Nos 40 anos do 25 de Abril, presidente diz que desafios do futuro vão além da dimensão orçamental

Sessão solene comemorativa dos 40 anos da revolução de Abril, na Assembleia da República ,em Lisboa, 25 de abril de 2014. MÁRIO CRUZ / LUSA
Sessão solene comemorativa dos 40 anos da revolução de Abril, na Assembleia da República ,em Lisboa, 25 de abril de 2014. MÁRIO CRUZ / LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

O Presidente da República declarou que os desafios de Portugal para o futuro “não se esgotam na dimensão orçamental”, destacando a questão do desemprego, a situação dos reformados e a valorização dos funcionários públicos.

“Portugal enfrenta hoje grandes desafios quanto ao seu futuro, desafios que não se esgotam na dimensão orçamental”, afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, no discurso na sessão solene do 40.º aniversário do 25 de Abril, que decorreu na Assembleia da República.

Apontando alguns desses desafios, Cavaco Silva elegeu o combate ao desemprego como “uma das prioridades da ação política”, pediu “uma atenção muito particular” para a situação dos reformados e alertou que reformar “a Administração não significa fragilizá-la num dos seus aspetos essenciais: a qualidade dos seus recursos humanos”.

O Presidente ainda recusou “a política de vistas curtas” ditada pelos taticismos, insistindo na necessidade de entendimentos políticos sobre as questões essenciais para o futuro do país.

“É tempo de abandonarmos a política de vistas curtas, ditada pelo taticismo e pelos interesses de ocasião. Precisamos de um discurso de esperança que mobilize os portugueses para os desafios que temos à nossa frente. Precisamos de professores motivados, investigadores empenhados, servidores do Estado valorizados, agentes culturais criativos, jovens empreendedores, uma comunidade de empresários e trabalhadores com espírito vencedor”, afirmou Aníbal Cavaco Silva.

Insistindo num ponto já recorrente nas suas intervenções, o chefe de Estado voltou a dizer que é difícil compreender que “agentes políticos responsáveis não consigam alcançar entendimentos sobre questões essenciais para o nosso futuro coletivo”.

“Sempre que estivemos unidos, estivemos mais próximos dos ideais de abril. Não é por acaso que o espírito de compromisso e de entendimento entre as diferentes forças políticas está na base das regras do sistema democrático consagradas na nossa Constituição. Não se trata de confundir a abertura ao compromisso com uma unanimidade de pontos de vista, nem com uma neutralização da dinâmica de alternância que é própria das democracias”, declarou.

Numa intervenção com cerca de oito páginas, com a primeira parte dedicada às conquistas de Abril, Cavaco Silva recusou também que o dia 25 de Abril tenha “proprietários” ou sirva de “arma de arremesso na luta política”.

“Sem prejuízo da natural diversidade de opiniões e do confronto de ideias que é próprio de uma democracia, os desafios que Portugal enfrenta atualmente são de uma tal dimensão que não se compadecem com uma prática política que faz prevalecer a crispação e o conflito”, vincou, reiterando que perante a dimensão dos desafios que se colocam a Portugal inteiro – e não apenas a um partido ou Governo em concreto – é preciso tomar “uma opção decisiva”.

“Ou persistimos numa visão de curto prazo, olhando para aquilo que nos divide, ou pensamos Portugal numa perspetiva de futuro, partindo daquilo que nos une (…) E Portugal só será um país mais desenvolvido se existir um esforço coletivo para alcançarmos um compromisso de futuro quanto aos grandes desígnios nacionais”, disse.

No 40º aniversário do 25 de Abril, dia que classificou como “um dos mais marcantes” da vida de todos os portugueses, o chefe de Estado deixou uma “saudação especial às Forças Armadas”, num referência que aplaudida pelas bancadas parlamentares.

“Nas alturas decisivas da nossa História, sempre souberam estar ao serviço de Portugal e dos portugueses”, disse Cavaco Silva na Assembleia da República, onde pelo terceiro ano consecutivo se registrou a ausência dos militares de Abril, que nesta manhã organizaram uma evocação a Salgueiro Maia no Largo do Carmo.

Igualmente aplaudida foi a referência de Cavaco Silva ao único critério existente num regime democrático para definir a legitimidade dos governantes: “o voto expresso nas urnas”. “É isso que distingue a democracia de uma ditadura. Foi isso que Portugal conquistou há quarenta anos”.

PSD e CDS-PP falam num novo tempo de liberdade

O PSD alegou que, 40 anos após o 25 de Abril, Portugal está a libertar-se “de uma ditadura diferente”, da asfixia financeira, enquanto o CDS-PP sustentou que o país está prestes a “resgatar a liberdade”.

Os dois partidos da coligação no Governo assinalaram o aproximar da conclusão do atual programa de resgate e apelaram à formação de compromissos num “novo ciclo” de um “Portugal renovado”.

Na sua intervenção, o deputado do CDS-PP Filipe Lobo d’Ávila, considerou que é altura de, “progressivamente, começar a corrigir as injustiças que o tempo do resgate causou” e apontou a “moderação fiscal” como uma necessidade, antes de defender a abertura de um “ciclo de compromisso”.

Por sua vez, o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, apelou à “convergência na diversidade” e dirigiu-se em especial ao PS, argumentando que “numa democracia madura nunca há ‘divergências insanáveis’ quando dois portugueses ou dois partidos debatem o futuro do país”.

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