Mundo Lusíada com Lusa
O primeiro-ministro defendeu neste dia 19 que a presidência do Brasil do G20 foi “um êxito”, ao apostar em temas como combate à pobreza e à fome, e considerou que a participação de Portugal contribuiu para “soluções mais consensuais e profícuas”.
Luís Montenegro falava em conferência de imprensa, no final da cimeira do G20 no Rio de Janeiro, cujos trabalhos Portugal integrou pela primeira vez como observador a convite da presidência brasileira.
“Combate à pobreza, combate à fome, aposta em maior soberania alimentar como condição para podermos ter mais igualdade, a contribuição para aproveitarmos o potencial da inteligência artificial, a preservação do clima, a responsabilidade que temos para com as futuras gerações, foi uma presidência que teve êxito, que teve sucesso”, afirmou, felicitando o povo brasileiro e o governo.
Montenegro desejou também felicidades à futura presidência do G20, a África do Sul, salientando que é no continente africano que se colocam de forma mais premente os desafios colocados na reunião pelo Brasil.
No balanço da participação de Portugal, o primeiro-ministro considerou que o país esteve sempre na “linha da frente” para que as conclusões da reunião pudessem “não só ser o mais consensuais, mas também o mais profícuas possível para os próximos anos”.
Além de integrar, como país fundador, a Aliança para o Combate à Fome e à Pobreza lançada pelo Brasil, Montenegro destacou a participação hoje, num encontro à margem dos trabalhos, com países como o Brasil, a Espanha, a Índia, a Itália e a Organização Mundial de Saúde sobre a utilização da inteligência artificial.
“É nosso propósito dotar a nossa administração pública dos instrumentos que a inteligência artificial nos proporciona para podermos ser mais eficazes a responder às solicitações dos cidadãos e também às solicitações das empresas”, disse, considerando que a cooperação hoje estabelecida é um instrumento importante de partilha de soluções.
O primeiro-ministro português salientou ainda a intervenção que fez na terceira e última sessão de trabalho do G20, dedicada às alterações climáticas e à transição energética, na qual disse ter partilhado o Plano Nacional para o Clima e a Energia e as metas do país para atingir a neutralidade carbónica até 2045, até 2030 conseguir uma redução de 55% das emissões face ao valor de 2005, bem como, até o final da década, poder ter 51% de energia renovável no consumo geral de energia em Portugal.
Neste tema, Montenegro disse ter havido curiosidade sobre o programa de Portugal de converter a dívida de alguns países no âmbito da cooperação externa em investimento climático, “na produção de ganhos, na proteção do ambiente e na promoção de energias renováveis”.
“Já está em funcionamento com Cabo Verde, está em vias de se começar a implementar também em São Tomé e Príncipe, e creio que a experiência que tive a ocasião de transmitir pode ser uma inspiração para que outros países no âmbito também das suas políticas de cooperação externa”, afirmou.
Montenegro disse ter ainda reiterado, perante os membros e países convidados do G20, a posição do governo português em colaborar “com todas as iniciativas no domínio da transição climática e energética associadas à preservação dos oceanos, da biodiversidade marítima”.
“Temos todo o interesse em aprofundar, como temos vindo a fazer com outros países, as formas de podermos, por um lado, preservar a biodiversidade marítima e, por outro lado, também aproveitar as oportunidades que no mar se abrem para a produção de energia”, afirmou.
Portugal participou durante este ano em mais de 100 reuniões do G20 a convite do Brasil, a nível ministerial e nível técnico, culminando com a cimeira de chefes de Estado e de Governo, no Rio de Janeiro.
Ucrânia
Mais cedo, o primeiro-ministro manifestou o desejo de que “não se vá mais longe do que já se foi” na escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia, dizendo esperar que não se passe “das ameaças retóricas para operações no terreno”.
Questionado sobre o decreto assinado pelo Presidente russo que alarga a possibilidade de utilização de armas nucleares, depois de os Estados Unidos terem autorizado Kiev a atacar solo russo com os mísseis de longo alcance, disse “em nome do Governo português é que vamos concentrar as nossas contribuições para que se criem condições para evitar qualquer escalada neste conflito, para um cessar-fogo nessa operação militar e para dar primazia á diplomacia”, disse.
“Sinceramente o que é o nosso desejo é que não se vá mais longe do que aquilo que já se foi e que as ameaças que põem em causa, não apenas a integralidade território ucraniano, mas valores muito altos de ofensa da dignidade humana possam ser apenas ameaças de retórica e não operações no terreno”, disse.
Montenegro defendeu que “é responsabilidade de todos os líderes não estarem a multiplicar respostas e contra respostas que não ajudam a resolver o problema, que não ajudam a resolver os problemas humanitários que as populações sofrem”.
Questionado se concorda com o Presidente francês, Emmanuel Macron, de que a declaração final do G20 ficou aquém na questão da Ucrânia, o primeiro-ministro admitiu que o fato de a Federação Russa também estar presente terá condicionado o texto final.
“Sendo a Federação Russa a parte principal de um conflito, eu acho que não é preciso fazer uso de nenhum irrealismo para poder concluir que o documento final não poderia ir muito mais longe do que aquilo que vai”, considerou.
Questionado se há alguma mudança na forma como a diplomacia portuguesa encara este conflito, Montenegro defendeu que, nos encontros bilaterais e multilaterais, Portugal continua a ser visto como “um construtor de pontes” neste e em outros temas.
“Se há coisa que eu posso garantir-vos em nome do Governo português, pouco mais de sete meses depois de ser investido na função de primeiro-ministro, é que a diplomacia portuguesa tem um crédito no contexto internacional que é muito significativo, somos vistos como um país moderado, como um país ponderado, como um país que ajuda a juntar e não a dividir”, frisou.
Segundo Montenegro, é com esse capital que Portugal continuará “a privilegiar as soluções de paz, as soluções de dissuasão do uso da força, da violação do direito internacional, da violação do direito humanitário, como instrumentos que são preponderantes para termos uma ordem internacional”.
Sem querer revelar pormenores do que passou dentro da reunião relativamente à Ucrânia, Montenegro disse que esta guerra, como a do Médio Oriente ou outros conflitos, são vistos como “contributos para agravar, agudizar o sofrimento daqueles que vivem com o drama da fome e vivem na miséria da pobreza”.
“Quanto mais guerras houver, quanto mais repercussões que essas guerras possam ter no abastecimento de alimentos, na criação de oportunidades de desenvolvimento social e econômico em vários pontos do globo, quanto mais dinheiro nós tivermos de gastar na guerra e não gastar na ajuda e na cooperação aos países que mais precisam, mais difícil será obter resultado naquilo que foi o propósito que, em boa hora, a presidência do Brasil, do G20, colocou em cima da mesa”, disse.