No Parlamento, PS pede solução estável à esquerda mas admite acordos de regime com PSD

A líder parlamentar do Partido Socialista (PS), Ana Catarina Mendes, discursa durante o debate sobre o Programa do XXII Governo Constitucional, na Assembleia da República, em Lisboa, 31 de outubro de 2019. TIAGO PETINGA/LUSA

Da Redação
Com Lusa

A líder parlamentar do PS considerou que os eleitores pediram para manter uma solução política à esquerda com estabilidade, numa intervenção em que admitiu acordos com o PSD em matérias europeias e de regime.

Ana Catarina Mendes transmitiu estas posições na fase de encerramento de dois dias de debate do Programa do XXII Governo Constitucional na Assembleia da República, momentos depois de o PS, através de uma interpelação, ter feito questão de apontar que nem PSD nem CDS-PP apresentaram qualquer moção de rejeição ao documento apresentado executivo.

“Os portugueses quando votaram pediram estabilidade política, reforçaram o Grupo Parlamentar do PS, fazendo dele o maior deste hemiciclo e confiaram que seriamos capazes de manter a solução política da anterior legislatura, independentemente da forma concreta que assuma. Há quatro anos a esquerda parlamentar esteve unida por uma solução construtiva e alternativa à austeridade”, salientou a líder da bancada socialista.

Neste ponto, Ana Catarina Mendes procurou desvalorizar o facto de o PS ter afastado agora acordos escritos com os seus parceiros de esquerda da anterior legislatura (Bloco de Esquerda, PCP e PEV). Pegou mesmo numa declaração proferida na quarta-feira pelo líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, na qual este dirigente bloquista lamentou a ausência de acordos escritos.

“Tudo isso são meras questões de forma, o essencial é saber onde nos posicionaremos no momento em que tivermos de optar por medidas que mudem a vida das pessoas, para lhes conferir maior dignidade e mais direitos”, contrapôs a presidente do Grupo Parlamentar do PS.

A líder da bancada socialista quis mesmo transmitir às bancadas à sua esquerda uma garantia: “Em nome do Grupo Parlamentar do PS vos digo que os deputados do PS têm vontade de continuar a trabalhar para uma maioria positiva de esquerda em Portugal e têm capacidade para encontrar soluções para os problemas que ainda subsistem”, declarou.

Apesar destes apelos à manutenção de um entendimento à esquerda, Ana Catarina Mendes fez também questão de defender que “há matérias que são de consenso nacional, das quais nenhum democrata se deverá excluir” e que, como tal, devem incluir o PSD e CDS-PP.

“Há matérias em que – penso nas matérias europeias, por exemplo, – é sabido que o PSD tem assumido uma posição europeísta que, esperemos, não abandone e é mais próxima da nossa do que as dos que veem na União Europeia uma ameaça. Assim é, também, em muitos temas como a Defesa Nacional, financiamento comunitário, descentralização e concertação social. Também nisto não há nada de novo. Já assim foi na última legislatura”, especificou.

No seu discurso, a presidente do Grupo Parlamentar do PS fez várias referências sobre a atual situação política do PSD e do CDS-PP, considerando que o país está perante “uma direita sem força anímica para reforçar o debate de ideias”.

“O PSD parece zangado com o PS, mas continua zangado com os portugueses. Na verdade, os portugueses também continuam zangados com o PSD, não esqueceram o que lhes fez durante os quatro anos em que governou”, disse.

Ana Catarina Mendes afirmou depois que o CDS “continua em estado de negação quanto à realidade”.

“Nem uma proposta nova e sempre a mesma critica que os factos desmentem, seja no aumento de impostos que sabe que não aconteceu nem acontecerá nesta legislatura, seja no crescimento econômico em que insiste em contrariar os números, seja no investimento nos serviços públicos!”, referiu.

Em termos programáticos, a presidente do Grupo Parlamentar do PS traçou uma linha de demarcação face ao PSD e CDS-PP.

“Que se desengane a direita, nós somos pelo Serviço Nacional de Saúde e somos pela saúde pública. E é na melhoria da saúde pública que colocamos toda a nossa energia. É ela a nossa prioridade das prioridades”, acrescentou.

Cheque em Branco

A coordenadora bloquista, Catarina Martins, assegurou que o BE vai assumir os “compromissos que contam”, mas recusou “cheques em branco”, avisando que um país justo não é obra de “equilibrismos parlamentares sem fôlego para grandes mudanças”.

Catarina Martins lembrou que a “clareza e cooperação maioritárias foram a grande força da última legislatura”, mas que apesar de nesta legislatura a situação ser outra, os bloquistas estão disponíveis para a negociação.

“Este é o mandato do Bloco de Esquerda de sempre, fiel a um programa claro, sem fuga aos compromissos que contam nem cheques em branco”, afirmou, desde de elencar as principais bandeiras com as quais o partido se apresentou a eleições, desde o investimento público, às questões laborais e à emergência climática.

A líder bloquista avisou que “um país mais justo não será obra de um ano, nem de dois, nem resultado de equilibrismos parlamentares sem fôlego para grandes mudanças”.

“Esse caminho não se fará sem incomodar quem hoje vive do privilégio. Esta legislatura precisa de uma determinação maior para responder pelo salário, pela saúde, pelo ambiente. É tempo de ser exigente”, concluiu.

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