Mundo Lusíada
com Lusa
O ministro português da Saúde pediu desculpas às vítimas da infecção por ‘legionella’, considerando que as mesmas devem ser objeto de uma reparação no âmbito da responsabilidade civil por quem tenha falhado. Subiu para cinco as mortes pela doença em Portugal .
Adalberto Campos Fernandes falava no parlamento, onde o Orçamento do Estado para 2018 na Saúde estava sendo debatido na especialidade.
O ministro começou por lamentar a quinta vítima mortal do surto de ‘legionella’ que afetou o Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, e afirmou que as vítimas são credoras de um pedido de desculpas “do hospital, das empresas responsáveis pela vigilância, da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo”.
O ministro subscreve o pedido de desculpas, “enquanto responsável pelo governo”, e acrescentou: “Tem de haver reparação no âmbito da responsabilidade civil por quem possa não ter feito aquilo que devia ter sido feito”.
O surto de ‘legionella’, que já infectou 50 pessoas, começou no dia 03 de novembro e Adalberto Campos Fernandes garantiu que o seu ministério tudo fará para que a origem seja identificada.
“Isto não serve de desculpas para que os hospitais e as empresas não estejam reguladas por uma legislação mais exigente”, disse, anunciando que na próxima quarta-feira a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) vão publicar orientações atualizadas e “mais exigentes” para estas situações.
O ministro recordou ainda que tanto a Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e o Ministério Público estão a acompanhar o caso.
A Comissão de Saúde da Assembleia da República decidiu, por unanimidade, ouvir no dia 29 um conjunto de responsáveis públicos sobre o problema.
Vão ser ouvidos no parlamento o ministro da Saúde, além da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, a administradora do Hospital Francisco Xavier, Rita Perez, e um responsável do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, disse à Lusa o presidente da Comissão de Saúde, José Matos Rosa.
José Matos Rosa referiu que após a audição do ministro da Saúde no parlamento, convocou uma reunião de coordenadores da Comissão de Saúde para discutir o tema da ‘legionella’, na qual estas audições foram decididas “com o acordo de todos os grupos parlamentares”.
A data de 29 de novembro foi escolhida tendo em conta que nessa altura já será conhecido o relatório pedido pelo ministro Adalberto Campos Fernandes, adiantou.
Matos Rosa frisou, no entanto, que o objetivo é também “fazer um ponto da situação em termos nacionais”, e não só discutir os casos ocorridos no Hospital São Francisco Xavier, onde já 50 casos foram diagnosticados.
Também em Viseu
Nesta segunda-feira, a Administração Regional de Saúde do Centro (ARSC) revelou que foi detectada ‘legionella’ ambiental numa colheita efetuada em meados de outubro no Centro de Saúde de Mangualde, espaço que mantém “a sua atividade normal”.
“O ACeS [Agrupamento de Centros de Saúde] Dão Lafões e os Serviços de Saúde Pública asseguram as medidas adequadas para a continuação do controle da situação, não havendo evidência de risco acrescido para a saúde pública, mantendo o Centro de Saúde de Mangualde a sua atividade normal”, informou a ARSC em nota enviada à Lusa.
Na informação, a ARSC recordou que, no âmbito do Programa de Vigilância e Controle do Agrupamento de Centros de Saúde do ACeS Dão Lafões, já tinha sido detetada, em 2016, ‘legionella’ ambiental nesta unidade de saúde, em análise feita pela Unidade de Saúde Pública (USP).
“A direção deste ACeS, em colaboração com o Departamento de Saúde Pública (DSP) da ARSC, desencadeou os mecanismos de controle habitualmente utilizados, nomeadamente a desinfeção da água da rede. Posteriormente, foram feitas novas análises com resultados negativos”, acrescentou.
De então para cá, o Programa de Vigilância foi mantido pela Unidade de Saúde Pública, que veio a detectar novamente ‘legionella’ ambiental na colheita efetuada a 19 de outubro deste ano.
“Foram, de novo, tomadas as medidas adequadas, nomeadamente a suspensão do funcionamento da rede de água quente, a interdição de utilização dos chuveiros e a desativação da rede em dois módulos terminais nos quais funcionavam alguns serviços que, dada a dimensão do Centro de Saúde, puderam ser transferidos para outras áreas”, informou.
Na nota enviada, a ARSC esclarece que uma vez que a rede instalada não tem retorno, pretende-se, com esta medida, “eliminar a estagnação de água nas partes terminais da rede, fator favorecedor da multiplicação da bactéria”.
A ‘legionella’ é uma bactéria responsável pela doença dos legionários, uma forma de pneumonia grave que se inicia habitualmente com tosse seca, febre, arrepios, dor de cabeça, dores musculares e dificuldade respiratória, podendo também surgir dor abdominal e diarreia. A incubação da doença tem um período de cinco a seis dias depois da infeção, podendo ir até 10 dias.
A infeção pode ser contraída por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água ou por aspiração de água contaminada. Apesar de grave, a infeção tem tratamento efetivo.