Mundo Lusíada
Com Lusa
No Porto, o Sindicato da Construção denunciou a escalada de situações de “escravatura” de trabalhadores portugueses do setor, quer em Portugal, onde recebem 300 euros mensais, quer no estrangeiro, para onde são levados por “angariadores” e “redes mafiosas”.
Em conferência de imprensa no Porto, o presidente do sindicato, Albano Ribeiro, disse ter agendada dia 21 de agosto uma reunião com o secretário de Estado das Comunidades para alertar para a situação e para o seu previsível agravamento.
“As obras de pequena dimensão, na área da requalificação urbana, estão a aparecer como cogumelos em Portugal – e ainda bem – mas a escravatura vai aumentar porque se querem aproveitar de as pessoas não terem trabalho”, afirmou.
Segundo Albano Ribeiro, “muitos trabalhadores estão a ser chamados para trabalhar, mas a ganhar 300 euros, perdendo o rendimento mínimo e o fundo de desemprego que recebiam”.
Também a preocupar o Sindicato da Construção está atuação dos “angariadores de mão-de-obra” e das “redes mafiosas”, nomeadamente no distrito de Braga, que recentemente têm vindo a atrair centenas de trabalhadores para o estrangeiro.
De acordo com o dirigente sindical, aproximando-se o final de várias grandes obras ainda em curso em Portugal, como é o caso da autoestrada transmontana, estes angariadores aliciam trabalhadores a emigrarem para a Suíça, Luxemburgo e Bélgica, prometendo-lhes condições que, depois, não se concretizam.
“Os trabalhadores da construção estão a ser escravos no estrangeiro, para onde são levados por angariadores para várias obras, públicas e privadas, dizendo-lhes que vão ganhar 2.000 e tal euros”, disse.
Contudo, “quando chegam lá a triste realidade é outra e querem pagar-lhes 300, 400 ou 700 euros, e os trabalhadores não têm condições para ficar e são obrigados a regressar pelos seus próprios meios, até porque são países onde o custo de vida é muito elevado”. Já os que decidem ficar estão “a viver da caridade de emigrantes da primeira geração, que já lá estavam”, ou, mesmo, “a dormir na rua”.
Adiantando ter já denunciado vários casos à Polícia Judiciária, Albano Ribeiro revela que “alguns desses angariadores são antigos operários da construção, que conhecem os meandros da atividade” e que trabalham “de forma articulada” em várias regiões do país.
Braga é apontada por Albano Ribeiro como “a capital das redes mafiosas e dos angariadores de mão-de-obra”, pelo que o sindicalista defende que “a Polícia Judiciária deve dar particular atenção a este distrito”.
O dirigente sindical diz que estas situações têm vindo a aumentar “nos últimos dois meses”, afetando “centenas de trabalhadores”, e garante que “a tendência é para aumentar até aos milhares, se não forem tomadas medidas a curto prazo”, com uma “intervenção aos mais variados níveis envolvendo quer o sindicato, quer a ACT [Autoridade para as Condições do Trabalho], quer a secretaria de Estado das Comunidades”.
Segundo ele, é preciso dignificar o setor, já que a situação tem tendência para se agravar muito mais.