Novas espécies tornam Portugal referência na biodiversidade subterrânea

Da Redação
Com Lusa

Portugal está na lista de ‘hotspots’ mundiais de biodiversidade subterrânea graças ao trabalho liderado pela pesquisadora Ana Sofia Reboleira, que permitiu descrever mais de 54 espécies novas numa década, triplicando o número de espécies cavernícolas conhecidas no país.

A investigadora guiou nesta quarta-feira uma dezena de visitas a 47 metros de profundidade, mostrando daí a maior sala subterrânea conhecida no país – o Algar do Pena, na freguesia de Alcanede, concelho de Santarém – à cerca de uma centena de especialistas que participam na 24.ª Conferência Internacional de Biologia Subterrânea, a decorrer em Aveiro desde segunda-feira.

Na plataforma criada no interior desta gruta vertical (que desce até aos 82 metros de profundidade) encontram-se, em pequenas caixas, alguns dos “animais das cavernas” que podem ser vistos por quem visita a gruta e que estão disponíveis para experimentação, sendo a sua manutenção assegurada por alunos do agrupamento de escolas local, no âmbito do projeto “Citizens & Science”, orientados por Ana Sofia Reboleira.

“Portugal é um dos poucos sítios do planeta em que, numa cavidade, temos mais de 20 espécies adaptadas à vida cavernícola. Isto é muito raro. Há muito poucos locais no planeta com estas características”, afirmou.

No encontro que decorre na Universidade de Aveiro até sexta-feira, especialistas de todo o mundo debatem os impactos das alterações climáticas e das atividades humanas nos ecossistemas subterrâneos, cujas condições ambientais “muito estáveis” (ao longo do ano as variações de temperatura são muito reduzidas) estão “a enfrentar alterações incríveis a uma velocidade estonteante”, frisou.

Para Ana Sofia Reboleira, se “a biodiversidade vale por si só” e “não precisa de nenhum argumento para ser uma coisa válida”, também é verdade que estes organismos desempenham um papel fundamental na “purificação e manutenção da qualidade da água” subterrânea, que representa “97% dos recursos planetários de água doce disponível para o consumo humano imediato”.

“A nossa água para beber praticamente vem toda de fontes, de nascentes, de captações subterrâneas, e estes animais vivem dentro destas massas de água”, intervindo “nos ciclos e nos processos de reciclagem de matéria orgânica, de contaminantes, de bioacumulação e de remoção deste tipo de substâncias”, frisou.

“Cada vez vivemos períodos de seca maiores, cada vez as reservas de água são menores e a exploração de água maior. Portanto, se continuarmos a contaminar estas massas de água, sem perceber quais os impactos de todas as nossas atividades à superfície nestes ecossistemas provavelmente vamos enfrentar problemas muito mais sérios do que aqueles que já temos atualmente”, advertiu.

O Centro de Interpretação Subterrâneo da Gruta Algar do Pena (CISGAP) situa-se no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), estrutura do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas que tem instalada, desde 2014, a Estação Subterrânea de Monitorização da Fauna Cavernícola de Portugal Continental (Troglobiário), numa parceria com Ana Sofia Reboleira, professora associada da Universidade de Copenhaga, no Museu de História Natural da Dinamarca.

No CISGAP é feita a monitorização em cativeiro das espécies da fauna cavernícola que povoam as grutas de Portugal Continental.

“Aqui, temos a oportunidade única de termos um espaço em que os animais estão nas suas próprias condições” e onde, controlando algumas dessas condições, é possível fazer experimentação, salientou Ana Sofia Reboleira.

A monitorização, alimentação, verificação da evolução e estado de saúde dos organismos é feita por alunos dos 5.º e 6.º anos que frequentam o Clube do Ambiente do Agrupamento de Escolas Afonso Henriques, num projeto que no próximo ano letivo vai abranger os 1.400 alunos dos vários ciclos, no âmbito da flexibilidade curricular.

“A doutora Sofia está na Dinamarca, fala com os alunos por Skype (…). Eles é que estão próximos. É a terra deles e faz todo o sentido”, disse Helena Vieira, diretora do Agrupamento, sublinhando a formação dada pela investigadora e o apoio dos técnicos do PNSAC, bem como da autarquia, que disponibiliza o transporte.

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