O ano novo político

Vem aí o novo “ano político”, o qual, para o bem ou para o mal, será dos mais decisivos para o Povo português.

Não apenas por causa das eleições presidenciais e das consequências do seu resultado, mas também por aparecer, ou não, solução para a saída da crise econômico-social com que a maioria dos Portuguesas se debate.
Inicia-se também um período anual que poderá culminar, ou não, com eleições para uma nova Assembleia da República.
Embora, seja qual for o seu resultado, não passará de mais do mesmo, se entretanto os situacionistas nos Partidos políticos tudo fizeram, direta ou indiretamente, para que o “seu” sistema político-constitucional, aquele que é o sistema “deles”, o sistema onde navegam instalados, não venha a sofrer as necessárias transformações urgentes.
Mudanças de fundo que a não suceder, também poderão iniciar um processo irreversível de novas alterações no figurino partidário até agora existente, pois os Portugueses estão fartos, estão cansados, quer do habitual rotativismo no poder, quer dos radicalismos à «esquerda» e à «direita», quer das sempre mesmas conversas.
Radicalismos à «esquerda», com os quais as pessoas já identificam os problemas sociais e de emprego que eles criaram, empurrando consentidamente as Empresas para a respectiva inviabilidade e alimentando utopias que, neste momento, até põem em causa o Estado Social e as próprias Liberdades cívicas.
Radicalismos à «direita», que também não souberam fugir a visões extremadas, agarrando-se e subvertendo-se às modas orçamentalistas externas, fazendo do funcionamento desintervencionado do mercado, a panaceia impossível para os males existentes, deixando o capitalismo de controlo mundialista esvaziar barato o que imprescindível ao Estado, escancarando fronteiras e assim também lesando a nossa economia, bem como igualmente pondo em causa o Estado Social.
Não me revejo em qualquer destes dois pólos desgraçadamente estabelecidos.Mas, estupefato, vejo todos os Partidos mergulhados no sistema político que definha cada vez mais, apesar das suas diferenças a não se conseguirem libertar de qualquer destes pólos assim radicalizados. Tem de haver solução.É impossível não existir alternativas para isto, embora sejam as próprias Instituições Europeias a também não saber sair do imbróglio.
E o “ano político” que agora entra, tem igualmente natureza de teste para a União Europeia, erradamente permeabilizada por terceiros, dado o neoliberalismo por onde se meteu, quer no relacionamento com as outras áreas do planeta, quer nos seus procedimentos interiores.
Mas a situação inusitada a que se chegou, anda erradamente a ser traduzida para os Portugueses, não só através das “análises” propagandeadas, que tudo cingem a explicações financeiras quando as causas são mais profundas, são sociais e culturais, por arrasto econômicas.
Com o sistema educativo que hoje temos, com a “informação” controlada e distorcida que por aí é transmitida, com a legislação que leva à insegurança de pessoas e bens, com a natureza do aparelho de Justiça vigente, e talvez outras situações a acrescer, é impossível regenerar a Economia e acertar nas soluções financeiras.
E, nisto, é que reside o “pecado original” do Estado português. Com um Povo sujeito escolarmente à mediocratização, massificado e enganado pela informação e ante estruturas jurídicas que não Lhe asseguram a eficácia, a proteção e a independência que se exigem ao Estado, torna-se absolutamente ridículo ver perorar tanto sobre finanças, ainda por cima ignorando o caráter instrumental destas, face ao lhe inerente primado da economia.
Por isso, o “novo ano político” que agora começa, ou também resolve estes problemas de fundo, que constituem o indesmentível ponto de partida para a regeneração da Economia, via seus instrumentos financeiros. Ou que a paciência exagerada dos Portugueses, o seu conformismo trágico, se prepare para tempos ainda piores.Lamento-o, porém mais nada posso fazer do que, em consciência, avisar e teimar que há alternativas para os radicalismos e impasses a que nos trouxeram.Já viram algum Povo que rompe com os seus Valores somáticos, históricos e culturais, que rompe com a sua Identidade em benefício do chamado “pós-moderno”, sequer partir de uma base sólida para conseguir ganhar os desafios que se Lhe apresentam?…
Alberto João Jardim
Atual presidente do Governo Regional da Madeira, Portugal, em artigo publicado no Jornal da Madeira, em 31 de agosto 2010.

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