Da Redação
O turismo foi um dos primeiros setores a sentir os impactos negativos das restrições impostas pela pandemia de COVID-19 e, não à toa, é também o que mais está se preparando para a retomada.
Redescobrir o turismo é um desafio comum a milhares de negócios afetados pelo novo coronavírus. E diversas iniciativas aparecem pelo país, como debater as potencialidades e gargalos desse setor, avaliando soluções para a superação da crise, que o Sistema Fecomércio MG, Sesc e Senac e Sindicatos Empresariais promove, de 20 a 23 de outubro, na 6ª Semana do Turismo.
De acordo com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), desde maio a procura por pacotes de viagens vem aumentando 20% por mês. A Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) confirma que o aumento iniciou. Pelos números da entidade, a expectativa já para 2021 é de que as agências fechem o ano com faturamento próximo de 70% do que houve em 2019, antes da pandemia.
Ainda de acordo com a Abav, as capitais nordestinas e outros pólos turísticos da região vêm recebendo grande demanda, além de Gramado (RS), Rio de Janeiro, Lençóis Maranhenses (MA) e Campos do Jordão (SP). “Gradativamente os turistas estão voltando. A procura por pacotes de viagens, particularmente de lua-de-mel, que ficou estancado por mais de um ano, está crescendo rapidamente”, revela Rodrigo Felipe, sócio-proprietário da agência Uma Viagens.
“O desejo de voltar a viajar é tão grande que nem o dólar e o euro em alta estão sendo obstáculo para os turistas. Há muita procura por destinos europeus e, claro, pelas praias brasileiras. Estamos projetando um grande aquecimento da procura para até o meio do ano que vem”, salienta.
Com as atividades turísticas suspensas no ano passado, uma agencia de turismo redirecionou sua energia para realizar pesquisas junto aos viajantes, buscar captação de recursos via editais e articular uma campanha com doação de mais de 30 mil reais para comunidades tradicionais em situação de vulnerabilidade, que ficaram sem a visitação habitual.
O cenário torna o turismo sustentável no Brasil uma opção viável de viagem, já que as comunidades tradicionais, como ribeirinhos e indígenas, já têm todos os adultos vacinados seguindo os grupos prioritários na imunização contra a COVID-19. Com a alta do dólar e as fronteiras reabrindo aos poucos, a retomada do turismo começa a atrair mais viajantes para destinos dentro do próprio Brasil.
“Primeiro porque as pessoas estão cada vez mais buscando experiências autênticas, uma viagem que não seja apenas de turismo convencional, mas que também ajude a preservar o meio ambiente e cause impacto positivo na vida das pessoas, das comunidades. Também há uma procura crescente por viagens que proporcionem uma conexão profunda com a natureza em seu estado puro, seja pela segurança de estar em locais abertos, seja pela necessidade de ar livre depois de um longo período de isolamento, mas também pelo reconhecimento coletivo de que estar junto à natureza gera bem-estar”, explica Daniel Cabrera, diretor executivo e cofundador da agencia Vivalá.
Volunturismo
Não bastasse a oportunidade de conhecer geograficamente novos lugares, uma modalidade de turismo que permite um contato profundo com o destino, sua cultura e população local com intervenções que ajudem grupos sociais desfavorecidos é o volunturismo.
O voluntário ou ‘volunturista’ que decide embarcar em uma expedição da Vivalá recebe um treinamento on-line para compreender a metodologia da agência, incluindo informações sobre biodiversidade, cultura local, contatos e sugestões do que deve ser levado na mala.
Por meio de expedições em diferentes regiões do Brasil, a Vivalá faz um mergulho na cultura local de comunidades tradicionais ribeirinhas e indígenas com a intenção de valorizar a vida humana por meio do turismo de base comunitária. No país com a maior biodiversidade do mundo, as experiências sempre acontecem em unidades de conservação, fortalecendo a mensagem de proteção ambiental.
Um dos diferenciais, além da própria imersão na cultura das comunidades locais, é auxiliar no empoderamento de pequenos negócios familiares. No total, são quase 200 empreendimentos como pequenas pousadas, restaurantes, canoeiros, artesãos, guias, confeiteiros, dançarinos, entre outros profissionais, que buscam solidificar suas iniciativas. O auxílio é baseado na empatia e escuta ativa, especialmente ouvindo o que essa população tem a oferecer em seu território.
Em 50 expedições de turismo sustentável, a Vivalá já soma mais de R$ 530 mil reais injetados diretamente nas comunidades e mais de 150 negócios locais de turismo de base comunitária mentorados em mais de 4.600 horas de voluntariado.
Para Daniel Cabrera, por meio do voluntariado é que se leva conhecimento para pessoas com pouco acesso à educação formal, ainda que tenham enorme sabedoria. “Queremos desenvolver a cadeia de fornecedores de turismo de base comunitária no país, criando pessoas cada vez mais preparadas para atuarem em seus negócios, gerando serviços de qualidade para os viajantes, disseminando sua cultura e gerando renda e qualidade de vida para suas famílias. Essa é nossa forma de promover inclusão, transferência de renda e empoderamento das comunidades: auxiliando em seu sustento, mas também trabalhando pela sua autoestima e independência”.
Ao final da expedição, a troca empodera tanto os moradores locais das comunidades visitadas quanto os próprios turistas. “Para preservar é preciso conhecer. É notório o sentimento de gratidão nos viajantes, após a viagem, por ter vivido algo intenso, ter ajudado a tornar a vida de alguém melhor e criado laços com os comunitários, o que vai além da mera relação de cliente ou de turista, mas uma relação de respeito, colaboração, construção coletiva e de amizade”, conta o cofundador da Vivalá.
Cinco destinos já estão confirmados para o segundo semestre de 2021, entre eles Lençóis Maranhenses; Aldeia Idígena Shanenawa, no Acre; Geoparque Seridó, no Rio Grande do Norte; Chapada Diamantina, na Bahia; Grande Sertão Veredas, entre Minas Gerais e Bahia; e Chapada dos Veadeiros, no Planalto Central.
Startup
Uma plataforma especializada em vendas de serviços de guias locais e experiências (tours & tickets) em diversos destinos vem crescendo nos últimos meses à medida que se conecta a cada vez mais turistas.
A startup – que há três anos contava com 244 guias locais cadastrados e hoje apresenta 6,5 mil guias no sistema – aumentou seu cardápio de serviços, incluindo experiências e tours virtuais no site desde o ano passado.
Em setembro de 2020, a iFriend passou a oferecer experiências para os viajantes em diversas cidades do mundo, quando começou com 50 opções de tours personalizados. Hoje, um ano depois, o site conta com 3 mil opções de passeios em franco crescimento, o que aponta um aumento de mais de 6.000% de atividades até então.
Iniciado em outubro de 2020, o Tour Virtual da iFriend foi criado com a intenção de promover os destinos e o trabalho dos moradores locais num período onde as viagens foram afetadas pela pandemia de coronavírus. Com agenda mensal divulgada previamente, os tours virtuais são gratuitos e exibidos no canal do Youtube da startup.
Um panorama diferente que faz parte do projeto é o live stream, no qual o guia vai andando pela cidade e mostrando as atrações ao vivo. Ao todo, são cerca de oito tours por mês com duração de 40 minutos a 1 hora cada.
Conectando turistas a moradores locais, chamados “iFriends ”, a plataforma oferece roteiros personalizados, elaborados pelos próprios guias e está presente em 152 países, com a expectativa de crescer ainda mais no pós-pandemia, atingindo novas cidades e, principalmente, turistas. Diferenciais estão relacionados à quantidade de guias que falam português e personalização dos passeios.
Medidas para retomada
Diante dos impactos da pandemia, foi realizada uma pesquisa com mais de 3 mil parceiros de acomodação da Booking.com em 20 países, para identificar tipo de ajuda necessária para que a indústria de viagens se recupere, além de quais preparativos as acomodações ao redor do mundo têm feito para garantir que estejam prontas para receber hóspedes.
Pensando na retomada crucial para a indústria, 77% dos parceiros globais concordam que mais medidas ainda são necessárias para ajudar a acelerar a recuperação, afirmando que há necessidade de normas internacionais mais consistentes quando se trata de recomendações e regras para viajar.
Além disso, muitos acreditam que os exames de detecção da Covid-19 continuarão sendo um requisito da experiência de viagem daqui para frente. Na verdade, garantir a segurança e a tranquilidade dos clientes é prioridade para os parceiros de acomodação, e 52% disseram que tornar obrigatória a apresentação de resultados negativos para o novo coronavírus na hora de viajar vai ajudar a acelerar a recuperação do setor.
Os parceiros de acomodação ao redor do mundo também querem ferramentas de marketing para ajudar a incentivar os consumidores a viajar: 66% concordam que a indústria precisará desenvolver estratégias de marketing inteligentes para atrair os viajantes de novo.
Passos fundamentais para se preparar para o retorno das viagens incluem 91% dos parceiros globais fazendo melhorias em suas propriedades. Um terço dos proprietários usaram o período da pandemia para repaginar o visual das acomodações, por exemplo: 34% atualizaram a presença on-line de suas acomodações ou tiraram novas fotos, e 33% reformaram os quartos para renovar a aparência do local.
A pesquisa encomendada pela Booking.com e conduzida entre uma amostra de parceiros de acomodação entrevistou 3.491 em 20 países e territórios, através de pesquisa on-line em fevereiro de 2021.