Mundo Lusíada
Com Lusa
O Movimento dos Emigrantes Lesados (MEL) apelou a todos que subscreveram produtos comerciais do BES e querem reaver as poupanças a recusarem a proposta do Novo Banco, que consideram ser “inadmissível” e “vergonhosa”.
“Pedimos então a todos os emigrantes lesados para não assinarem os contratos enquanto o Novo Banco não propuser uma nova reunião”, lê-se no comunicado do MEL, em 01 de agosto, que surge numa altura em que foi tornado público que dois mil emigrantes, dos sete mil que reclamavam a devolução das suas poupanças, já teriam aceitado o acordo feito pelo Novo Banco.
Para o MEL, a solução apresentada “aos clientes emigrantes detentores das ações preferenciais Poupança Plus, Euro Aforro, Top Renda e EG Premium é inaceitável”.
Isto porque, segundo o movimento, o Novo Banco propõe que só daqui a dois anos haja uma parte da liquidez e apresenta produtos diferentes dos prometidos quando os clientes investiram no EURO AFORRO 10 e EG PREMIUM.
Aqueles produtos foram vendidos aos clientes como sendo “produtos de capital e juros garantidos” e agora são apresentadas, em alternativa, “produtos que são, por definição, arriscados”.
O MEL entende que os produtos que estão a ser sugeridos aos emigrantes não são compatíveis com o seu perfil de risco de investidor, que é de tipo conservador.
“É este mesmo perfil de risco que, desde o início, aquando da venda das ações preferenciais, não concordava com o risco financeiro das ações preferenciais dos 4 Special Purpose Vehicles (SPV) vendidas ao balcão como sendo produtos sem risco e de capital e juros garantidos”, recorda.
O movimento lembra que “o total da solução só atingirá (e nem é certeza, visto a natureza arriscado das obrigações, e se o Novo Banco ainda existir quando os clientes quiserem vender as obrigações) os 90% do capital inicialmente investido e só ao cabo de 6 anos”.
Para o MEL, esta proposta é “simplesmente inadmissível para pessoas reformadas, idosas com uma idade média de 70 anos e cansadas”. Considerando a solução “vergonhosa”, o movimento diz ainda que os gestores do Novo Banco têm pressionado os clientes e mentido, por alegadamente estarem a dizer que o MEL está a favor desta solução.
Fonte oficial do Novo Banco confirmou à Lusa que a instituição já chegou a acordo com dois mil dos sete mil emigrantes que subscreveram produtos comerciais aos balcões do BES. “A adesão à solução para os clientes emigrantes está a correr de forma muito positiva”, sublinhou a mesma fonte, adiantando que na sexta-feira, havia “2.000 propostas a clientes assinadas”, quase “um terço dos clientes”. Aos sete mil casos correspondem aplicações num valor global de 720 milhões de euros.
O Novo Banco começou a apresentar aos emigrantes, há pouco mais de uma semana, uma solução comercial, para reaver o dinheiro, investindo nos produtos Poupança Plus, Top Renda e EuroAforro e aguarda a aprovação da maioria dos sete mil clientes para avançar.
A situação dos emigrantes não é a única que o Novo Banco tem para resolver, depois da resolução do BES em agosto do ano passado. Segundo os últimos dados facultados à Lusa pelo Novo Banco, as soluções apresentadas desde outubro envolveram um total de quase 14.000 clientes e um valor aplicado de 2.120 milhões de euros.
Solução até às eleições
Também a Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC) espera que até às eleições seja possível encontrar uma solução “credível e moral” para o problema do reembolso do papel comercial do Grupo Espírito Santo. Em declarações à Lusa, o membro da direção da AIEPC, Nuno Lopes Pereira, disse que não vão abandonar as suas reivindicações até que seja encontrada essa solução, mesmo que o Novo Banco seja vendido.
“Não é vendendo o banco aos chineses amanhã ou depois de amanhã que este problema por si só vai-se atenuar, antes pelo contrário. É o início do nosso pedido mais formal e mais gritante em termos do que vai ser o Novo Banco que vai dali surgir. Vamos continuar em cima até que nos arranjem uma solução credível e moral”, disse Nuno Lopes Pereira, que recordou que, no dia 10 de agosto, vão assinalar o dia nacional dos lesados.
De acordo com este elemento da associação constituída em fevereiro, há “muita esperança de que até às eleições haja uma solução”, não só pelo fato de a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) ter dado “toda a razão” aos lesados, mas esperam também que “o Banco de Portugal se aperceba que, em termos jurídicos, fez algo de completamente ilegal, injusto e imoral”.
Um ano depois da resolução que partiu o Banco Espírito Santo em dois, a AIEPC apela “um pouco à moralização do Banco de Portugal que é todo-poderoso nesta questão”, apesar de ter assistido à continuidade de Carlos Costa no cargo de governador com “muita surpresa”.
“Toda a resolução enfermou de dois vícios: o primeiro de prejudicar o máximo número de clientes possíveis e a segunda de perdoar ao máximo de credores possíveis”, afirmou Nuno Lopes Pereira.
O BES, tal como era conhecido, acabou a 03 de agosto de 2014, quatro dias depois de apresentar um prejuízo semestral histórico de 3,6 mil milhões de euros.