Alimentar nove bilhões de terráqueos até 2050, sem que a demanda crescente torne os preços proibitivos e a produção devaste o ambiente e agrave as mudanças climáticas, é o grande desafio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), organismo responsável pela articulação multilateral dessa questão decisiva para a humanidade. Considerando a dimensão e complexidade da tarefa, foi muito pertinente a eleição do brasileiro José Graziano da Silva, ex-coordenador do “Fome Zero”, para o cargo de diretor-geral da agência, que assume posição cada vez mais destacada no conglomerado da ONU.
Trata-se do técnico e executivo certo, pelo currículo e entendimento do problema, cidadão do país síntese da equação da sustentabilidade, no posto mais adequado para promover uma nova política mundial relacionada à segurança alimentar. Muito antes de tomar posse, no início de 2012, Graziano já disse a que veio, diagnosticando com precisão os avanços que a FAO precisa empreender, como a melhoria do apoio aos países da África, ação política para reduzir as assimetrias regionais, maiores esforços para aliviar os impactos provocados por desastres naturais, ampliação de seu papel de consultora em setores como biocombustíveis e trabalho para eliminar barreiras comerciais.
Também será importante o atendimento à convocação do G20 no sentido de que a agência contribua, no âmbito das maiores economias do Planeta, para que haja mais transparência no mercado internacional de alimentos. Tal avanço, aliás, é coerente com uma das principais gestões da política externa brasileira nos últimos anos, no tocante ao aumento do poder de decisão daquele grupo, ante o antigo predomínio do G8. Por isso, foi muito estimulante observar a declaração da presidente Dilma Rousseff, de que dará todo apoio a Graziano em sua nova missão.
Com certeza, a principal ajuda que o governo brasileiro poderá oferecer ao nosso ilustre cidadão e também à população da Terra é a execução de uma política cada vez mais eficaz para a agropecuária nacional, que tem sido um exemplo de como é possível conciliar a cultura dealimentos com a proteção ambiental. Ademais, nossa produção é imprescindível para reverter os anúncios, da própria FAO, de consecutiva majoração da comida. Nesse contexto, temos posição privilegiada, graças ao avanço de nosso agronegócio, que deverá continuar crescendo em 2011. Em 2010, a sua exportação foi recorde, com vendas de US$ 76,4 bilhões, 18% maiores do que em 2009 (US$ 64,7 bilhões). As importações aumentaram 35,2%, passando de US$ 9,9 bilhõespara US$ 13,4 bilhões. Com isso, o comércio exterior setorial teve superávit de R$ 63 bilhões no ano passado, maior do que o do País como um todo (cerca de R$ 20 bilhões). Ou seja, sustentou o saldo positivo da balança comercial brasileira em 2010.
É inegável o significado de nosso agronegócio, que representa 27% do PIB do Brasil, 37% dos empregos e 42% das exportações, que conquistou 215 mercados internacionais, que é o terceiro exportador mundial, que obteve 84% de ganho de produtividade na soja desde 1990 e 122% no milho e registrou 950% de crescimento das vendas externas de carne de frango. Além disso, com a produção de biocombustíveis, em especial o etanol, o setor, por meio dos carros flex, retira 80 milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. É todo esse suporte e know how, junto com seu notável currículo, que Graziano leva à FAO para enfrentar a luta contra a fome do mundo!
João Guilherme Sabino Ometto
Engenheiro (EESC/USP), vice-presidente do Grupo São Martinho, vice-presidente da Fiesp e coordenador do Comitê de Mudanças Climáticas da entidade.