Monforte da Beira foi palco de um grande piquenique musical juntando músicos de todo país

Mundo Lusíada
Com Lusa

Monforte da Beira foi um grande palco da música tradicional portuguesa, onde se juntaram mais de 300 músicos, para celebrar o sétimo aniversário do projeto Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, cantando e dançando ao longo de todo o dia, num grande piquenique musical designado “À Nossa Beira”.

Foi no domingo que o piquenique musical duplicou a população da aldeia de Castelo Branco, juntando grupos de todo o país para preservar as tradições portuguesas no projeto “À Nossa Beira”.

Maria Gertrudes Garcia veio de Viana do Alentejo, juntamente com mais 16 elementos do Grupo Coral Feminino Etnográfico “Paz e Unidade” de Alcáçovas, trouxeram o cante alentejano até Monforte da Beira: “Soubemos desta iniciativa através da página do Facebook do projeto “A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria. É a primeira vez que cá estamos, com o cante alentejano”.

À volta de mesas corridas, onde os petiscos não faltavam, os 16 elementos do grupo entoaram algumas músicas tradicionais alentejanas.

“A música portuguesa tradicional estava um pouco esquecida, mas com a declaração da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), como Patrimônio Imaterial da Humanidade, penso que se voltou a olhar de outra forma para a música tradicional portuguesa”, disse.

Para chegar a Monforte da Beira, uma freguesia do concelho de Castelo Branco, o grupo teve que se deslocar até Lisboa e a partir daí, vieram de comboio até Castelo Branco, para seguirem depois de autocarro para o local onde se realiza o piquenique musical “À Nossa Beira”.

Já Luís Vergílio, responsável pelo Grupo de Percussão Batucando, do Montijo, trouxe 35 elementos para participar do evento que assinala o 7º aniversário do projeto “Música Portuguesa a Gostar Dela Própria”, do diretor artístico Tiago Pereira.

O responsável entende que a música tradicional portuguesa está novamente em crescimento: “Têm vindo a crescer com estes grupos”.

Participam grupos musicais de todo o país que trouxeram bombos e polifonia, gaitas de fole e cavaquinhos, mostrando a grande diversidade da música portuguesa.

“Sinto-me extremamente comovido porque percebo que o meu trabalho e o trabalho da música portuguesa chegam às pessoas. Temos aqui [Monforte da Beira] gente de Viana do Castelo que é muito longe daqui. Isto prova que as pessoas vivem o que faço e esta música”, afirmou o realizador e documentarista, que venceu o prémio Megafone 2010, com o seu projeto de recuperar tradições musicais portuguesas.

“O que estamos a fazer aqui é um movimento de cidadania. Não se paga nada. O que fizemos foi dizer, venham tragam o que quiserem, partilhem com quem quiserem e de repente vamos ter aqui gente de todo o país, bombos, adufes, cante alentejano, muita coisa que se junta por uma causa – Música Portuguesa a Gostar Dela Própria – e isso é muito importante”, explicou.

Tiago Pereira disse ainda que o projeto foi uma conquista ao longo dos sete anos de existência.

“Continuamos a fazer coisas. Temos muita gente a ver os nossos vídeos, temos um movimento muito grande. Mas acho que o maior reconhecimento de todos, que a música portuguesa alguma vez teve é hoje. Hoje é o maior reconhecimento”, sustentou.

A escolha para acolher a iniciativa recaiu em Monforte da Beira, no concelho de Castelo Branco, por várias razões, desde logo porque o realizador tem as suas raízes familiares na Beira Baixa.

“Os meus avós eram da Beira Baixa e eu, ultimamente, ando muito a gravar na Beira Baixa. Comecei em Vila Velha de Ródão e em novembro, vim aqui a Monforte e senti as ligações que tinha das minhas raízes. Como eu acho que a maior parte do país tenta fugir das suas raízes ou tem vergonha, achei que me podia aproximar”, explicou.

Além disso, fez um filme sobre adufes para a série documental “O Povo que ainda Canta” e veio descobrir o pandeiro, nome dado ao adufe em Monforte da Beira que é também tocado de uma forma diferente de outras regiões como Idanha-a-Nova.

Autarquias
Já a presidente da junta de freguesia de Monforte da Beira, Teresa Freire, diz que é com “muito orgulho” que apoiam o projeto de Tiago Pereira.

“Ele tem feito nestas aldeias da Beira Baixa e por todo o país, a recolha de todo um patrimônio imaterial que muitas vezes está esquecido. Este é também um trabalho de afetos junto de uma população envelhecida”, disse.

A autarca sublinhou ainda que, apesar de Monforte da Beira, ser uma aldeia pequena, tem muitos eventos musicais ao longo de todo o ano.

“Somos uma aldeia pequena, mas com muitas vivências e tradições, onde todo o povo se envolve à volta da música”, explicou.

O presidente da Câmara de Castelo Branco, Luís Correia, disse que esta é uma iniciativa integrada na estratégia e na politica cultural do executivo.

“Assenta também no eixo de dinamização das freguesias. É dentro disso que hoje recebemos aqui esta multidão à volta da música tradicional portuguesa. É um dia de festa e encontramos aqui gente de várias partes do país e tradições diferentes. Hoje Monforte da Beira é a capital da música tradicional e da música portuguesa”, concluiu

A ideia começou há sete anos e o projeto registou, em vídeo, clips e filmes de música tradicional feita em todo o país.

“Imaginemos um Youtube focado na música portuguesa do século XXI, onde todos os filmes têm a mesma estética e onde se procura aquilo que é mais raro e têm tendência a desaparecer e onde se grava as pessoas reais, tal como são, sem artifícios ou maquilhagem e ainda se pode ver a paisagem como algo em contínua transformação”, referem os promotores do projeto, na sua apresentação.

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