Da Redação
Com Lusa
Um projeto de uma associação do Porto trazido em 2015 do Brasil pretende alterar a forma como se fala da doença mental em Portugal, criou três grupos de comunicação e soma dezenas de apresentações na região norte.
Segundo a coordenadora, Natália Costa, os participantes são incentivados a “construir uma narrativa sobre a recuperação do problema de saúde mental, partindo da experiência de quem o viveu e dele recuperou, algo que é relativamente novo em Portugal onde há ainda uma lógica mais paternalista enraizada em que são os profissionais que normalmente falam do tema”.
Denominado “Vozes da Esperança” e criado no seio da Encontrar+se – Associação para a Promoção das Saúde Mental, o projeto “começou com um grupo de 10 pessoas com experiência de doença mental, oriundas de quatro instituições de prestação de cuidados de saúde mental da RARP-AMP – Rede de Reabilitação Psicossocial para Pessoas com Doença Mental da Área Metropolitana do Porto”.
Para além da Encontrar+se, juntam-se no “Vozes da Esperança” a Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares, Associação de Familiares, Utentes e Amigos do Hospital Magalhães Lemos e a Associação Nova Aurora na Reabilitação Psicossocial.
Natália Costa explicou à agência Lusa que o projeto “atravessou o Oceano Atlântico” pela mão de Cecília Villares, da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia, implantando-se no norte do país com “resultados muito positivos”.
Em outubro de 2015 “foram capacitadas 10 pessoas, que fizeram uma formação de quatro dias para poderem partilhar a sua experiência de recuperação, juntando-se mais quatro em outubro de 2016”, revelou Natália Costa.
“Em setembro de 2016, com o apoio do Instituto Nacional para a Reabilitação, no contexto de uma parceria com o Gabinete Integrado de Serviços da Casa de Saúde do Bom Jesus, decorreram em Braga outras Oficinas de Capacitação, para dez pessoas e realizada por algumas das pessoas formadas em 2015 que integram o grupo”, acrescentou.
Uma vez formados, os grupos “passam a funcionar em duplas”, fazendo as apresentações “num formato muito específico”.
Escolas do ensino básico e secundário, universidades de serviço social e psicologia e ainda iniciativas dirigidas a alunos de medicina, bem como a outras pessoas com doença mental e familiares/ cuidadores”, receberam já a visita de duplas.
“Até aqui, algumas delas viviam sem contactar com o exterior, sem objetivos e perceberam ser este o caminho que querem seguir, fazer esta partilha, sentindo-se valorizadas pelo seu trabalho”, disse Natália Costa.
E acrescentou: “Algumas das pessoas que se juntaram a nós em outubro de 2015 estavam desempregadas e, um ano volvido, conseguiram encontrar um emprego, algumas graças aos contactos que estabeleceram no seio do grupo”.
A coordenadora revelou à Lusa ter recebido “pedidos de pessoas que conhecem o projeto e que colocam a possibilidade de integrar o grupo Vozes de Esperança”, salientando, no entanto, ser uma “decisão que leva algum tempo a tomar devido à necessidade de assumir publicamente a doença”.
“Ainda não temos datas, mas a ideia é realizar novas sessões logo que tenhamos financiamento para esse efeito”, sublinhou a responsável que conta com a ajuda de dois elementos da primeira oficina de capacitação no trabalho de coordenação do projeto.