Na Alemanha, lusodescendentes aprendem português para falar com familiares

Da Redação
Com Lusa

Quase 90% dos alunos de português na Alemanha dizem que querem aprender o idioma para poder falar com os familiares, revela um estudo realizado entre 2012 e 2015, com 45 alunos, em quatro escolas do país.

Na investigação, liderada por Fátima Silva, professora do ensino do português na Alemanha, 76% dos alunos confessaram acreditar que a língua poderá ajudá-los no futuro. As conclusões vão ser apresentadas durante o colóquio ‘O Ensino português na Alemanha no ensino básico e secundário – Que futuro?’, organizado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e pela Embaixada de Portugal na Alemanha, decorre em Estugarda.

“Trata-se de alunos bilingues ou plurilingues, porque além de falar português, falam também alemão e outras línguas que aprendem na escola. O alemão é a língua mais utilizada no seu contexto familiar, é aquela que surge com mais naturalidade e é, sem dúvida, a mais predominante. O português é muitas vezes usado especialmente com os pais ou encarregados de educação que não falam alemão. No contexto social, na escola, com os amigos, a ver televisão, a pesquisar na internet, predomina sem dúvida a língua alemã”, disse Fátima Silva, docente de apoio pedagógico no consulado de Hamburgo.

Os resultados surgem de um projeto de investigação de uma tese de doutoramento realizada na Alemanha e levada a cabo com a Universidade de Santiago de Compostela, em Espanha, com o título ‘Identidade linguística, motivacional e cultural de alunos lusodescendentes na Alemanha’.

“Queria conhecer melhor o meu contexto de trabalho, queria refletir sobre com que alunos trabalho, quem são os alunos lusodescendentes, como podia caraterizar a sua identidade linguística, que motivação é que eles têm para vir aos cursos de português e que identidade cultural estaria por trás destes alunos”, explicou.

A professora e investigadora destacou a grande motivação dos alunos que frequentam os cursos de português.

“Estamos a falar de um ensino que é opcional da parte da tarde, que faz com que eles venham à nossa escola, mesmo depois de um dia inteiro na escola alemã. Gostam de estar com o seu grupo de colegas dentro dos cursos de português e nota-se que a vontade deles em aprender a língua passa por depois poder comunicar com os familiares em Portugal ou com os familiares que estão aqui na Alemanha e não falam tanto alemão”, adiantou Fátima Silva.

Apenas 13% dos alunos confessou frequentar as aulas de português “porque os pais querem”, 47% disse estudar a língua “porque quer e porque gosta”, especifica o estudo.

No estudo foram usados três métodos para recolher os dados: “primeiro foi feito um inquérito sobre o perfil pessoal e linguístico aos alunos dos diversos cursos, depois foi-lhes pedido que criassem uma história digital sobre as suas raízes, e foram realizadas entrevistas aos pais que quiseram participar e aos avós que residiam na Alemanha”.

“A maior parte destes alunos já tinha nascido na Alemanha, cerca de 48% tinham mesmo dupla nacionalidade (portuguesa e alemã). Nos vídeos, como elementos identitários, apareciam normalmente a bandeira portuguesa, o mapa de Portugal, fotos das cidades portuguesas, a gastronomia, as famílias em festas, nas aldeias ou em casas. Culturalmente víamos o galo de Barcelos, ou atletas portugueses, clubes de futebol e também os ranchos folclóricos”, referiu Fátima Silva.

O colóquio ‘O ensino português na Alemanha no ensino básico e secundário – Que futuro?’ realiza-se nesta segunda-feira.

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