Da Redação com agencias
A Organização Mundial da Saúde, OMS, revelou nesta segunda-feira que pelo menos 100 novos casos diários da varíola M, ou mpox, são registrados na Europa.
Na atualização feita a jornalistas, em Genebra, o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, pediu “ação internacional” para conter a disseminação da infecção potencialmente mortal declarada uma emergência de saúde global.
Segundo ele, independentemente de se tratar da nova variante 1, por trás do surto atual na África, ou da variante 2, responsável pela emergência global em 2022 – não configura “uma nova covid”.
“Sabemos muito sobre a variante 2. Ainda precisamos aprender mais sobre a variante 1. Com base no que sabemos, a mpox é transmitida sobretudo através do contato da pele com as lesões, inclusive durante o sexo”, disse. “Sabemos como controlar a mpox e – no continente europeu – os passos necessários para eliminar completamente a transmissão,” disse.
“Mudança de comportamento, ações não discriminatórias de saúde pública e vacinação contra a mpox contribuíram para controlar o surto [em 2022]”, disse. “Mas, devido à falta de compromisso e de recursos, falhamos na reta final”, alertou,
Kluge explicou que o mundo pode e deve enfrentar o vírus em conjunto, tanto em nível regional quanto continental. Ele questionou ainda se será feita a escolha entre colocar sistemas em prática para controlar e eliminar a doença globalmente, ou entrar em outro ciclo de pânico e negligência.
Mais de 15 mil casos de varíola M e 461 mortes foram relatados no continente africano este ano. A alta corresponde a 160% em comparação com o mesmo período em 2023, enquanto as mortes aumentaram em cerca de 19%.
Recentemente um caso de clado 1b foi detectado na Suécia, aumentando a preocupação. Para ele, a forma como será respondido ao surto agora e nos próximos anos será um teste crítico para a Europa e o mundo.
Emergência de saúde pública global
Na África, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, disse atuar em apoio à OMS e outros parceiros nos esforços para conter o surto de varíola M considerado particularmente perigoso para crianças.
A maioria dos casos infantis tem sido relatada na República Democrática do Congo, RD Congo, havendo alguns casos notificados nos vizinhos Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.
De acordo com uma nota da agência, houve um aumento de pacientes em países como República Centro-Africana, Camarões, Chade, Nigéria, Libéria e Costa do Marfim também conhecida como Cote d’Ivoire.
A agência da ONU destacou sua equipe nas regiões da África Ocidental e Central e da África Oriental e Meridional está em alerta.
Conflitos, deslocamentos e surtos contínuos
Foi em 14 de agosto que a OMS declarou o surto uma emergência de saúde pública de interesse internacional na sequência de uma medida similar tomada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África no dia anterior.
A RD Congo é considerada o epicentro da atual crise, com crianças menores de 15 anos representando 56% dos casos relatados em todo o território. Até o momento estima-se que pelo menos 8.772 crianças foram infectadas e 463 morreram.
Para o diretor regional do Unicef para a África Ocidental e Central, Gilles Fagninou, o surto de varíola M acrescenta mais um fardo às crianças e famílias que já vivem em conflitos e deslocamentos contínuos, epidemia de cólera e poliomielite e desnutrição.
O especialista destacou evidências indicando que as crianças, especialmente as desnutridas ou afetadas por outras doenças, são as mais vulneráveis para contaminação e morte da variante em circulação, e apelou para que “a proteção do grupo seja a grande prioridade.”
A varíola M, antes designada como varíola dos macacos, é uma doença viral causada por um vírus transmitido aos humanos por animais.
A OMS destaca grandes ocorrências de casos em áreas de floresta tropical da África Central e Ocidental de onde são exportadas para outras regiões. Os sintomas são semelhantes aos observados em pacientes com varíola, embora menos graves.
Proteger crianças mais vulneráveis
A atuação do Unicef na RD Congo envolve o apoio ao governo num plano de preparação e resposta à varíola M focado em salvar vidas e proteger as crianças mais vulneráveis nas províncias de Kivu do Sul, Ubangi do Sul e Sankuru.
Entre as ações estão a comunicação de risco e engajamento comunitário no compartilhamento de informações sobre infecções, capacitação de líderes e trabalhadores locais e melhor promoção das medidas de proteção e segurança.
Na prevenção e controle de infecções o auxílio consiste em melhorar as capacidades dos higienistas, apoiando a descontaminação doméstica e fornecendo suprimentos de higiene para unidades de saúde.
Cerca de US$ 4,5 milhões para ampliar as intervenções
A atuação inclui em cuidados médicos e nutricionais com kits de saúde de emergência em unidades que tratam pacientes, instalando tendas para ampliar o espaço de tratamento e dando apoio alimentar para as famílias dos pacientes.
A oferta de apoio psicossocial inclui medidas para o enfrentamento do estigma e da discriminação.
A agência também analisa dados sobre surtos e apoia o compartilhamento de informações com parceiros e planos estratégicos baseados em evidências.
A agência precisa de cerca de US$ 4,5 milhões para ampliar as intervenções no país que já sofre com a falta de fundos para emergências associadas a surtos de doenças e conflitos em andamento.