Da Redação com Jornal USP
Enquanto o dia da reinauguração não chega (7 de setembro 2022), o Museu do Ipiranga preparou três exposições, que entram em cartaz nesta sexta-feira, dia 20, nas estações Luz, Sé e República do Metrô de São Paulo.
Cada uma das estações vai receber uma mostra diferente. As exposições vão abordar a história do Museu Paulista, a formação da cidade de São Paulo e o quadro mais famoso do acervo do museu, Independência ou Morte, de Pedro Américo. As mostras são gratuitas e permanecerão em cartaz até 19 de junho, integrando a programação da Linha da Cultura do Metrô. O horário de visitação acompanha o de funcionamento das estações.
Segundo a professora Solange Ferraz de Lima, docente do Museu Paulista e curadora de duas das três exposições, as mostras têm características diferentes, mas seguem o mesmo princípio: divulgar as coleções do museu, que cobrem um amplo espectro da sociedade brasileira, do final do século 19 até o século 20, e os estudos de pesquisadores que fazem uso desses acervos para produzir conhecimento histórico sobre o Brasil.
Museu público mais antigo de São Paulo e também um dos mais antigos do País, o Museu Paulista passa agora a assumir como sede o Edifício do Ipiranga – a outra sede é o Museu Republicano Convenção de Itu, localizado em Itu, no interior de São Paulo. “Esse edifício não foi construído para ser um museu, mas para ser um monumento. Com uma arquitetura palaciana, ao longo de sua centenária história não havia espaço para as exposições e para a guarda das coleções. Para a restauração e ampliação, nós retiramos todas as coleções, que estão acondicionadas em espaços provisórios. A ideia é que o edifício pudesse, de fato, se tornar sede para as exposições do Museu Paulista”, explica. “Nós assumimos que a instituição museológica centenária é o Museu Paulista, que tem esse nome desde o século 19 e, em 1963, se tornou o Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mas a sua sede é esse monumento, o Edifício do Ipiranga”, reforça.
Sé – Na primeira exposição, na Estação da Sé, o público irá conhecer um pouco mais sobre o Novo Museu do Ipiranga através de informações sobre o seu projeto e novos espaços: 49 salas expositivas, um auditório para 200 pessoas, sala de aula e o Educalab (para atividades educativas), além da reativação do mirante, loja e café, que praticamente dobraram sua área construída. A mostra parte do Observatório da Obra, um pavilhão de dois andares que foi instalado nos jardins do Parque da Independência – onde fica o museu -, em outubro de 2019, para mostrar o andamento da reforma.
Essa exposição conta a história do próprio projeto, como ele foi pensado pelo escritório H+F, dos arquitetos Pablo Hereñú e Eduardo Ferroni, quais seus elementos mais importantes e seus desafios. “A ampliação que aconteceu na esplanada foi extremamente desafiadora do ponto de vista da engenharia, e o próprio restauro dos ornatos foi outro grande desafio”, conta a professora, informando ainda que foram montadas oficinas de estuque dentro do próprio canteiro de obras para dar conta desses restauros e refazer certos ornatos da fachada.
Há também imagens históricas do Edifício-Monumento – tombado pelo patrimônio histórico municipal, estadual e federal –, desde sua construção, no final do século 19, até os dias atuais. “É muito interessante ver como o museu foi um vetor para a expansão urbana do bairro do Ipiranga”, afirma. Além disso, diz a professora, mostra ao longo do período como o bairro cresceu, inclusive com o processo de verticalização a leste da região. O público vai poder comparar as imagens e observar esse contraste entre o Museu do Ipiranga ainda isolado, em 1890, e as transformações que acontecem até 1940 e 1950, pontua Solange. E adianta que parte dessa exposição no Metrô integrará a mostra Para Entender o Museu, que fará parte da reabertura da instituição, em setembro.
Luz – São Paulo – Território em Construção, presente na Estação Luz, propõe um mergulho nas paisagens da cidade desde o fim do século 19 até os dias atuais. Segundo a professora Solange, que também assina a curadoria dessa mostra, há alguns anos o museu vem investindo, de maneira significativa, em coleções de paisagens urbanas da capital paulistana. O passeio inclui as transformações de diversos cartões postais, como a Avenida Paulista, Pátio do Colégio, Avenida 9 de Julho (que comemorou 80 anos em 2021) e até locais que quase desapareceram, restando apenas resquícios, caso da Várzea do Carmo.
São imagens de Militão Augusto de Azevedo, retiradas de seu Álbum Comparativo da Cidade de São Paulo (1887), que mostram a preocupação do fotógrafo em registrar os melhoramentos da cidade imperial; do suíço Guilherme Gaensly, editor de cartões-postais que registrou a São Paulo que se expandia, mostrando os primeiros bairros planejados da cidade, à semelhança de Paris; e do alemão Werner Haberkorn, também editor de cartões-postais da Fotolabor – de quem o museu adquiriu uma extensa e “importantíssima” coleção, frisa Solange.
República – Já a Estação República recebe a exposição A Independência do Brasil na Tela: Imaginando o Grito do Ipiranga, que convida o público a pensar sobre a imagem mais icônica do episódio histórico. O quadro Independência ou Morte, pintado em 1888 por Pedro Américo, ganha uma reprodução de 3m x 1,70m, e incluindo informações sobre o contexto histórico, recortes da tela com detalhamento e esboços da pintura, além de conteúdo em vídeo sobre o restauro realizado entre 2017 e 2022. Trata, ainda, da polêmica em torno do quadro, mostrando como o artista se inspirou em outras pinturas históricas, um expediente comum na época. “Quando visualizamos uma imagem, devemos sempre lembrar que ela é fruto de uma construção”, comenta o curador da exposição e professor do Museu Paulista, Paulo César Garcez Marins.
Reinauguração
Museu do Ipiranga será reinaugurado com o dobro da área construída e 12 exposições com itens de acervo inteiramente restaurados. Com valor estimado de R$ 211 milhões, além do restauro do Edifício-Monumento, o projeto incluiu a modernização e ampliação do espaço que passa a ser totalmente acessível; 3.500 obras do acervo passaram por restauro e ganharão recursos multissensoriais nas mostras da reabertura.
Com a finalização das obras de ampliação e restauro do Museu do Ipiranga em setembro deste ano, o Brasil ganhará um dos mais completos e modernos museus da América Latina. Nos últimos três anos, o Museu passou por uma reforma que angariou o maior valor já captado entre a iniciativa privada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. A expectativa é de que, após as obras, o novo museu passe a receber entre 900 mil e 1 milhão de visitantes por ano. O custo da reforma é estimado em R$ 211 milhões – além dos recursos incentivados, há investimentos privados sem incentivo fiscal e também aportes públicos.
A obra é executada em duas grandes frentes: restauro do Edifício-Monumento e construção de um edifício ampliação. Na parte da ampliação, foi realizada uma escavação em frente ao prédio, na área da esplanada, que retirou 35 mil metros cúbicos de terra, o que equivale à capacidade de 2 mil caminhões. Com o novo espaço, de 6.800m², o Museu irá dobrar de tamanho. A expansão abrigará a nova entrada integrada ao Jardim Francês, além de bilheteria, café, loja, auditório para 200 pessoas, espaços e salas para atendimento educativo e uma grande sala de exposições temporárias. Pela primeira vez na história do Museu, a instituição estará apta a receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais, graças à instalação de ar-condicionado.
As tecnologias de prevenção contra incêndios estão integradas a um sistema inteligente de gerenciamento predial, otimizando processos de segurança, manutenção do prédio e conservação do acervo. Neste sistema inteligente, reúne-se o funcionamento dos sistemas anti-incêndio, iluminação, ar-condicionado, câmeras de segurança, elevadores e escadas rolantes. Esse sistema está ligado a dois geradores abastecidos a gás natural, não poluente e com baixa emissão de ruído.
Novas Exposições
No Novo Museu do Ipiranga, o público se deparará com 12 exposições – 11 de longa duração e uma mostra temporária. As de longa duração são divididas em dois eixos temáticos: Para entender a sociedade e para entender o Museu. A exposição de curta duração, denominada Memórias da Independência, estará aberta por quatro meses. O tema foi escolhido por estar diretamente relacionado ao ano de reabertura do Museu e ao bicentenário da Independência, e trará acervos de outras instituições brasileiras, especialmente do Rio de Janeiro e da Bahia.
No total, serão expostos 3.058 itens pertencentes ao acervo do Museu, 509 itens de outras coleções e 76 reproduções e fac-símiles. A maior parte dos objetos data dos séculos 19 e 20, mas há itens mais antigos, que remontam ao Brasil colonial. São pinturas, esculturas, moedas, documentos textuais, fotografias, objetos em tecido e madeira que foram conservados e preparados para fazer parte do novo projeto expográfico.
Os recursos multimidias serão outra importante forma de se relacionar com os visitantes. Ao longo das 49 salas expositivas, haverá mesas interativas com múltiplos recursos como textos, imagens, monitores audiovisuais e objetos táteis. Os objetos expostos serão integrados à arquitetura do edifício-monumento, criando um diálogo entre o que está sendo exposto e a construção palaciana inaugurada em 1895. As exposições contarão com 62 peças audiovisuais.