributos de Deus, sobretudo da sua bondade infinita e da sua omnipotência soberana.» (BUJDANDA, 1956:191).

A humanidade alcançará a Paz e a Felicidade pela fé, pelas boas-práticas religiosas, no diálogo inter-religiões, no respeito pelo Deus universal, através das divindades invocadas por cada povo, por cada cultura, por cada pessoa humana.

 

Bibliografia

BUJANDA, Jesus, S.J., (1956). A Origem do Homem e da Teologia, Edição Portuguesa, Porto: Livraria Apostolado da Imprensa.

 

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
http://nalap.org/

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