O Bárbaro Estado Islâmico

Novo ato de barbárie choca o mundo. E, desta vez, atingiu a comunidade cristã no Oriente Médio. Dia 15 de fevereiro, através de um vídeo, a imprensa internacional divulgou o assassinato de 21 cristãos egípcios na Líbia por membros do EI – Estado Islâmico. As vítimas foram seqüestradas na cidade de Sirte, no Norte da Líbia. A atrocidade foi condenada pelo Conselho de Segurança da ONU – Organização das Nações Unidas.

De acordo com um comunicado emitido pelas Nações Unidas, “este crime demonstra mais uma vez a brutalidade do EI, que é responsável por crimes e abusos contra pessoas de todos os credos, etnias e nacionalidades, sem olhar a qualquer valor básico da humanidade”. Ainda, segundo a ONU, “é sublinhada a necessidade da plena implementação da Resolução 2199, adotada em 12 de fevereiro, para cortar as redes de apoio do EI”. Esta medida visa bloquear o financiamento de grupos jihadistas (jihad significa empenho, esforço, luta pessoal na conquista da fé perfeita e mujahid refere-se a quem a busca) que obtêm milhões com contrabando de petróleo, tráfico de antiguidades e resgates pagos pela libertação de reféns.

No início do mês de fevereiro/2015 a ONU já havia condenado o EI. Naquela ocasião, acusava a organização muçulmana radical de vender crianças iraquianas raptadas como escravas sexuais, além de matar jovens, inclusive por crucificação ou os enterrando vivos. O maior número de vítimas está entre as minorias locais. Conforme o Comitê das Nações Unidas para os Direitos da Criança, meninos da seita yazidi e de comunidades cristãs, têm sido vítimas, mas as ações do grupo também atingem islâmicos. Há relatos de crianças que possuem problemas mentais, que foram usadas como homens-bomba; relatos de minorias que têm sido capturadas em vários lugares e vendidas no mercado como escravas, com etiquetas de preço. Em relatório, o comitê pediu para que autoridades iraquianas adotem todas as medidas necessárias para resgatar as crianças sob controle do grupo militante e processar os criminosos. O comitê exigiu que Bagdá tome atitude contra o recrutamento de menores de 18 anos em conflitos armados, afinal, é dever de um Estado proteger todas as suas crianças.

O Papa Francisco também condenou o morticínio. Ele disse “pouco importa que sejam católicos, ortodoxos, luteranos, coptas: isso não interessa aos seus perseguidores, que vêem apenas que eles são cristãos, porque o seu sangue é o mesmo, o seu sangue confessa o Cristo”. E completou: “Vamos avançar no ecumenismo, que é testemunhado no ecumenismo do sangue. Os mártires pertencem a todos os cristãos”. Cabe aqui lembrar que, em agosto de 2014, o jornal italiano “Il Tempo” noticiou que o serviço secreto israelense apontou o Papa tomando parte de uma lista de possíveis vítimas de atentados do EI por conta de sua liderança internacional, bem como pela Itália ser um centro de imigração, o que facilita a entrada de jihadistas, alem de se observar a existência de vários filhos de imigrantes nascidos em países europeus que agora optaram por abraçar o fundamentalismo muçulmano. Aliás, sabe-se que o nível de escolaridade entre as mulheres estrangeiras adeptas do EI é alto.

O EI surgiu neste novo cenário de conflitos no Oriente Médio, pós Primavera Árabe e Guerra do Iraque, como mais um grupo armado radical, de tendência sunita, contrário ao regime do sírio Bashar Al-Assad. Seu líder, Abu Bakr, uniu rebeldes entre iraquianos e sírios, contando com ex-combatentes do exército de Saddam Hussein. Povos que vivenciaram invasões e guerras civis. São inimigos mortais dos EUA, dos xiitas, dos curdos yazidis e também dos europeus, buscando a imposição de uma visão ultraconservadora do Islã. Desde junho de 2014 atuam em uma faixa entre Iraque e Síria, conquistando tribos e organizações armadas. A inteligência dos EUA calcula a existência de 20 a 30 mil membros do EI na manutenção de um Califado – governo religioso – na região que busca expansão.

É preciso, no entanto, tomarmos muito cuidado com o trato em relação aos muçulmanos a fim de evitar estereótipos. Com tantas manchetes desagradáveis envolvendo o Islã, acabamos por ocultar o que realmente deve ser valorizado nessa religião. Inclusive, de acordo com o Sheik egípcio Abdel Hamid Metwally, líder religioso da Mesquita Brasil, os radicais jihadistas não podem ser chamados de islâmicos. Ele diz: “aqueles que se autodenominam ‘Estado Islâmico’ infringem várias leis e contradizem preceitos fundamentais do Islã […] Não há nenhuma lei no Alcorão que dá aval a esse tipo de crime. Ao contrário. Deus disse:…quem matar uma pessoa inocente será como se tivesse assassinado toda a humanidade.”

Entretanto, os radicais cada vez mais têm sua atenção voltada para o Ocidente, tem a permanente pretensão de atacá-lo – vide atentados em Paris e na Escandinávia – e também acolher os seus cidadãos, muitos deles jovens, em oferta constante, que resolvem abraçar a causa do EI como perspectiva de vida. Dá o que pensar.  São Paulo, 19 de fevereiro de 2015

 

Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo

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