Mundo Lusíada
Com Lusa
O primeiro-ministro e presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, colocou em causa, na noite de 06 de maio, a credibilidade do plano macroeconômico do PS e sustentou que os socialistas não vão respeitar as regras da União Europeia.
Num discurso de mais de uma hora, na cerimônia de encerramento das comemorações dos 40 anos do PSD, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, Pedro Passos Coelho falou em tom irônico sobre o programa do PS, apontando, por exemplo, a descida da Taxa Social Única: “Ficamos a saber que é neutra, não custa nada, não sei porque é que a gente não fez”.
“[Os socialistas] conseguem com isto dizer, de forma muito simples, aquilo de que nós já suspeitavamos: é que simplesmente dizem o que não vão fazer. Não vão respeitar nem as regras, nem os compromissos, nem os objetivos que estão em vigor em nome de Portugal na União Europeia, porque não é possível fazê-lo”, defendeu o presidente do PSD, perante uma plateia cheia, entre eles Durão Barroso, Manuela Ferreira Leite e Marcelo Rebelo de Sousa, e muitas bandeiras e cachecóis social-democratas.
Passos Coelho afirmou que fez questão de ser ele a dar “as más notícias” nestes anos e homenageou e agradeceu ao “militante anônimo do PSD” pelo apoio que tem dado ao Governo com “convicção, muita entrega e espírito de sacrifício e muito amor ao seu país”.
Antes no dia 04, o PSD e CDS-PP reuniram dirigentes nacionais e distritais para tratar da estrutura orgânica da coligação para as legislativas com “sentimento de vitória” e remeteram para data “surpresa” a divulgação do seu programa eleitoral.
“Nós temos primado pela surpresa, portanto, vamos mantendo isto na base da surpresa, que tem sido bastante útil porque, por um lado, permite também que se evite algum tipo de especulação, e, por outro lado, julgo que temos escolhido datas bem simbólicas para fazer coisas interessantes, como foi o caso do 25 de Abril”, declarou o porta-voz e vice-presidente do PSD Marco António Costa.
PS
Em suas declarações, o secretário-geral do PS estimou que 95% das medidas do cenário macroeconômico socialista constarão no futuro programa eleitoral do partido e prometeu combater pela mudança do quadro institucional e econômico da zona euro.
Estas foram duas das posições centrais defendidas por António Costa em Lisboa, num debate no qual estiveram presentes alguns dos economistas que elaboraram para o PS o cenário macroeconômico “Uma década para Portugal”, assim como o ex-presidente do Novo Banco e membro do Conselho de Estado Vítor Bento.
“Se me perguntam se todas as medidas constantes no documento [cenário macroeconómico] vão estar integralmente presentes no programa eleitoral do PS a apresentar no dia 06 de junho, digo que sim em relação a 95% delas. Os outros 5% de medidas, na sequência do debate público e da discussão democrática no PS, ou serão calibrados, ou doseados ou alterados”.
António Costa referiu que as maiores críticas ao cenário macroeconómico do PS são dirigidas aos mecanismos conciliatório para a cessação do contrato de trabalho e à descida da taxa social única (TSU) de quatro pontos para empregadores e quatro pontos para trabalhadores (embora de forma temporária).
Na questão dos contratos de trabalho, o secretário-geral do PS considerou que a discussão tem tido muitas vezes como base “informações prévias” sobre o teor de trabalhos acadêmicos da autoria do coordenador do cenário macroeconómico, Mário Centeno, e não sobre aquilo que efetivamente está escrito no documento.
Na questão da descida das contribuições para a Segurança Social, António Costa disse que a discussão da medida proposta foi “contaminada” pelo debate travado há dois anos e meio, quando o atual Governo propôs uma descida da taxa social única (TSU) só para as empresas, que seria compensada pelo aumento das contribuições dos trabalhadores.
Nas suas respostas a perguntas formuladas por cidadãos presentes no colóquio, boa parte deles economistas, António Costa reiterou a tese de que o cenário macroeconómico do PS cumpre na íntegra as regras do atual quadro institucional da zona euro e reconheceu que os setores mais à esquerda estão a criticar o seu partido por, alegadamente, aceitar acriticamente as regras do pacto de estabilidade e do Tratado Orçamental da União Europeia.
“O nosso objetivo número um é virar a página da austeridade, sem colocar em causa a presença de Portugal na zona euro – objetivo esse que é conseguido com este documento, a que chamo plano A”, afirmou o líder socialista.
No entanto, Costa salientou logo depois que o PS não se conforma com as atuais regras da zona euro e que, se for Governo, bater-se-á por alterações. “Não renunciaremos à ambição de tentar continuar a alterar o quadro institucional da zona euro, quadro que já tem sido alterado nos últimos anos, quer ao nível da atuação do Banco Central Europeu ou da Comissão Europeia”, salientou o secretário-geral do PS.
No mesmo dia, António Costa também reiterou que não vai permitir a privatização total da TAP e que o seu governo “tudo fará” para a impedir. “Não permitiremos que a TAP tenha mais de 51% de capital privatizado. O meu governo tudo fará para impedir a privatização da TAP”, afirmou o líder socialista em entrevista ao canal de televisão TVI.
Na entrevista, António Costa disse mesmo “esperar que até às legislativas não seja tomada nenhuma decisão irreversível”. “É preciso travar isto”, insistiu.