Um amigo dentista, Dr Marcelo Piaia, outro dia, disse-me: “O dente de leite tem várias funções: guia de erupção do dente permanente, auxiliar na fonética, ação direta na mastigação e ainda tem importante função no crescimento ósseo da face”.
Um dia o dente cai, na família vira festa e vêm os conselhos:
1- Jogar o dente no telhado;
2- Fixar em pingentes das correntinhas de adorno;
3- Embrulhar num lenço e esconder sob o travesseiro para fadinha do dente vir bucar, a criança dorme, o dente some e aparece uma nota de dinheiro, arte do papai.
No folclore português (Fonte: Guilherme Santos Neves)
“É corrente de norte a sul do país [Portugal] a prática infantil do arremesso dos dentes de leite, ora para cima do forno ou do telhado, […] ou para algures, sem discriminação de local onde se atira o dente.” Tal gesto menineiro se faz dizendo a criança, no ato de lançar o dentinho, versos como estes:
Simão, Simão,
Toma este dente podre,
Dá cá um são.
Atiro p’ra trás das costas
Com este dente
P’ra que me nasça
Outro mais valente.
Mas algo está mudando.
Desde 2002 quando descobriram que existem células-tronco em todos os tecidos do corpo humano estão sendo desenvolvidos técnicas de estudos dessas células, para benefício humano com isso, de lá pra cá, vivemos dias de esperança.
Quem imaginaria que num dente de leite fosse possível encontrar meios de cura e tratamento de doenças?
Desde a década de 60 fazemos Transplante de Medula com sucesso, o que na verdade é uma Terapia Celular com células-tronco de medula.
O que sabemos sobre as células-tronco?
Diferentemente das células embrionárias que apenas desenvolvem os tecidos na evolução do embrião de forma contínua, as células-tronco desenvolvem as demais células e os tecidos do organismo produzindo também novas células-tronco.
O dente de leite, a pele, a gordura e os músculos, tem células-tronco.
Todos os dias ocorrem, morte e troca celular, fazendo a renovação das células em nosso organismo, assim é a vida!
Células mortas são eliminadas ou reabsorvidas no processo.
Com muita pesquisa novos procedimentos biológicos são descobertos para melhorar a vida das pessoas, sendo que a grande mudança está no atento olhar dos cientistas que buscam e fazem a diferença no campo científico.
Fato notável
Até pouco tempo os brasileiros, olhavam para fora do país para saber o que o mundo estava fazendo na área biológica, hoje o mundo olha para nós.
Recentemente no 3º Seminário Multiprofissional de Células Tronco do IPCTRON-SP, a Dra. Fabielle Russo da USP, apresentou um trabalho explicando os dentes de leite de crianças autistas, cuja polpa contém células-troncos que são cultivadas e pesquisadas, sem trauma de coleta do material, pois o dente cai, a mãe recolhe e envia refrigerado até o Centro Universitário, local da pesquisa.
O que se busca?
Diferenciais que possam indicar terapias futuras, onde a sociedade possa participar de processos científicos em andamento, aguardando com a prudência necessária até chegarem aos resultados.
Por isso, médicos, dentistas, pais e professores deverão estar em sintonia para coletar e enviar o material alvo da pesquisa, “o dente de leite”. Com protocolo em mãos, aguardaremos o desenvolvimento da pesquisa, para podermos ajudar.
Ao final do seminário foi sugerida a proposta do mesmo trabalho com dentes de leite de crianças diabéticas do tipo 1.
Bom para nós que vivemos dias de efervescência, sendo essa mais uma ferramenta de trabalho que breve poderá ser substituída, pois é a constante evolução que nos move para o progresso.
Antes disso, veremos ansiosos papais e vovôs aguardando a caída dos dentes de leite, dos filhos e netos, para levá-los onde a esperança floresce, ou seja, nos centros de pesquisa de nosso país.
Afinal vamos respeitar as potencialidades do inocente dente de leite.
Luiz Carlos Henrique
Biólogo e Profissional de Farmácia- Pós Graduando em Biologia Molecular e Criador do Serviço Diabetic Center.