No final do mês de janeiro, a cidade suíça de Davos recebeu a mais nova edição do Fórum Econômico Mundial – FEM, um encontro que se repete há anos. Para quem não sabe, ele foi criado em 1971, batizado com o nome de Fórum Europeu de Gerenciamento. Passado certo tempo, em 1987, por incluir em seus projetos a resolução de conflitos internacionais, alterou seu nome. De acordo com os organizadores, o FEM objetiva ‘auxiliar na solução dos problemas contemporâneos’ ao ouvir e debater temas importantes com líderes mundiais, investidores e empresários, incluindo também artistas e celebridades, envolvidos com causas humanitárias ou ecológicas. É uma organização independente e com fundo próprio. Nesta 46ª edição, que não teve presente a mandatária brasileira, Dilma Rousseff, substituída pelo ministro das Relações Exteriores, após um período de brilho aos olhos dos capitalistas internacionais, incluindo a premiação de Lula como ‘Estadista Global’ em 2010, os convidados pelo FEM 2016 falaram sobre as preocupações com o baixo índice de crescimento das economias desenvolvidas, o temor por uma nova crise recessiva como a recentemente ocorrida em 2008, o preço instável dos alimentos, a atual importância dos países emergentes – como Brasil, Rússia, Índia e Coréia do Sul –, o baixo crescimento da China, a queda do preço do petróleo, o terrorismo, os refugiados – só a Europa em 2015 recebeu mais de um milhão de pessoas em fuga de seus países de origem – e o tema que permeou as discussões em geral, causando destaque midiático: os efeitos da chamada ‘quarta revolução industrial’, a ‘fusão das tecnologias’. Falemos um pouco sobre este assunto.
A primeira revolução industrial, marco do capitalismo, aconteceu durante o século XVIII e trouxe a máquina movida a vapor; a segunda, ao longo do século XIX, apresentou ao mundo a eletricidade, o motor a explosão, o telégrafo, a cadeia de montagem. Esta etapa, durante o século XX, teve grandes desdobramentos, apresentando consumo massificado de bens e serviços, caminhando a passos rápidos em direção à terceira revolução, com a computação, a robótica e a internet.
Na virada para o século XXI se estrutura, então, o que chamam de quarta revolução industrial, com as descobertas, por exemplo, nas ciências dos materiais, na biotecnologia e na nanociência. Nanociência é uma área multidisciplinar com possibilidades imensas. Refere-se aos estudos e manipulação da matéria numa escala atômica e molecular, estruturas um milhão de vezes menores que a cabeça de um alfinete. Assim, aponta-se, com estes elementos, a partir das conquistas da realidade virtual, do tempo real, da cibernética, um mundo hiperconectado, com amplo uso da inteligência artificial, com as máquinas cada vez mais se aproximando do raciocínio dos seres humanos, exigindo cada vez mais estudo e aprofundamento científico. Por isso, pelo impacto produzido pelas transformações radicais, um assustador problema para governos e sociedade civil se apresenta: “gerir esta transição a médio prazo e criar uma mão de obra com competências para o futuro, […] desemprego crescente constante e desigualdades [ameaçam]”, conforme aponta documento do FEM. E sentenciam as autoridades organizadoras: mais de 5 milhões de empregos em todo o mundo vão evaporar e as novidades trarão “grandes perturbações não só no modelo dos negócios, mas também no mercado de trabalho nos próximos cinco anos”.
A tecnologia encanta pelos seus avanços e potencialidades. Contudo, fica claro que ela poderá ampliar o abismo existente entre ricos e pobres ou, melhor expressando, aqueles que têm educação e investimento em pesquisa, frente aos que não dispõem de recursos para o que é básico. Sua aceleração inexorável, ao mesmo tempo em que seduz, traz sérias perturbações para os destinos das nações no futuro não distante. Daí a importância da ampliação dos gastos em combate aos desequilíbrios ainda existentes entre as populações dos diversos países. É importante ter em mente que, hoje, 62 bilionários detêm patrimônio igual a 3,6 bilhões de pessoas pobres.
Vale destacar, assim, a mensagem que o Papa Francisco enviou aos poderosos participantes do FEM 2016 e, quem sabe, inspirará um mínimo de bom senso solidário planetário. Ele escreveu: “[é fundamental] dar vida a novos modelos empresariais que, ao promover o desenvolvimento de tecnologias avançadas, sejam também capazes de as utilizar para criar um trabalho digno para todos, apoiar e consolidar os direitos sociais e proteger o meio ambiente” […] “abrir os olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de muitos irmãos e irmãs desprovidas de dignidade”. E, considerando as possibilidades abertas por tamanha riqueza de recursos, completou o Sumo Pontífice “O momento presente oferece uma oportunidade preciosa para dirigir e governar os processos em curso e para edificar sociedades inclusivas, baseadas no respeito pela dignidade humana, na tolerância, na compaixão e na misericórdia”. Sem dúvidas, palavras de salvação. São Paulo, 8 de fevereiro de 2016.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo