Ninguém discute ser a presidente Dilma uma mulher honesta e trabalhadora. Todavia, seu estilo autoritário de conduzir o país torna seu Ministério não um Conselho, mas um grupo de ouvintes de suas ordens. Sem nomes de expressão como nos Ministérios do passado, são seus colaboradores comportados executores, que jamais contrariam as determinações da comandante.
Talvez, o fato de ter, no passado, participado da luta armada, em movimento que algumas vezes assumiu facetas terroristas – com assassinato de inocentes, em atentados a bomba, em shoppings e supermercados – tenha incutido, no seu estilo de liderança, esta característica temperamental, detalhista e impositiva. José Dirceu, por quem nutro amizade alicerçada nas profundas divergências políticas e de estilos que sempre tivemos, mas com mútuo respeito nos debates de que participamos, talvez seja quem melhor definiu o espírito do guerrilheiro: “Sinto-me mais cubano, que brasileiro”.
Muitos dos que participaram do movimento foram treinados na mais sangrenta ditadura das Américas no século XX.
Creio que possivelmente, por este seu passado, é que a presidente se sinta tão atraída pelas posturas de seus colegas bolivarianos: o falecido Chavez, Maduro, Morales, Corrêa e Cristina, todos aprendizes de ditadores.
Tanto é assim, que permitiu a entrada da Venezuela no Mercosul, apesar de esse país não ter aceito, à época, a totalidade do acervo normativo do Tratado, e excluiu o Paraguai, que, na deposição do presidente Lugo, apenas cumpriu o que determinava o artigo 225 de sua Constituição, ou seja, o afastamento por mau desempenho, em processo límpido, claro, com apoio popular e sem qualquer uso de força, permitindo, inclusive, que o deposto, logo em seguida, concorresse ao Senado. O governo desse pais democrático não sofreu, nas ruas de suas principais cidades, grandes contestações por parte da sociedade, nem queda de popularidade, como a presidente Dilma tem experimentado, no Brasil. No Paraguai, não se controla o Judiciário, como na Venezuela, que não permite sequer recontagem de votos, numa eleição em que a ínfima diferença de votos a favor do candidato bolivariano eleito, justificaria que fosse feita, como ocorre nas verdadeiras democracias.
O certo é que a Presidente Dilma em virtude de suas simpatias bolivarianas, passou a seguir a política de seus colegas, tornando se acólita de Cristina, Maduro, Morales e Corrêa. E começa a colher os mesmos frutos, ou seja, baixo PIB, alta inflação, descontrole cambial, protestos populares e perda de competitividade internacional por força da má condução da economia, amarrada pelo Mersosul, impedida de fazer acordos internacionais, aceitando todos os desaforos econômicos de seus parceiros, violadores permanentes das regras do Tratado de Assunção.
No seu estilo autoritário, investiu no consumo e não no desenvolvimento empresarial, gerando inflação de demanda, no momento em que estimulou a baixa de juros.
Quando Irving Fischer definiu que a teoria do juro é determinada pela oportunidade de investir contra a impaciência de gastar, quis mostrar que quando se baixa os juros e estimula-se o consumo, a inflação é decorrência. E o mero consumo, sem investimentos em tecnologia e na indústria, tem vida curta.
Não sem razão o retrocesso econômico do Brasil, nestes dois anos e meio do Governo Dilma, foi notório, com a agravante de, prisioneira de seus colegas bolivarianos, ter feito o Brasil perder a autonomia e a liberdade na celebração de acordos bilaterais, que lhe permitiriam melhorar não só a performance da balança comercial, como, pelo menos, reduzir o dantesco “déficit” do balanço de pagamentos.
No modelo bolivariano, a máquina governamental cresce e sufoca o segmento privado, gerando pressão inflacionária que segundo, Steven Webb, foi o principal fator da hiperinflação da República de Weimar.
Ora, a única forma de combater a inflação com redução de juros, seria reduzir as despesas de custeio da máquina administrativa, algo que, no modelo bolivariano, é impossível e, no Governo Dilma, inaceitável. Tanto que tem 39 Ministérios.
Neste quadro em que o PIB decresce, a inflação cresce, o câmbio se descontrola, a máquina administrativa desperdiça, a balança comercial gera déficits e as contas externas se descompassam, causa espécie que a Presidente pretenda manter-se fiel aos ideais dos regimes bolivarianos e continue a não perceber que está levando o País a um fantástico retrocesso, sendo mais conduzida por seus parceiros do MERCOSUL, do que pelos interesses do Brasil.
Como cidadão que considera a presidente Dilma uma mulher honesta e trabalhadora, gostaria que tivesse humildade de raciocinar e, analisando o fracasso de sua política econômica, decidisse, definitivamente, liberá-la das amarras ideológicas e passasse a cuidar dos verdadeiros interesses nacionais, que não são, necessariamente, aqueles acalentados pelos seus amigos, aprendizes de ditadores. E que, para o bem do Brasil, mudasse o rumo de seu governo.
Dr.Ives Gandra Martins
Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UNIFMU, UNIFIEO, UNIP e das Escolas de Comando e Estado Maior do Exército-ECEME e Superior de Serra-ESG, Presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio e do Centro de Extensão Universitária – CEU – [email protected] e escreve quinzenalmente para o Jornal Mundo Lusíada.