Nova variante do vírus em Portugal não implica em mais restrições

Uma vendedora desinfeta as mãos de uma cliente durante a reabertura da Feira de Carcavelos, Cascais, 21 de maio de 2020. MÁRIO CRUZ/LUSA

Da Redação Com Lusa

A presença confirmada em Portugal da nova estirpe do coronavírus que provoca a covid-19 é recente e, embora seja mais contagiosa, não deverá implicar novas medidas e restrições, defendeu um pesquisador do Instituto Ricardo Jorge.

“A maior parte dos casos que estamos a identificar agora são casos do mês de dezembro”, disse o também coordenador do estudo sobre diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal João Paulo Gomes.

A nova estirpe, conhecida como a estirpe do Reino Unido, “já está em Portugal”.

“Não sabemos há quanto tempo, porque a maior parte dos casos que estamos a identificar agora são casos do mês de dezembro. Mas, há cerca de seis semanas, em colaboração com o Instituto Gulbenkian Ciência, fizemos uma espécie de rastreio” e “não encontrámos uma única amostra”, explicou o investigador, admitindo, no entanto, que podem já existir cadeias de transmissão associadas a esta nova variante.

Segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, foram identificados em Portugal continental 16 casos da nova variante do coronavírus recentemente detetada no Reino Unido.

Estes casos juntam-se a 18 outros na Madeira, segundo informações avançadas em 28 de dezembro pelo presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque.

A nova variante, mais contagiosa, foi sinalizada no âmbito da atualização do “Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 (covid-19) em Portugal”, desenvolvido e coordenado pelo Instituto Ricardo Jorge, em colaboração com o Instituto Gulbenkian de Ciência.

“Nós queríamos primeiro perceber se a estávamos a detetar [a nova estirpe] e agora já percebemos que estamos, não só em sede de chegada de passageiros ao aeroporto de Lisboa como também em produtos que vêm de outros laboratórios e via ARS [Autoridade Regional de Saúde] suspeitos por terem historial de viagem”, explicou.

No entanto, o rastreio realizado a meio de novembro passado, “com uma ótima representatividade geográfica”, mostra que “a circulação começou há pouco tempo em Portugal”, garantiu.

O fato de ser mais contagiosa não leva João Paulo Gomes a defender mais restrições ou medidas de confinamento.

“Julgo que não há medidas adicionais a serem tomadas. Há, acima de tudo, uma necessidade de cumprimento das medidas existentes”, defendeu, referindo que “esta variante não consegue ultrapassar as barreiras das máscaras mais facilmente que as outras variantes”.

Portanto, considerou, “se as pessoas mantiverem o distanciamento social e cumprirem as regras, usando máscara quando estão na presença de outras pessoas, estão relativamente salvaguardadas”.

O problema, sublinhou o pesquisador, é que “quando não estamos protegidos — por exemplo num restaurante ou quando estamos com a família em casa ou quando estamos com alguns amigos e baixamos um bocadinho a fasquia”.

“Nessas alturas, esta variante terá certamente, uma maior capacidade de se transmitir”, alertou.

A possibilidade de o número de infecções crescer muito nos próximos tempos é real, admitiu João Paulo Gomes, advertindo, no entanto, que estão várias situações a acontecer ao mesmo tempo.

“Vamos, com certeza, encontrar muitos mais casos nas próximas semanas. Até porque, os passageiros que chegam ao aeroporto com testes negativos não quer dizer que sejam negativos. Basta que tenham contraído a infeção um ou dois dias antes. Passados dois ou três dias começam com sintomatologia ou já passaram a alguém e não há nada a fazer quanto a isso”, explicou.

Além disso, Portugal está também a viver um período de algum ‘desconfinamento’, por ocasião do Natal de Ano Novo, “e isso está a implicar um aumento do número de casos também”, lembrou o investigador do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

Por isso, defendeu, “não temos qualquer evidência de que a presença da variante esteja a aumentar o número de casos”.

Para conhecer melhor “o peso desta variante do vírus no panorama nacional”, o Instituto Ricardo Jorge e o Instituto Gulbenkian Ciência vão fazer, nas próximas semanas e meses, “rastreios periódicos com base nesta sequenciação do genoma do vírus com uma elevada representatividade geográfica”, explicou João Paulo Gomes.

O investigador também não se mostra preocupado com a possível influência da nova estirpe na eficácia da campanha de vacinação que está a arrancar.

“Penso que a vacina garantidamente não está em perigo com o aparecimento desta ou doutras variantes”, considerou o cientista, explicando que “a resposta imunitária criada por uma vacina é muito complexa e muito completa. Envolve a geração de anticorpos contra muitos locais deste vírus, não apenas um ou outro onde esta mutação possa aparecer, mas também outro tipo de resposta imunitária que não tem a ver com anticorpos”.

Embora o aparecimento de uma nova estirpe de um coronavírus que provocou uma pandemia seja “sempre um motivo de preocupação”, as vacinas “foram muitíssimo bem desenvolvidas e não vão estar em perigo por este tipo de variantes que tem aparecido”, concluiu.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.835.824 mortos resultantes de mais de 84,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Portugal contabiliza pelo menos 7.118 mortos associados à covid-19 em 427.254 casos confirmados de infecção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Casos

Dezasseis casos da nova variante do SARS-CoV-2 (covid-19), recentemente detetada no Reino Unido, foram já identificados em Portugal Continental, indicou hoje o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

O trabalho desenvolvido e coordenado pelo Instituto Ricardo Jorge, já permitiu analisar 2.290 sequências do genoma do novo coronavírus, obtidas de amostras colhidas em mais de 65 laboratórios, hospitais e instituições de 199 concelhos.

Nesta nova atualização, foram inseridas mais 22 sequências com o objetivo de pesquisar a presença da estirpe recentemente identificada no Reino Unido, indica o Instituto Ricardo Jorge, em comunicado.

“Entre as novas sequências agora analisadas, provenientes de 13 amostras colhidas no aeroporto de Lisboa e nove amostras colhidas noutros locais, o Instituto destaca a deteção de 16 sequências da nova variante”, sublinha o texto.

A nova variante foi detectada pela primeira vez em dezembro no Reino Unido, um dos países europeus mais atingidos pela covid-19, com 75.024 mortes.

Esta estirpe já é responsável por 62% das novas infecções só na capital britânica, em Londres.

A rápida propagação do coronavírus, atribuída à nova variante, levou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, a avisar que poderão ser decretadas restrições mais rigorosas.

Em Portugal somaram-se hoje mais 73 mortes por covid-19 e 3.384 novos casos de infecção pelo novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

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