Tenho uma sincera admiração pelos “grupos de folclore” (e não só claro), sedeados nas nossas comunidades, pois a eles se deve que por aquelas paragens se continue a sentir e a pensar em português. Certo que a grande maioria não possui a representatividade que se desejaria, mas a maioria dos que existem em Portugal estão na mesma situação, e não se debatem com as dificuldades acrescidas pela distância. E por distantes paragens, mesmo que defasados do restante, um malhão, um corridinho ou uma chotiça, são sempre um pingo de portugalidade.
Em minha opinião, um grupo de folclore nas comunidades tem duas opções correctas – ou é a réplica de um grupo existente em Portugal, ou representa uma região (para mim o mais certo). Mas nem sempre é fácil, em especial se estivermos perante uma comunidade heterogenia quanto às origens. E aqui, não me repugna que o grupo seja multi-regional isto é, traje, cante e dance como em vários pontos do país, não deturpando no entanto as coreografias e sabendo explicar os trajes e as danças que apresentam.
Algumas sugestões:
1º) Limitar o seu repertório aos números tradicionais, excluindo mesmo que pouco a pouco, os estritamente populares; o tradicional é sempre popular, mas o popular pode não ser tradicional. Alguns exemplos do tradicional: Corridinhos, Viras, Chulas, Chotiças Moda a dois passos, etc., cujos autores se perderam na memória dos tempos, e caracterizaram determinada terra ou região: quanto ao estritamente popular, temos as canções de autores conhecidos, e que não caracterizam terra ou região;
2º) Tentem que os trajos correspondam sem modificações, às tradições das respectivas regiões;
3º) E porque em folclore é proibido inventar, tentem a recolha exata da coreografia que na zona que querem ali representar corresponde à respectiva música. E tudo isto está hoje facilitado com as novas tecnologias que nos trazem o som e a imagem;
4º) Não façam concursos, porque não podemos comparar o que não tem comparação, e é impossível encontrar um júri que o possa fazer com coerência. Escolher o grupo de que mais gostaram, isso é possível, mas em “cultura tradicional” nem sempre o mais representativo é o que mais agrada. Se por exemplo, colocarmos um grupo algarvio bailando um corridinho de perninha no ar (o que não é folclore por não ser tradição) frente a um bom “Coral Alentejano”, não temos dúvidas que os maiores aplausos vão para o corridinho no entanto…
A terminar, peço que entendam esta “conversa” como a opinião de um colega mais experiente (tenho 73 anos e 40 de folclore) e a título de sugestão, até porque de modo algum tento imiscuir-me na vida interna de qualquer grupo, que é sempre propriedade daqueles que o constituem. Aponto caminhos que só segue quem quer. Mesmo quando em funções de Conselheiro Técnico Regional da Federação do Folclore Português e não é este o caso a base da minha ação junto dos grupos que o solicitam assenta precisamente nestes princípios.
Uma última informação, a de que vamos avançar com uma experiência-piloto de apoio aos grupos de folclore sedeados no Luxemburgo, país onde vamos oficializar a nomeação de uma delegada do Grupo de Promoção de Montargil, cuja função de imediato é informar que grupos existem e quais os seus objetivos em termos de representatividade, após o que os colocarei em contato com os respetivos Conselhos Técnicos Regionais da Federação (os quais, diga-se, só agora vou contatar).
Por Lino Mendes
Conselheiro Técnico Regional da Federação do Folclore Português